Capítulo VII

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— Wyllan, eu…

Sinto algo bater diretamente contra meu rosto, não sei dizer direito o que era, talvez algum tipo de vegetal devido a textura pegajosa do líquido que veio a seguir, deixando minha suja e meu cabelo todo grudento e pelo cheiro, devia estar podre há vários dias.

Wyllan claramente se assustou com o ataque repentino, ele se levantou parecendo uma besta enjaulada procurando pelo responsável que fez isso, para piorar, ninguém ali teria coragem de dizer quem foi, afinal todos eram cúmplices.

— Ou o culpado aparece agora, ou essa festa vira um enterro. — Respiro fundo e uso as costas das mãos a fim de tirar aquela meleca da minha cara, enquanto ouço os grunhidos de Wyllan e dos outros alfas ao redor.

— Wyllan, volta aqui. — Eu não tinha saco para esse besteirol todo, ainda mais com o risco de alguma morte acontecer e tudo ser culpa minha, pois ele pode fazer o que quiser, mas quando descobrirem os motivos, a retaliação pode cair no meu colo.

— Não sem algumas cabeças rolarem primeiro. — E ele falava sério, até demais. Termino de me limpar usando alguns panos jogados na mesa e seguro Wyllan pelo pulso, fazendo sua atenção voltar para mim.

Embora eu tentasse manter a seriedade, seu rosto expressava o mais puro ódio, além dos dentes amostra, orelhas levantadas e sobrancelhas arqueadas, suas pupilas diminuíram tanto que desapareciam quase por completo na íris, meu coração estava descompassado e a vontade que eu tinha era de gritar, porém mesmo assim, consigo acalmar minha respiração lentamente.

— Por favor, eu não me importo com isso, é só uma roupa. — Por sorte, consigo fazê-lo baixar a guarda e logo voltamos a nos sentar, os ânimos continuaram daquela forma por minutos, porém eventualmente se acalmaram, ou quase.

Meu apetite desapareceu, aquela sujeira infestou todo meu traje e se eu continuasse com ele, provavelmente diriam que estou desonrando essa data tão especial com tamanho descuido, já Wyllan permaneceu alerta pelo resto do tempo e não queria tirar o olho dos lobos que passavam de um lado pro outro, esperando pelo próximo ataque — isto se realmente viesse.

— Wyllan, já disse que está tudo bem, não precisa fuzilar todo mundo que cruza seu caminho.

— Você mente. — Sinto minha visão pesar, a comida já tinha perdido o gosto e a música parecia mais uma orquestra repleta de ruídos. Ele tem razão, eu continuo mentindo só para sentir um pouco de alívio nessas ocasiões. — Quantas vezes foram?

— Todo ano, desde que eu era criança, isso acontecia. Foi ingenuidade minha achar que dessa vez seria diferente.

— Posso arranjar roupas novas pra você vestir.

— Obrigado, mas… nunca foi pela roupa, não importa com quem eu pareça, nenhum lado quer minha existência. — Me levanto pronto para tomar o caminho de volta pra casa, entretanto, sua mão bloqueou minha passagem.

— Fique, prometo fazer com que esse ano seja especial. — Ruborizo só de vê-lo sorrir, os dentes afiados não pareciam tão assustadores e tentar ignorar seus olhos se tornava uma tarefa mais difícil a cada relance, talvez… eu tenha encarado demais o abismo.

— E se eu negar? — Sorrio. Wyllan apesar de se silenciar naquele instante, sua resposta já estava óbvia.

Voltei à mesa ainda com aquele sorrisinho bobo no rosto, embora minha fome tenha passado, isso já não mais importava, a companhia dele era suficiente. As chamas crepitantes da fogueira pareciam mais interessantes do que todos aqueles lobos dançando ao redor dela, eventualmente, o tempo aparentava saltar em questão de segundos e assim como a brasa aumentava de tamanho conforme a meia noite chegava, um calor pertinente começava a surgir.

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