34| Reencontro sombrio

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A porta se tranca com um som.

Encostada na madeira fria, ainda estagnada em meu lugar, encaro a janela do meu quarto.

Eu consigo.

Ando devagar até o meio do quarto, agora com a luz do banheiro acessa, clareando os móveis. 

Respiro fundo e levo dois dedos até a nuca.

Por favor, que eu não esteja ficando maluca.

ㅡ Sei que está aí. ㅡ minha voz sai baixa e rouca. Arrastada pela exaustão repentina que havia se alojado em minha alma. ㅡ Preciso conversar com você.

Nenhuma resposta ou sinal da criatura.
Estou tremendo, e só percebo isso quando  aperto a tatuagem na nuca.

Meu coração acelera e meu peito sobe e desce, espera do algo ou não. Não,  eu não queria que ele aparecesse. Que fosse mentira isso tudo.

ㅡ Por favor. ㅡ me sinto patética ao pedir isso. A entidade deveria estar rindo de mim agora, se ela ainda estivesse me ouvindo.

Fecho os olhos e trinco os dentes.

ㅡ Não pode simplesmente aparecer e depois sumir. ㅡ faço um grande esforço para manter a minha voz baixa.

Um grande silêncio se perdura, e não me sinto com medo, mas irritada e frustrada.
Muito frustrada.

ㅡ Onde diabos você est...ㅡ me calo assim que sinto algo frio tocar meu queixo.

O cheiro cítrico e de outro mundo preenche meu nariz, e o frio incomum arrepia a minha pele.

Ele está aqui.

ㅡ Abra os olhos, Marie.ㅡ a criatura sussurra, inclinando meu rosto para cima como se para me ver melhor.

A criatura está aqui.

Criatura? ㅡ uma risada baixa e grossa faz meu estômago pesar.ㅡ Já recebi muitos nomes, mas esse realmente foi ofensivo. 

Me sinto tensa.

E como eu deveria chamá-lo?, não consigo falar em voz alta.

Abra os olhos, Marie.

Não.

Se arrependeu?

Sim.

ㅡ Abra. Os. Olhos.ㅡ aperta levemente meu queixo.

Ele inspira fundo, percebo.
Sinto seus dedos acariciarem minha mandíbula.

Está com medo? ㅡ faço que sim com a cabeça. ㅡ Eu já a machuquei?

Sim. Não. 

ㅡ É você quem me perturbou todos esses meses.ㅡ minha voz finalmente sai.

A carícia em minha bochecha para.
Eu o irritei?

ㅡ Não.  ㅡ responde, voltando a acariciar minha pele de maneira preguiçosa. ㅡ E eu não tive intenção de pertubá-la. Se refere ao quê?

Devagar, abro um pouco meus olhos.
A luz do banheiro havia se apagado, é a primeira coisa que noto, e o quarto estava envolto de uma névoa escura.

Pisco.

ㅡ Onde está você? ㅡ franzo o cenho ao não enxergá-lo. Não havia nada se não escuridão e o seu toque invisível em minha bochecha.

Me And The Devil ( Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora