Depressão e obsessão não combinam bem.

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Tic-tac, tic-tac...

Era como se todo o mundo tivesse ficado em silêncio e a única coisa existente naquele abismo prestes a se abrir abaixo de mim fosse nós dois, mas nesse caso, a queda seria somente minha.

Com os olhos de cascata e as mãos desesperadas procurando pelas suas, eu tentei te convencer. Te trouxe de volta às lembranças de nós dois, aquelas que tantas vezes me convenceram a ficar quando eu só tinha motivos para partir. Pensei, se consolaram o meu coração, talvez console o dele. Talvez o faça mudar de ideia.

Não fizeram.

Te alertei sobre a falta de nós dois, te perguntei se tudo aquilo que construimos era tão insignificante a ponto de te fazer ir embora por tão pouco, tentei te convencer a não tomar decisões permanentes com base em sentimentos temporários mas nada funcionou, você estava convicto a ir embora. E eu te disse, não é motivo para ir embora.

Argumentei, pontuei, expliquei, te mostrei, tentei te trazer de volta a realidade e te mostrar o quanto você estava deixando ir, o quanto você estava deixando para trás. Segui dessa maneira até deixar a lógica, até me ver te pedindo por favor, te implorando a plenos pulmões para que ficasse, para que não me deixasse sozinha com esse tanto de nós dois.

Para que não me deixasse dormir sozinha nessa cama onde sempre dormimos nós, para que não me deixasse desconsolada e absolutamente confusa sobre tudo que aconteceu – e o que não aconteceu também.

Eu finalmente tinha tido um dia bom, finalmente tinha me sentido amada e capaz de amar você em tanto tempo e você estava me deixando, e todas as vezes que eu questionei os motivos você disse que já havia falado todos eles, então por que eu ainda estava tão confusa? Por que eu não conseguia entender?

E então você disse.
Você disse o que eu já havia pontuado que aconteceria e que você me prometeu que não.

Você me lembrou de quando eu disse que um dia você se cansaria e iria embora. E que esse dia havia chegado.

Mas você prometeu...
Você prometeu.

E então, silêncio.
Sem mais tic-tac, o abismo se abriu e eu caí, você estava indo embora.

Eu chorei até me faltar o ar, me desesperei e doeu, doeu como nunca e eu avisei você. Eu te disse que se você partisse estaria me magoando como nunca e você fez mesmo assim, recolheu suas coisas e foi embora com tudo que era seu, deixando tudo o que era nosso só pra mim.

Eu não desisti, como eu prometi pra você. Eu não fui embora, mas você foi, exatamente como eu disse que aconteceria e você me prometeu que não.

Eu mantive a minha palavra, já você...

E se foi, sem dizer uma palavra. Foi-se como se nada eu fosse.
E eu fiquei sozinha, com uma noite inteira em claro cheia de fantasmas seus, confusa, me perguntando o que eu tinha feito de errado, por que era tão difícil me amar, por que ninguém fica e só passa para me ferir e ir embora? Por quê? O que eu fiz? O que falta?

E chorei, chorei até não haver mais lágrimas. E prometi pra mim, não haverão mais lágrimas.

Mas estou chorando outra vez. Acho que só sou capaz de cumprir aquilo que prometo pra outros mas jamais aquilo que prometo para mim. Nunca vou ser capaz de dar a mim o amor que eu dou aos outros e é isso que vem me matado aos poucos, mas tudo bem.

Você era você,
e eu era eu,
e nós já não existíamos mais.

E quando eu já estava aceitando, você voltou. Dizendo que tudo o que eu disse pra tentar te convencer, você ouviu de outra pessoa que te aconselhou e assim decidiu voltar atrás. Mas ontem eu te disse tudo isso então o que mudou? O que faltava?

E mesmo sem você dizer nada que me convencesse, mesmo depois de você ter pisado em mim, no meu coração e em tudo que construímos juntos, eu decidi te dar mais uma chance.

Porque eu te prometi que não desistiria, e eu cumpro com as minhas promessas – ou talvez somente as que eu faço para você.

Mas a tristeza que se instaurou em mim é como uma folha de papel sendo consumida pelo fogo. Isso não vai passar.

E sempre que eu me lembrar do quando eu te pedi, te implorei, de quantas vezes eu continuei e que a única vez que te pedi para ficar você me disse não, e me deixou largada chorando um oceano inteiro de lágrimas, desesperada e confusa e completamente sozinha, sempre que eu me lembrar que você partiu sem motivos quando eu fiquei todas as vezes, mesmo tendo todos os motivos para ir embora, quando eu me lembrar do meu desespero e da minha voz embargada te pedindo pra ficar e da sua voz sucinta dizendo que o dia do qual você se cansaria finalmente havia chegado, todas as vezes que eu me lembrar que eu te disse que assim você estaria me magoando como nunca e mesmo assim você o fez, eu vou voltar exatamente para esse dia.

E sentir todas as coisas que eu senti quando você me deixou.

E me sentir uma boba por ter voltado e continuar esperando que você me convença que não.

Mas me reconquistar antes foi o que fez você ir embora.
E eu não quero que você vá, então eu vou chorar todas essas lágrimas sozinha.

Sem te pedir mais nada, sem implorar mais nada, para nunca mais ter de ouvir um "não".

Isso me magoa como nunca.
Todos os dias, cada dia mais um pouco.

Você me destruiu.
Eu me sinto menor a cada dia e não haverá um único dia sequer do qual eu não vá chorar desconsolada por me lembrar do que você fez.

E você sabe disso.
Que o saber te faça querer me fazer melhor ao invés de desistir mais uma vez.

O Amor de Um EscritorOnde histórias criam vida. Descubra agora