O primeiro pesadelo de Kelvin surge numa noite em que tudo parece estar tranquilo.
Naquela noite, a família de quatro pessoas foi jantar no horário de sempre, logo após Ramiro chegar do campo depois de um longo dia de trabalho.
Eles estavam bem agora; uma parte das terras de Antônio La Selva havia sido deixada para Ramiro após a morte do patriarca, surpreendendo a todos os envolvidos, e Kelvin, com o dinheiro das turnês, havia comprado o Naitandei e o transformado na casa de shows mais requisitada de Nova Primavera.
Com todo o conhecimento prático que obteve durante tantos anos trabalhando para os La Selva, não demorou muito para que Ramiro conseguisse ter lucro com a plantação nas terras deixadas para si, o que logo lhe permitiu construir uma casa bela e confortável para ele e Kelvin morarem. Além disso, também conseguiu finalizar os estudos básicos na escolinha da cidade com o apoio constante de Kelvin, que nunca o deixava desistir – até quando Ramiro se odiava, se achava um "jumento" e pensava que aquilo não era para ele.
Depois de um longo tempo de esforço mútuo para que aquela relação acontecesse, Ramiro e Kelvin – agora oficialmente casados, no cartório e tudo – finalmente eram conhecidos por serem um dos casais mais bonitos e unidos de toda Nova Primavera. Eles ainda ouviam absurdos de vez em quando, e provavelmente continuariam a ouvir pelo resto da vida, mas aprenderam a filtrar tudo e ficar apenas com as coisas boas.
Para Kelvin, o mais dificultoso foi mudar a reputação do Naitandei – não que ele se importasse muito com o que pensavam dele e do antigo bar, mas, do ponto de vista do seu bolso, havia sido uma pauta a se resolver. Depois que a casa de shows se estabeleceu em Nova Primavera, o próprio Kelvin se disponibilizava a se apresentar junto com Odilon, ou sozinho, quando tinha tempo entre uma viagem ao exterior e férias com o marido, afinal a carreira como Kelvin Star não havia sido interrompida por completo.
Contudo, após alguns anos de apoio entre si e crescimento mútuo tanto no trabalho quanto na vida pessoal, Ramiro e Kelvin perceberam que estavam prontos para um passo ainda maior no relacionamento. Foi depois de uma longa conversa – com direito a choro de ambos os lados e promessas de continuarem juntos para sempre – que eles decidiram dar entrada nos papéis de adoção para terem filhos.
Maria Flor, a primogênita, a luz dos olhos de Kelvin e Ramiro, entrou na vida deles com seus quatro anos de pura formosura, mudando tudo naquela casa e dando ainda mais cor às terras dos pais. E Roberto, ou Betinho e Robertinho, como Ramiro e Kelvin o chamam desde que o pegaram no colo pela primeira vez; aquela pequena criaturinha de seis meses assustando os dois com o seu tamanhinho e a possibilidade de machucar-lo com qualquer movimento um pouco mais brusco.
— Papi, papi! — Maria Flor, agora com seus oito anos sendo a menina mais bela desse mundo, bate na porta do quarto dos pais, onde Kelvin está terminando de tirar a maquiagem do dia. — O papai já chegou! — Ela avisa através da madeira e depois disso, Kelvin só consegue ouvir o barulho dos passos apressados da menina correndo para o andar de baixo, indo receber Ramiro como sempre faz.
Um sorriso cheio de amor aparece no rosto de Kelvin imediatamente, sentindo o peito se preencher de felicidade ao ver a sua menina sempre tão animada com tudo. Ele queria manter-la assim pelo resto da vida, queria que nada a fizesse chorar.
— Betinho? — Kelvin abre a porta do quarto de brinquedos e chama pelo filho mais novo, logo o encontrando debruçado sobre a mesinha de plástico, desenhando algo. — Vamo jantar, filho? Seu pai chegou. — Ele avisa e recebe um sorriso de orelha à orelha do menino, que larga o giz de cera sobre a mesa e corre para o colo de Kelvin.
— Qual é a comida, papi? — Robertinho pergunta no tom animado típico de uma criança de quatro anos, interessado apenas em saber se a refeição da noite será uma de suas comidas preferidas ou não.
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beautiful mess | kelmiro
FanfictionTudo estava bem agora. Kelvin e Ramiro se encontraram no meio de um mundo complicado e souberam cultivar amor, dos mais puros, nele. Anos se passam e a família cresce; e a vida segue como tem que ser... E estava tudo bem, sim, até que não estava mai...