Capítulo 73 - Lembranças

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POV Valentina Albuquerque

Vejo que tem três ligações perdidas da Luiza e fico puta comigo mesma de ter esquecido o meu celular no carro durante o tempo que estivemos no restaurante. Ela deve ter acordado e me ligado pelo horário da primeira ligação perdida. Mando uma mensagem me desculpando e perguntando como ela está. Mal cheguei e os desencontros já começaram e isso será inevitável uma vez que temos um fuso de cinco horas que distanciam as nossas rotinas, fora o oceano que está entre a gente e que nos impedirá na continuidade da nossa história que mal havia começado. Tento ligar para ela de volta, mas o celular cai na caixa postal. Sei que hoje é a folga dela e imagino que ela esteja aproveitando o descanso de alguma forma. No fundo tanto eu quanto ela sabíamos que isso ia acontecer, mas me parece óbvio que será muito difícil para ambas. Como vou conseguir me desapegar dela? Como fazer esse contato não se perder mesmo estando do outro lado do mundo? Simplesmente não dá para esquecer, desligar, arrancar do meu peito tudo que vivemos. Me jogo no sofá de barriga para cima e fico olhando pro teto tentando encontrar essas respostas sem chegar a qualquer lugar porque a verdade é que a gente vai ter que seguir em frente longe uma da outra e uma nova vida cheia de boas surpresas está a minha espera aqui na Itália. E o que ficarão, por hora, serão as lembranças.

Apesar do meu cansaço, me levanto e a primeira missão é organizar todas as minhas roupas e assim dou início a arrumação. Abro as minhas malas no meio da sala e vou colocando todas no sofá pra ver como farei isso, porque aqui meu espaço é muito menor do que eu tinha no Brasil. Lá eu tinha um closet só meu e lugar de sobra pra espalhar as minhas coisas. Faço uma pilha das minhas camisas e suspiro de saudade quando a camisa que a Luiza me deu "aparece" na minha frente. Minha cabeça automaticamente se teletransporta para a lembrança dela saindo do quarto de hotel e brincando comigo e dizendo que talvez tivesse alguma coisa pra mim na mochila dela. Incrível como todos os momentos que passamos juntas até os mais singelos foram especiais. Ela me fez feliz como nenhuma outra mulher me fez, disso eu tenho certeza. E em todos os sentidos porque com ela eu pude ser eu mesma com todos os meus defeitos, inseguranças, falhas. Ser livre para ser a Valentina de quem por muito tempo fiquei distante e quase me perdi. Mas a minha breve relação com a Luiza que é uma mulher íntegra, de caráter e coração lindos, me mostrou que nada e nem ninguém pode mudar a minha essência e que minha capacidade de amar segue inabalada. Sei que foi pouco tempo para que uma pudesse enjoar da outra e estávamos vivendo o auge da nossa paixão e senti realmente que ela me completa durante esse breve e intenso período.

Paro um pouco e deixo as pilhas de roupas espalhadas no sofá e vou até a cozinha beber um copo de água. Será que devo tentar ligar para ela novamente depois que terminar a minha arrumação? Conversei tanto com a Giovana e até com meu pai que é o meu maior confidente durantes esses das todas que antecederam a minha vinda para cá. Ambos me disseram que essa sensação de "desligamento" nos meus primeiros dias seria naturalmente desconfortável. Nós duas já havíamos criado uma rotina de nos falarmos todos os dias e isso acontecia duas ou até três vezes ao dia por mensagem e a noite quase sempre por ligação de vídeo ou voz. Além dessa ausência da Luiza no meu dia a dia que mal cheguei e já estou sentindo falta, é muita estranha a sensação de estar sozinha pela primeira vez na minha vida. Serei total responsável pelos afazeres de casa, pelas contas e por me manter longe de qualquer perigo ou risco. Não terei a proteção dos meus pais, os paparicos da Maria, os chamegos do Senhor Marcos e o colo da Dona Catarina que mesmo sendo muitas vezes de personalidade durona é a minha mãe. Não terei o Igor que foi sempre meu parceiro, mesmo quando eu parecia a pessoa mais perdida do mundo durante o meu último relacionamento, ele nunca me virou as costas, pelo contrário, se manteve ali por perto mesmo eu não merecendo. A minha base são eles, minha família é o meu grande tesouro e ficar longe deles não será fácil, por mais que eu tenha sonhado com a minha dependência desde que cheguei a maior idade. Pego os porta-retratos que trouxe em meio as minhas roupas com algumas das fotos que eu mais amo. Espalho todos eles nos poucos espaços que tenho no rack da sala. Quero deixar esse apartamento cheio da presença deles para que eu nunca me sinta totalmente sozinha. Da Luiza vou manter no privado, tenho várias fotos nossas no meu celular e assim elas permanecerão.

Será amor? (VALU)Onde histórias criam vida. Descubra agora