Capítulo 7

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Eles não esperam muito para retaliar.

Durante o restante da tarde e o começo da noite, temos aula de história. Um goblin com cabeça de gato chamado Yarrow recita baladas e nos faz perguntas. Quanto mais respostas corretas eu dou, mais irritado Jake fica. Ele não esconde seu desprazer, fica falando para Oliver como as aulas são chatas e faz cara feia para o professor.

Pela primeira vez, acabamos antes de a noite cair totalmente. Seokmin e eu seguimos para casa, e ele fica o tempo todo me lançando olhares preocupados. A luz do poente passa pelas árvores, e eu respiro fundo, absorvendo o aroma das agulhas de pinheiro. Sinto uma espécie de calma estranha, apesar da estupidez que fiz.

— Esse tipo de comportamento não é muito a sua cara — diz Seokmin finalmente. — Você não é de puxar briga com as pessoas.

— Apaziguá-los não vai ajudar. — Chuto uma pedra com o pé coberto pelo sapato. — Quanto mais eles se safam, mais acredito que têm direitos.

— Então você vai o quê... ensinando bons modos a eles? —Seokmin suspira. — Mesmo que alguém fosse fazer isso, esse alguém não tem que ser você.

Ele está certo. Sei que está. A fúria eufórica da tarde vai passar, e eu vou me arrepender do que fiz. Provavelmente depois de um belo e longo período de sono. Você vai ficar tão horrorizado com o que Seokmin está agora. A única coisa que fiz foi arranjar problemas ainda maiores para mim, por melhor que tenha sido salvar meu orgulho.

Você não é assassino.
O que lhe falta não tem nada a ver com experiência.

Mas ainda não estou arrependido. Depois de ter passado dos limites, tudo o que quero é me jogar de vez.

Começo a falar quando a mão de alguém cobre minha boca. Dedos afundam no meu queixo. Eu ataco, virando o corpo, e Oliver vejo segurando a cintura de Seokmin. Agarre meus pulsos. Consigo libertar minha boca e dou um berro, mas gritos no Reino das Fadas são como o canto dos pássaros, comuns demais para chamar a atenção.

Eles saem nos empurrando bosque adentro, rindo. Ouço um gritinho de um dos garotos. Acho que ouço Oliver dizer alguma coisa sobre as cotovias acabarem logo, mas o resto da frase é engolido pelas risadas.

Sinto um empurrão nos ombros e o choque horrível da água fria se fechando ao meu redor. Eu cuspo e tento respirar. Sinto gosto de lama e junco. Impulsiono-me para cima. Seok e eu estamos dentro do rio, a água até a cintura, a corrente nos levando em direção a uma parte mais agitada. Plante os pés na lama do fundo para não ser arrastado. Seokmin está segurando uma rocha, o cabelo todo molhado. Ele deve ter escorregado.

— Tem nixies neste rio — diz Liam. — Se vocês não sairem antes de chegarem, vão arrastá-los para debaixo da água e segurar os dois lá. Os dentes afiados vão afundar na sua pele. — Ele faz uma mímica de mordida.

Eles estão ao longo da margem; Jake mais perto, Liam ao lado dele. Oliver passa a mão nas taboas e nos juncos, uma expressão distraída. Ele não parece gentil agora. Parece entediado com os amigos e conosco também.

— Nixies não conseguem controlar o que são — provoca Emma, ​​chutando água na minha cara. — Assim como vocês não conseguirão evitar o afogamento.

Cravo os pés mais fundo na lama. A água que enche minhas botas dificulta o movimento das pernas, mas a lama ajuda a segurá-las no lugar quando consigo ficar parado. Não sei como vou chegar a Seok sem escorregar.

Liam está esvaziando nossas bolsas na margem do rio. Ele, Emma e Oliver se revezam jogando nossos pertences dentro d'água. Meus cadernos com capa de couro e rolos de papel que se desintegram assim que afundam. Os livros de baladas e histórias fazem um barulho alto quando são jogados, depois de alojam entre duas pedras e ficam presos ali. Minha linda caneta cintila no fundo do rio. Meu pote de tinta se estilhaça nas pedras, tingindo a água de vermelho.

O príncipe cruel | Heejake [Adaptação]Onde histórias criam vida. Descubra agora