Capítulo Cinco- Velaris

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Rezo para que um dia, o brilho das estrela ilumine meu caminho.

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A brisa gelada da noite beijou minha pele, um cumprimento e um sussurro de um bem-vinda ao universo estelar. Velaris, o sonho, o destino e a terra onde as estrelas brilham para guiar sua alma. Tentei conter o choro que rugia dentro de mim, mas era mais forte e sem conseguir conter, deixei que algumas poucas lágrimas descessem. Emocionada por esperar tanto tempo, dentro daquela floresta, caçando e olhando para as estrelas enquanto comia, desejando estar mais próxima das estrelas de Velaris, e agora finalmente estava aqui.

A corte Noturna era, ou melhor, corte dos sonhos,  é o sonho de todo fã da saga, todos querem conhecer e explorar o lugar que Rhysand cuidou e se dedicou em proteger por tanto tempo, até se submeteu a tantas dores para esconder esse lugar do mal. Mas pra mim, acreditei por anos que aqui poderia ser minha esperança, desejei que essas estrelas fossem capazes de me acolher e de se tornarem meu lar. Um lugar na qual eu fosse aceita. Não uma casa, um lar.

Enquanto enxugava meu rosto, senti um focinho molhado cutucar minha mão. Desviei meu olhar das constelações para o lobo branco de olhos claros que me encarava com preocupação, eu o havia encontrado enquanto cruzava a corte anterior, como não queria ser notada, usei as trilhas das bordas e durante minha caminhada congelante, encontrei um lobo ferido e solitário na neve. Ao ver aquele animal respirar com dificuldade e me encarando como se pedisse para que eu o matasse logo, senti algo me empurrar em sua direção, não para o matar, mas para salvar.

Tratei ele, os ferimentos provavelmente haviam sido feito por uma briga entre outro macho e esse havia perdido. Arrastei ele para dentro de uma caverna, fiz uma fogueira e cuidei dele, até perceber que estava bom o bastante para se virar sozinho, mas ele me seguiu, mesmo quando eu falei que devia voltar, quando o xinguei ou ergui a espada. O lobo apenas olhava para mim e esperava eu guiar o caminho. Então, entre resmungos eu o deixei me seguir e escolhi lhe chamar de Agnar*. Depois daquele dia, meus dias que eram tão silenciosos e solitários, ficaram mais barulhentos e calorosos.

Acaricie a pelagem macia do lobo e comecei a procurar um lugar para acampar, tantos anos vivendo na floresta, fez com que eu preferisse viver dessa forma, ao em vez de uma casa nos centros. Logo, talvez avistassem uma intrusa na cidade, provavelmente iram me detectar, mas tentarei me mostrar o mais inofensiva possível, construirei meu acampamento e após uma volta pela cidade, pois ela merece ser admirada, irei buscar uma forma de entrar em contato com o Grã senhor dessa terra.

Percorri pelo perímetro perto da cidade, encontrei um lugar que ficava perto de um rio que serpenteava pela terra como uma cobra, com acesso a água facilitado e árvores com frutos por perto, decidi montar minha barraca cor de casca de madeira ali. Não era pequena, mas também não era enorme, o suficiente para ajeitar um canto para dormir e depositar minhas mochilas com roupas, armas, comida, cobertores e utensílios de cozinha. Com minha casa pronta, fui buscar junto da campainha do canino, madeira para queimar e fazer uma fogueira, tanto para me aquecer, como para cozinhar.

A floresta era densa, mesmo a noite dava para enxergar a variedade de árvores e flores, cores e mais cores me fizeram me encantar pela flora, foi fácil catar o necessário para a queima mais tarde, mas me demorei naquele verde para conhecer melhor o ambiente e para escutar o canto dos pássaros e sentir se era vigiada por predadores. Ter animais ou monstros por aqui era uma dádiva ao mesmo tempo um pesadelo.

Com os braços cheios de galhos, voltei pelo mesmo caminho para a barraca, Agnar trotava atrás com uma lebre em sua boca, pelo visto, seu jantar já estava servido. Senti uma pequena inveja dele, desejava também comer uma boa carne, mas um lobo daquele tamanho, beirando quase na altura dos meus ombros, nunca deixaria nenhum resquício de carne de coelho para mim, provavelmente iria caçar mais tarde para abater sua fome.

Bom, entrar com ele na cidade iria fazer os moradores ficarem assustados e qualquer tentativa de passar despercebida, iria por água a baixo, então seria bom que ficasse procurando mais lebres.

- Você bem que poderia caçar uns para mim também sabe, companheirismo e tal, não deixar sua matilha morrer de fome. - divaguei com uma voz cheia de insinuações.

Agnar grunhiu e passou na minha frente abanando sua longa calda felpuda.

Abusado.

O carnívoro depois que se acostumou comigo se mostrou bem arrogante e debochado, às vezes queria apenas atirar adagas em sua direção para assusta-lo.

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Ao finalmente pisar na cidade, respirei fundo e me deixei ser encantada pelo brilho encantador das lojas e estrelas. Os cheiros de comidas, perfumes, bebidas, roupas, féricos, se misturavam e me deixavam tonta, embriagada com tantos aromas. As cores, os sorrisos, o povo que se divertia escutando uma boa música enquanto se embalavam na noite com bebida e dança. A cada passo, eu assistia o que de fato Velaris era, um lugar na qual o brilho das almas podiam ser comparadas as estrelas de tão puras e felizes eram.

Era lindo e ao mesmo tempo me sentia sozinha diante de tanta festa e animação. Mas não devia estar surpresa, nessa vida eu tive que viver sozinha, conviver com minhas próprias palavras e pensamentos, então quando vejo tantas interações, tantos risos e gargalhadas... Algo dentro de mim dizia que ali não era meu lugar, que não pertencia a esse ambiente, assim, como sempre foi. Uma pária, uma indesejada.

De repente, meus passos ficaram mais lentos e eu apenas absorvia tudo a minha volta, minha mente silenciou e eu me permiti apenas caminhar como um fantasma pela cidade iluminada. Havia criado esperanças demais? De fato, encontraria um lugar para chamar de lar?

Naquela noite, enquanto a música envolvia todos da cidade dos sonhos, eu vaguei olhando para as estrelas e desejando que sim, que eu pudesse encontrar um lugar onde depositar meu coração e alma.

Corte de sombras e tormentasOnde histórias criam vida. Descubra agora