Chapter 455 O passado assombra quem o renega, ele sempre volta

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Arco final Capítulo 455 O passado assombra quem o renega, ele sempre volta

Vinte e cinco de maio

Guang Ming - Vila Long Dun

Eram dias taciturnos.

Shu Rong estava mal resolvido e preocupado, mal resolvido com a partida súbita de seu filho mais velho e preocupado de modos diferentes com seus dois filhos.

Qing Song nunca tinha vivido um momento como esse, por dez anos ele sentiu feliz na maior parte do tempo ao lado de seu pai e sua avó, sempre afirmando em seu coração que tudo estaria bem se tivesse os dois por perto.

O garoto de doze anos não conseguia fazer amigos, ele odiava todas as crianças que caçoavam de seu pai sem língua, que precisava fazer um conjunto de gestos gozados para conversar numa linguagem que quase ninguém entendia.

Ele apenas se sentia excluído, nunca poderia ser como aquelas crianças, não fazia sentido se aproximar delas.

E num curto espaço de tempo, a avó havia falecido e seu irmão, com quem convivia há praticamente três meses, do nada precisou partir.

As âncoras que asseguravam seus momentos felizes e seguros, tiveram suas correntes partidas e estavam num vasto fundo, inacessíveis.

Shu Rong não sabia bem lidar com o filho mais jovem e no meio desses dias que se tornaram subitamente cinzentos, estava Fu Sheng.

Evidente que sentia várias fagulhas de alegria quando compartilhava a esteira de Shu Rong, certamente os dois estavam de algum modo juntos, mas na turbulência estranha e melancólica daqueles dias, não havia espaço para fazer coisas de casal.

E pior... Fu Sheng não conseguia esquecer o que tinha prometido ao seu pai.

Não havia como ficar na Vila Long Dun, em algum momento próximo, até mesmo ele teria que partir.

**************

Parecia uma manhã típica na vida de um pescador.

Após uma madrugada no mar, usando a rede e navegando na traineira He Tun, os três foram vender o peixe fresco no mercado local.

Shu Rong estava pensando no trivial, vender o peixe, voltar para casa, fazer um desjejum, tomar um banho e ir dormir, mas ao contrário do que pensou, aquela não era uma manhã trivial.

Qing Song estava passando para o dono de uma das barracas de pescado as instruções de seu pai e do nada um murmúrio geral se instalou.

Shu Rong não gostava de se envolver em nada que não era da sua conta e decidiu não dar atenção, ele queria concluir a venda do pescado.

Como o dono da barraca também estava curioso com a visão que tinha da viela, tentou fechar o negócio de compra rapidamente, sem barganhar demais no preço.

De costas para a viela, Shu Rong não viu a carruagem que tinha parado, puxada por dois cavalos belíssimos, de caro porte.

Isso até o dono da barraca que tinha comprado seu pescado retrucar com os olhos cravados na via, enquanto alisava a própria barba grisalha: “Deve ser um membro da nobreza... O que será que ele quer aqui?”

A admiração na voz do mercador não era o mesmo que Shu Rong sentia.

Nobreza? Sinônimo de encrenca, ele sinalizou para Qing Song que era hora de voltar para casa, porém...

Quem desceu da carruagem veio justo em sua direção!

Nenhum pescador presente, dono de comércio ou morador da vila que passava pelo mercado a céu aberto contava que uma figura tão alta, rara, auspiciosa e imponente fosse na direção de Shu Rong, tendo os olhos apenas voltados para ele e mais ninguém e ainda por cima... Conversasse com o impopular pescador na linguagem de sinais.

Se alguém certamente nobre, possivelmente da realeza, se dava o trabalho de se aproximar daquele homem silencioso, não mostrava de algum modo que aquele reles pescador tinha alguma importância? As pessoas da vila ficaram boquiabertas.

No entanto, Qing Song que até compreendia o diálogo, estava sem ação e Fu Sheng se arrepiou em repulsa ao ver que aquele estranho tão alto e forte conversava naturalmente com Shu Rong, como ele mesmo não conseguia.

O homem que tinha descido da carruagem parecia argumentar alguma coisa, mas Fu Sheng segurou no braço de Shu Rong e o puxou, fazendo o pescador olhar bruscamente em sua direção.

— Quem é esse, Shu Rong-shi? Está tudo bem?...

A voz de Fu Sheng não soou hesitante como de costume, mas irritada, olhando com rispidez amolada para o estranho.

Shu Rong suspirou e puxou seu braço... Não era possível... Isso era ciúme?

Fu Sheng se sentiu contrariado por Shu Rong se libertar de seu toque protetor, a ele apenas restou observar o pescador gestualizar algo para Qing Song.

— Mano Sheng, o pai qué que nós dois vamo para casa... Ele disse que encontra a gente lá.

— O quê?... Mas, isso...

O cultivador não conseguiu nem tempo para protestar, ele mirou-se estufato em Shu Rong acompanhando o homem trajando preto e vermelho, que fez uma mesura cortês para o pescador entrar primeiro na carruagem.

O cocheiro puxou as rédeas dos cavalos assim que os dois senhores sumiram para o interior do transporte.

A carruagem abandonou os limites do mercado, dezenas de olhares e pescoços se viraram para segui-la até sumir de vista.

Inclusive Fu Sheng, sobretudo Fu Sheng.

O peixe já tinha sido vendido quase todo, restava poucos com Qing Song, não havia muito a fazer a não ser obedecer o que o pescador tinha sinalizado.

Devagar, como se precisasse despertar da cena anterior, Fu Sheng se moveu enfastiado, os dois deixaram o mercado para trás.

— Qing Song... O que você entendeu do que aquele estranho disse para Shu Rong? — Fu Sheng perguntou após uns minutos torturantes em silêncio.

— Oia, tudo... Eu acho. Pelo que entendi, os dois se conhece. O homi grande queria conversá com o pai... Só que o pai num queria muito não.

O cultivador coçou o cabelo pensativo, ainda indignado ao seu modo desanimado.

— Se seu pai não queria... Por que ele foi?

— E eu lá sei, mano Sheng? — Qing Song deu de ombros. — O homi tinha um tom de amizade, ele deve conhecê o pai faz é tempo... Acho que a graça dele é Hulang.

Fu Sheng franziu de leve o cenho, piscando pensativo.

— Hulang? Certeza, Song'er?

— Sim, ora... O pai que chamou ele assim... Hulang parece um nome forte, num é? A graça combina com o dono.

— Como você consegue ficar tão tranquilo? E se o seu pai estiver em apuros?...

Qing Song chutou uma pedrinha no meio caminho, o garoto enfiou as mãos no bolso trazendo a cesta de palha trançada ao lado do corpo.

— Inté parece... O pai é muito forte, tem que confiar nele, mano Sheng.

Não é que não confiasse, mas havia tanto sobre Shu Rong que Fu Sheng ignorava... Era inevitável se sentir estranho, com o ciúme e a insegurança golpeando continuamente sua mente.

 Era inevitável se sentir estranho, com o ciúme e a insegurança golpeando continuamente sua mente

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Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora