Prólogo

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Por Alexandre Rofer

A trombeta poderosa espalha seu som pela região dos sepulcros,

para juntar todos diante do trono.

A morte e a natureza se espantarão com as criaturas que ressurgem,

para responderem ao juízo.

                                                           - Requiem, Wolfgang Amadeus Mozart

            PRÓLOGO:  Assassinato No Centro

                                                                                        I

Cyro Jassus era um homem grande. Noventa quilos distribuídos em um metro e noventa de altura. Movia-se como um rapaz de vinte e poucos anos, apesar de, na verdade, contar quarenta e sete. Era acompanhado por um séquito de homens vestidos de preto, ternos alinhados e dispositivos de comunicação nos ouvidos. Eram seus seguranças particulares. Tentavam acompanhá-lo nos passos largos pelo corredor de mármore frio e iluminado, mas até mesmo os sujeitos corpulentos da sua segurança pessoal não igualavam-no em sua altivez.

Ele sabia que era um homem importante e se comportava como tal. Muita gente que nem o conhecia o respeitava apenas devido à sua postura, seu olhar penetrante, seu modo de se vestir e de falar. Se impunha sem ser desrespeitoso - a não ser, é claro, que quisesse ser.

Cinco brutamontes seguiam-no de perto, alguns passos atrás do patrão. O resto estava distribuído nos andares imediatamente acima e abaixo daquele onde Cyro se encontrava agora, dispostos estrategicamente para uma proteção eficiente.

- O homem está seguro. - Disse um dos mercenários, o chefe da segurança pessoal, após abrir a porta do escritório para Cyro e fechá-la gentilmente assim que ele entrou.

O recado era ouvido por todo o grupo através dos dispositivos de comunicação que ostentavam, pequenos aparelhos em suas orelhas e de onde brotava um fio que descia por seus paletós. Toda aquela cerimônia era rotina para eles, mas a preocupação do patrão com alguma espécie de ataque só começou de uns tempos para cá. Cyro estava ficando cada vez mais paranoico com a própria segurança e de sua família, mas nenhum de seus funcionários musculosos, agora vestidos nos ternos caros, tinha certeza do porque. Não sabiam de nenhuma ameaça ao chefe e a rotina - casa, academia, levar a filha na escola e ir para o trabalho - vinha sendo a mesma desde muito tempo.

- Aconteceu alguma coisa que ele não quer nos dizer. - É o que cochichavam os guarda-costas na surdina. Mas era tudo suposição.

O fato era que estavam todos acostumados com o dia-a-dia do chefe e gostavam da mesmice. Recebiam um bom dinheiro, frequentavam lugares de gente rica e não tinham que suar a camisa por isso.

Naquela noite, contudo, a rotina mudaria. Terrivelmente.

Momentos atrás, do outro lado da rua, escorado num paredão imenso que era a lateral de um prédio de vinte andares, um único homem observara a movimentação do empresário e seu grupo de protetores contratados. A limusine do chefe estacionara em frente ao prédio de escritórios e um rapaz de uniforme e chapéu, funcionário do prédio, correra para abrir a porta.

Ao mesmo tempo, outros quatro sedans escuros estacionaram em linha, dois na frente da limusine e a metade restante atrás dela. Os vinte homens de terno negro com dispositivos de comunicação nos ouvidos desceram juntos e cercaram a limusine. O chefe, só então, saíra do carro, completamente protegido pelos escudos humanos. Entraram todos no saguão do prédio.

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