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Olivia

Ele não me contou para onde me levaria, mas ainda assim, entramos no carro e nos afastamos da casa.

- Ok, você escolhe a música dessa vez - eu disse.

- Tudo bem. Você pode escolher.

- Mas você nunca gosta das que eu escolho.

- Você deixou de ir pra faculdade pra cuidar de mim. Merece esse privilégio.

Coloquei "Cinnamon Girl" pra tocar e a música tocou fundo no meu coração, mas eu não podia deixar que isso transparecesse para Pedri. There's things I want to say to you, but I'll just let you live. Por quanto tempo as coisas que não dizemos podem nos assombrar? As minhas me assombravam a 20 anos.

- Eu soube que ela vem fazer um show aqui esse ano - Pedri quebrou o silêncio- A Lana Del Rey.

- É, ela vem.

- E você pretende ir?

- Sim, mas... Muita coisa pode acontecer daqui pra lá.

- Eu posso te arrumar um ingresso. E VIP. Pra não ter que se espremer com várias pessoas por um bom lugar.

Comecei a rir, deixando ele confuso.

- Tá competindo com o Gavi? Ele me deu um ingresso pra o El Classico e você agora quer me colocar no camarote do show da Lana?

- Eu só tô tentando ser um bom amigo.

- Um bom amigo iria comigo ao show.

Olhei pra ele, em uma súplica sincera, na esperança de que quisesse ir comigo.

- Você sabe que eu não posso. As pessoas comentariam-

- Eu sei. Sua promessa.

Ele desistiu da conversa, assim como eu. Ficamos calados por um tempo, até chegarmos a um drive-thru do McDonalds. Pedri sabia exatamente qual hambúrguer eu escolheria e fez o pedido pra nós dois.

Quando estávamos com nossos lanches em mãos, tomei coragem de perguntar.

- Para onde estamos indo, Pedri?

- Paciência. Você logo vai descobrir.

[...]

Alguns minutos depois, tínhamos chegado no topo de uma montanha, fora da cidade e assim que desci do carro, entendi porque Pedri tinha me levado àquele lugar. Do alto da montanha, era possível ver a cidade inteira e as árvores ali criavam o ambiente perfeito para um piquenique.

- O que acha? - Ele perguntou, sorrindo - Lindo, não é?

- Hm. Aceitável.

- Aceitável?

- Não posso elogiar demais ou você fica se achando.

Ele tirou uma coberta do porta-malas e estendeu no chão, e assim nos sentamos para aproveitar nossos lanches.

- Lembra do ensino fundamental? - ele perguntou.

- Aconteceu muita coisa naquela época, vai ter que ser mais específico.

- Aquela vez em que você estudou comigo pra prova de matemática e ainda assim eu me saí mal.

Eu lembrava bem desse dia. Pedri tinha ficado arrasado e eu também, acreditando que deveria tê-lo ensinado melhor.

- Aquilo foi difícil pra nós dois.

- Mas teve uma coisa que ajudou.

- A professora particular que seus pais contrataram depois?

- Não, não. Quando eu recebi a nota, fiquei tão envergonhado que saí da sala chorando. Mas você foi atrás de mim, lembra? Me abraçou e disse que tudo ia ficar bem. Éramos só crianças de 10 anos, mas as suas palavras me acalmaram.

- Onde quer chegar, Pedri?

- Quando eu perdi aquele gol no último jogo... - ele abaixou a cabeça - foi difícil. Humilhante, eu diria. Mas quando... quando eu saí do vestiário, você estava lá. E foi como ter 10 anos de novo.

Encarei ele, incrédula.

- Você... tá lembrado que quase me proibiu de ir pra esse jogo, não lembra?!

- Olivia, por favor, eu tô tentando me redimir aqui.

- Ok, continua.

- Eu quero você por perto. Quero te ver no fim dos jogos bons e comemorar com você e no fim dos jogos ruins, pra te abraçar. E estou até disposto a ser mais flexível em relação à minha promessa porque a sua presença é a melhor coisa possível. Eu só não gosto da ideia de você ter ido lá por causa... por causa do Gavi.

- Então o Gavi é o problema?

- Eu sou o seu melhor amigo, eu me importo com você, mas eu não sei o que o Gavi quer. Isso me preocupa, Oli.

Ele segurou minha mão e só então eu percebi que ele não só estava nervoso como ofegante.

- Quero te manter segura. Você consegue entender isso? Longe dos holofotes e dos aproveitadores, só você e eu contra o mundo.

Pedri me encarava como um cachorrinho perdido implorando que eu o levasse pra casa. E cada vez mais nada do que tinha acontecido nas últimas semanas fazia sentido. As coisas estavam diferentes entre nós e tudo só piorou quando eu comecei a sair com o Gavi. Nada disso parecia ter um significado coerente a menos...

- Pedri... Você... tá apaixonado por mim?

A pele bronzeada dele ficou branca e o brilho nos olhos desapareceu.

- Que? Eu... Não, é claro que não! Você sabe que nós somos só... amigos. Melhores amigos!

- Então todo esse ciúme doentio não tem nada a ver com você gostar de mim?

Ele soltou minha mão e me encarou sério.

‐ Olivia. Você sabe que eu não te vejo assim. Só quero te proteger.

Uma parte de mim sempre soube. Eu sempre havia dito a mim mesma que sempre seríamos só amigos, mas havia uma outra parte, tão minúscula que chegava a ser imperceptível, e ela me dava esperanças de algo a mais. Essa pequena parte de mim queria que Pedri Gonzalez me amasse e isso era humilhante e infantil, mas agora, tudo tinha ficado pior. E eu não esperava que ficaria tão triste em ouvir dizê-lo que não me via dessa forma, mas doeu tanto quanto um soco no estômago.

Mas nenhuma dor tiraria o meu orgulho de mim. Por isso segurei o choro e arrumei coragem para responder:

- Se você não quer me namorar, não aja como se fosse meu namorado. Eu já cansei dos seus caprichos e do quão dramático e possessivo você é, cansei dos seus sinais confusos, da sua promessa e da porcaria do seu carro!

Levantei e abri a porta do carro, sentando emburrada no banco do carona. Ele veio lentamente e pediu que eu abrisse a janela.

- Eu... pensei que tinha cansado do meu carro.

- Preciso dele pra ir pra casa!

- Ok.

E assim o nosso piquenique acabou, comigo insistindo que ele me deixasse em uma avenida perto da minha casa. Não houve uma despedida e nem mesmo consegui olhar para ele de novo.

Pedri Gonzalez era a pessoa que eu mais amava no mundo, mas naquele momento, era também a minha maior dor.

Visca Barça, Love PedriOnde histórias criam vida. Descubra agora