37|Sensações ruins

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Não consigo dormir.

Ao levantar pela manhã, a casa está em silêncio. Um silêncio tão absoluto que eu me pergunto se alguém havia morrido ali.

Após tomar banho, ter vestido uma roupa e passado um corretivo abaixo dos olhos para esconder as olheiras da noite não dormida e conturbada, saio do banheiro e pego minhas coisas.

A vontade que eu tinha era de ficar na cama e nunca mais levantar.
Minhas costas doíam,  meus ombros estavam pesados, e o aperto em meu peito havia ficado pior.

Eu deveria saber que falar com alguém que ia além desse plano, faria coisas assim. Era loucura e muita ousadia.

Mas eu estava cansada de apenas fugir das coisas que aconteciam na minha vida. Eu estava cansada de estar viva há mais de vinte anos, e mesmo assim, não sabe nada sobre mim mesma ou sobre o que passei.
Era como ter uma estranha vivendo em meu lugar durante todo esse tempo, e eu nunca havia tido a coragem de assumir as rédeas. 

Saio do quarto, escutando Toddy puxar seu brinquedo das garras do gato, Sam.
No entanto, assim que piso na escada, escuto meu celular apitar.

Débora já estava me mandando mensagem, oferecendo carona.

Débora. 

Aceito, já ciente do favor que eu havia lhe pedido um dia após a minha noite de terror. 

Desço as escadas, vendo que Alice e nem Cora pareciam querer descer hoje. Ainda cogito em subir e acordar a mesma, mas dou de ombros, preferindo também evitar conversas logo pela manhã. 

Deixo para comprar algo no caminho. Ponho comida para os animais e saio de casa, já vendo minha amiga na porta.

Sete da manhã e Débora já estava com o som alto, e a animação ainda maior. Odiava isso, mas ela estava em seu espaço e não tinha culpa de eu ser a sem graça. 

Entro em seu carro e a mesma diminui um pouco o volume do som, me lançando um sorriso de orelha à orelha.
Eu queria muito retribuir da mesma forma, mas minha cabeça ainda girava em torno da conversa com Devil e todas as lembranças de Jacob, nada iria tirar isso da minha cabeça. 

Ela arqueia uma sobrancelha.

ㅡ Aconteceu alguma coisa?

ㅡ São sete da manhã e eu tenho que trabalhar.ㅡ suspiro, encostando minha cabeça no banco conforme ela dava partida.

Fico calada por alguns minutos, pensando em formas de chegar ao assunto.

ㅡ Ah... conseguiu a tradução da minha tatuagem?

Ela me encara de canto.

ㅡ Nossa, eu nem procurei. Me desculpe, Marie... sabe que eu sou esquecida e estava ocupada.ㅡ suspira, prestando atenção no trânsito. ㅡ Mas assim que eu chegar em casa, vou tentar.

ㅡ Tudo bem, deixe isso comigo.ㅡ sorrio fraco.

Era melhor. Seja lá o que fosse, eu não queria que ela visse caso pudesse ser algo maligno. Débora iria me levar a uma igreja.

Oh, até que não seria tão ruim.

Sinto uma pontada na nuca, e me mexo na cadeira, incomodada.

ㅡ Tudo bem aí?

ㅡ Sim.ㅡ respondo, engolindo em seco.

As vezes parecia que a tatuagem tinha vida. Fecho meus olhos, respirando fundo.

Pare de ler meus pensamentos.

Penso, na esperança de que ele possa ter escutado.

ㅡ Merda, Débora, estou com uma dor de cabeça dos infernos...ㅡ resmungo, fechando os olhos e massageando as têmporas.

Me And The Devil ( Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora