Capítulo 18

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- Você só pode estar brincando, Simone! – Digo, com a voz saindo um tanto mais alta do que eu gostaria. – Nós mal nos livramos de uma avalanche de mentiras e...

Levanto, procurando por minhas roupas espalhadas no chão da sala e, baratinada, acabo por vestir a camiseta do avesso, mas nem me importo.

- Amor, só me escuta – Simone pede calmamente, também catando seu jeans nos pés da mesinha de centro. – É uma boa ideia e você não vai precisar inventar muita coisa. Basta sustentar a versão de que não conseguimos nos acertar depois da briga no bar e rompemos o relacionamento.

Passo as mãos pelos cabelos, pensativa, refletindo sobre a proposta de voltar a esconder a verdade de pessoas que eu amo, para tentar livrar a minha irmã de um relacionamento problemático com meu, duplamente, cunhado.

Simone termina de se vestir e, nesse curto espaço de tempo, já roí as unhas de dois dedos. Ela começa a recolher a louça de nosso café da manhã e leva até a pia, onde começa a ensaboá-las.

Inspiro fundo, me encosto no balcão da cozinha e a observo naquela tarefa tão trivial, pacientemente aguardando que eu tome uma decisão. Sei que ela está me dando o poder de escolha, afinal, nenhuma de nós gostaria que ela reatasse a relação com Rodrigo, mas eu e Karine nascemos juntas, crescemos compartilhando muito mais do que a genética, nós somos (ou éramos) melhores amigas.

- Me explica o que eu preciso fazer e como vamos desmascarar seu irmão – digo baixinho.

Simone enxágua a última peça de louça e a coloca no escorredor, seca as mãos em um pano de prato e se vira para mim com um sorriso iluminado no rosto.

- A ideia é a seguinte: para todos os efeitos, nós terminamos. E isso é necessário para que você tente retomar o contato com Karine, sem que ela imagine que estamos em guerra de casais e não confie em você – ela explica.

Assinto com um gesto de cabeça.

- Sei que Rodrigo combina seus encontros através de um aplicativo de mensagens porque, em todas as viagens, ele passava o dia inteiro enfiado no celular e a noite toda em algum programa qualquer.

É inevitável revirar os olhos quando Simone menciona esse fato, porque o nojo que eu tenho de Rodrigo só aumenta e me irrita pensar no quanto ele conseguiu nos enganar esses anos todos, com aquela pose de homem de família.

- Presto serviços para a empresa que ele trabalha, então, me despindo das vestes de engenheira ética e responsável, consigo hackear seu e-mail profissional, obter o código para clonar o aplicativo e vasculhar evidências dos casos que ele teve... ou tem, não sei.

- Você consegue fazer isso? – Pergunto e Simone imediatamente sinaliza positivamente. – Você já fez isso? – semicerro os olhos.

- Uma única vez. E foi para desmontar uma fraude corporativa, então eu tinha respaldo! – Ela responde vestindo sua melhor expressão profissional. – Soraya, eu dou um boi para não entrar em uma briga, mas eu dou uma boiada para não sair quando a briga é boa.

E se Simone não encontrar nada? E se encontrar e, mesmo assim, Karine não estiver disposta a abandonar seu marido? E se isso tudo só piorar ainda mais (se é que seria possível) minha relação com Karine?

É como se todos esses questionamentos tivessem sido feitos em voz alta, uma vez que Simone se aproxima e segura minhas mãos entre as suas, beijando-as com ternura.

- Enquanto eu faço a varredura, você vai tentar se reaproximar de Karine, reconquistar a confiança dela e nada do que eu descobrir será revelado por você. Darei um jeito de as provas chegarem às mãos dela e, caso sua irmã tome a decisão que esperamos, você estará por perto para apoiá-la – ela diz, agora olhando em meus olhos. – Eu só preciso que você diga que topa tentar e vou fazer de tudo para que isso acabe o mais rápido possível.

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