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|| BELLA ADDAMS

 Segunda-feira, 10 AM

 Respirei fundo pela centésima vez nos últimos 10 minutos e me encostei em uma parede de um comércio qualquer das ruas movimentadas de Manhattan.

 O suor escorria pela minha testa de forma irritante. Já estava andando há um bom tempo, entregando currículos em diversos comércios na esperança de ser contratada em alguma delas -Coisa que eu duvido que aconteça-.

 Estou totalmente fodida nessa vida, eu sou, ou melhor, eu era uma acompanhante de luxo desde meus 18 anos. Tudo começou quando eu estava desempregada e minha própria mãe recebeu dinheiro de um homem rico, que queria minha presença ao seu lado em um baile. Minha mãe fechou o "encontro" e recebeu o dinheiro do pagamento sem sequer falar comigo antes, quando descobri ela já tinha gastado todo o dinheiro e não me restou nada a fazer a não ser ir com ele.

 Essa mesma situação se repetiu por meses, até que eu consegui um emprego em uma sorveteria do bairro e comecei a juntar dinheiro, além disso, fiz mais alguns desses encontros como acompanhante de luxo sem minha mãe saber e consegui dinheiro o suficiente para me mudar para um pequeno apartamento. Achei que depois daquilo seria o fim para os encontros como acompanhante de luxo, mas estava enganada.

  O pouco que recebia da sorveteria quase não era o bastante para pagar as despesas que eu tinha morando sozinha, e como não há nada ruim que não possa piorar, fui demitida depois de derrubar sorvete numa cliente. Foi um acidente e eu me desculpei e até tentei limpar a mulher, mas ela era rica e esnobe e não desistiu até que eu fosse demitida.

 Depois de perder meu emprego, tive que voltar a ser acompanhante de luxo ou então teria que voltar a morar com minha mãe, e essa é a última coisa que eu iria querer. Não é tão ruim ser acompanhante de luxo, afinal é só ser bonita e sorri ao lado de um homem insuportavelmente velho e chato até o fim da noite, e em troca consigo uns 5 ou 10 mil dólares na noite e volto para casa feliz. Bem, pelo menos era isso que eu pensava. 

 No início eu gostei desse emprego, tinha a sensação de ser desejada e apreciada pelos outros e ainda conseguia ganhar dinheiro e aumentar meu ego ao mesmo tempo. Comecei a fazer faculdade de administração com o dinheiro que conseguia nos encontros, e de quebra ainda vivo confortavelmente em um apartamento mediano aqui em manhattan, e por mim estaria tudo bem continuar assim, se não fosse pela noite de terror que vivi com um dos clientes.

 Um dos clientes –o mais estranho, velho e mão de vaca de todos– tentou me sequestrar, e talvez eu tivesse até morrido se a polícia não tivesse chegado à tempo. Depois desse dia eu realmente percebi como era perigoso trabalhar com isso, e eu não acho que vale a pena pôr minha vida em risco por causa de dinheiro.

 Desde então, eu tenho vivido com as economias que ainda tenho guardadas no banco, e comecei a entregar curriculos por toda a ilha, a procura de um emprego que me pagasse o suficiente para cuidar das despesas de casa e da faculdade. O grande problema é que eu não tenho experiências, não há cursos nem nada relevante em meu currículo. Ainda não terminei a faculdade, então já é uma dificuldade á mais para conseguir um bom emprego.

  Me desencostei da parede e sequei o suor em minha testa, já tinha andado por inúmeras ruas hoje e estava absurdamente cansada e sedenta por uma bebida que aquecesse minha garganta. Avistei uma cafeteria do outro lado da rua, parecia ser um bom lugar para tomar um café e descansar um pouco, e talvez até pudesse deixar um currículo lá, como caixa ou algo assim. Não quero fazer assim como fiz ja sorveteria e acabar derramando café em um cliente, na verdade se eu fizesse isso seria processada, principalmente se o café tivesse quente.

 Respirei fundo mais uma vez e guardei os currículos dentro de minha bolsa, ficando apenas com um deles em mãos. Caminhei em passos apressados até a cafeteria, mesmo do lado externo já conseguia sentir os diversos aromas emanando do local.

 Ouvi o toque alto de meu celular em minha bolsa, indicando que estava recebendo alguma ligação, e comecei a procurar pelo objeto no meio dos papeis e entulhos dentro da bolsa. Senti um impacto atingir meu corpo e caí no chão, minha roupa estava meio úmida e pegajosa com um cheiro forte de café, que por sorte não estava quente. 

Maldito azar! A vida não consegue colaborar comigo por, pelo menos, uma única vez?

— Mais que merda! Olha por onde anda.— Uma voz masculina e agressiva –talvez um pouco sedutora– falou de forma rude. Ergui meu olhar para cima, vendo um cara alto, de terno chique –que abraçava seu corpo atlético, visível mesmo sobre a roupa– e com uma aparência estranhamente esnobe. Ele tinha a pele bronzeada, olhos de um azul frio; cabelo desalinhado, preto e liso, e seu nariz era estranhamente perfeitinho.

Não basta a vida me humilhar, ela tem que me humilhar pra um cara gostoso. 

 Respirei fundo, tentando trazer minha raiva de volta ao invés de ficar o encarando descaradamente. — Licença? Não sei se percebeu, mas foi você que esbarrou em mim! Idiota.— Revirei os olhos e levantei do chão completamente irritada. O homem tinha os olhos azuis fixos em mim, pareceu estar paralisado por uns segundos mas logo balançou a cabeça e agiu como se nada tivesse acontecido. Sua expressão era fria, não conseguia nem sequer deduzir no que estava pensando.

— Não teria esbarrado em você se não ficasse igual uma estúpida parada na porta da cafeteria.— Sua voz soou rude novamente, mas dessa vez parecia estar mais alta. Passei a mão pela minha blusa, tentando descolar ela do meu corpo. 

— Tá gritando por quê?! Não é culpa minha que você é cego. Não consegue enxergar as pessoas quando elas estão paradas? Você me sujou inteira e está completamente limpo e seco, não sei do que está reclamando. Sou eu quem tem que reclamar aqui!— Falei tudo de forma rápida, começando a me irritar cada vez mais. O homem me olhou de cima a baixo de forma irritantemente arrogante, mas que, de alguma forma, me deixou inteiramente arrepiada.—

— Tenho coisas mais importantes pra fazer do que desperdiçar meu tempo discutindo com uma maluca. — Ele falou com desdém, pegando um papel do chão, e então saiu da cafeteria me deixando ali suja e fodida. 

 Bufei irritada e revirei os olhos. Peguei meu currículo do chão, o enfiando de qualquer jeito dentro da bolsa e em seguida virei as costas e saí em passos pesados. Depois dessa merda não estava mais com sede alguma, e meu currículo já é ruim, imagina se eu chegar lá e entregar usando uma blusa toda suja e molhada, é capaz deles jogarem o currículo na minha cara ou me contratar como pano de chão. 

 Quem era aquele homem afinal? Ele é um babaca. Não preciso olhar muito para deduzir que deve ser um riquinho mimado, só a forma que ele me olhava já demonstrava que ele se sentia superior a mim.

 Idiota, mil vezes idiota.


Sweet LieOnde histórias criam vida. Descubra agora