Sweet Lie

08

|| THEODORE EVANS 

Quarta-feira, 09:10 AM

 Meus dedos apertam freneticamente em várias letras diferentes do meu teclado, eu fazia um relatório importante enquanto tentava não surtar pensando em tudo que estava errado na minha vida.

 Não contentes em contar para meu avô, meus pais também contaram para meus tios, primos e todos que puderam sobre meu "noivado". Se antes não havia como sair disso facilmente, agora é que não tem jeito mesmo. Minha mãe fez questão de planejar um grande jantar em sua casa para que eu levasse minha suposta noiva, ela é uma mulher muito determinada e quando coloca algo na cabeça não há quem tire.

 Felizmente, consegui convencer minha mãe a fazer o jantar na sexta à noite ao invés de hoje, ou seja, daqui há dois dias. Não consigo parar de me preocupar com isso, já que não tenho mais opções caso Bella não aceite, até pedi para Kyle procurar mais alguém por precaução, mas até agora nada. 

 É claro que eu preferia que fosse qualquer outra pessoa ao invés de Bella, sei que mal nos conhecemos mas o pouco que vi dela foi o suficiente para saber que ela não é uma pessoa muito tolerante, além de ser afrontosa. Kyle fez um dossiê sobre ela, à mando meu, até porque preciso saber com quem estou me metendo. 

 Confesso que não estava esperando o que vi naquele arquivo, nunca imaginei que uma garota como ela tivesse sido uma acompanhante de luxo. Na verdade, nunca passou pela minha cabeça que ela já esteve em condições de pobreza, já que ela está sempre bem arrumada, com postura e um olhar superior, mas aquilo não passa de uma máscara. Uma máscara tão bem construída, que conseguiu enganar até mesmo à mim.

 Não consigo nem pensar no que aquela garota deve ter passado à ponto de ter que construir uma falsa personalidade para aparentar ser superior. Talvez eu descobrisse mais do seu passado se quisesse, mas pedi para fazerem um dossiê simples, apenas com o básico para que eu soubesse coisas como antecedentes criminais ou qualquer "podre" que pudesse parar na mídia. Não quis ir além, até porque não tenho interesse em invadir tanto a privacidade dela e não tinha necessidade.

 Dou um suspiro de alívio ao finalizar o relatório e o salvo antes de fechar a aba. Dou um resmungo ao me levantar da cadeira, sentindo minhas costas doerem pelo tempo excessivo que fiquei sentado, já estou começando a me acostumar com a dor de tanto que faço isso no dia a dia. Sou um cara muito focado no trabalho, não vejo isso como algo ruim porque me ajuda a distrair de todos os problemas que me cercam, mas acabo me afastando muito das pessoas por causa desse foco exagerado, além de perder meu sono e ficar muito irritado com tudo e todos.

 Decido sair do meu escritório e tomar um café para ficar um pouco mais desperto, já que não dormi muito bem durante a noite. Caminho para fora do escritório, batendo a porta atrás de mim, e então vou até o fim do corredor, onde havia uma sala com petiscos e bebidas não-alcoólicas para os funcionários do andar. 

 Pego uma xícara e tento despejar o café da garrafa térmica na mesma, mas nada sai, me fazendo perceber que havia acabado. Dou um resmungo frustrado e coloco a xícara de volta no lugar.

 Por que diabos eu tenho funcionários específicos para repor as comidas dos andares se eles são todos um bando de inúteis que não fazem sua única função?

 Respiro fundo em uma tentativa de me acalmar e saio da sala, indo até o elevador. Aperto o botão do primeiro andar e observo as portas do elevador se fecharem.

 Já que não havia um caralho de um café nesse inferno, terei que ir na cafeteria da rua para comprar um que me agrade. Depois vou tratar de dar um grande sermão no imprestável que esqueceu de repor o café, sempre deixei claro o quanto odeio ter que interromper meu trabalho para fazer coisas fúteis e sair para comprar um café é uma dessas coisas.

 As portas do elevador se abriram e eu mal saí do mesmo quando escuto um burburinho de vozes vindo da recepção. Ergo a sobrancelha e vou até o local, me deparando com Yasmin, uma das recepcionistas do andar térreo, que estava rebaixando uma garota, na qual não pude ver seu rosto porque estava de costas.

 Decido ficar ali parado por alguns segundos, apenas escutando o que ela falava enquanto não notava minha presença. 

— Olha aqui garotinha, é melhor você dar o fora antes que eu chame os seguranças para te jogarem no olho da rua. — Yasmin falou ríspida, uma mistura de desdém e nojo pairava em seu rosto. — Eu sei que você não passa de uma puta barata que vive rodeando a empresa, querendo se aproveitar do dinheiro do Theo.

  Cruzei os braços, indignado com a audácia de uma empregada tratar tão mal uma cliente pelas minhas costas. Uma grande irritação me sobe à cabeça, percebendo a cobra que está se criando bem debaixo do meu nariz sem que eu percebesse.

 Limpo a garganta, atraindo a atenção das duas para mim. Yasmin me olhava de olhos arregalados, sua expressão de desdém sendo substituída por medo genuíno, a outra garota vira o rosto para trás, me surpreendendo ao ver o rosto conhecido de Bella, a primeira coisa que notei foi seus olhos marejados e os lábios reprimidos, demonstrando seu esforço para não chorar. 

 Me aproximei a passos pesados das duas, uma expressão dura e fria cobria meu rosto, enquanto a raiva queimava em meu peito. 
 Antes que eu abrisse a boca para falar,  Yasmin correu até mim e se agarrou em meu braço, fazendo uma cara de choro.

— Theo, essa doida me ameaçou. — Ela murmurou com os olhos marejados, sua voz irritantemente fina. Bella olhou para ela e em seguida para mim, secando uma lágrima do canto dos olhos enquanto sua expressão voltava para a superioridade de sempre. Desço os olhos para suas mãos fechadas em punho ao lado do corpo, deixando claro o quanto que ela estava se segurando para não fazer algo violento.

 Empurrei Yasmin para longe de mim e a encarei friamente. — Desde quando te dei permissão para me chamar dessa forma? Nessa empresa eu exijo respeito, tanto direcionado à mim quanto aos clientes. — Respiro fundo, tentando manter minha raiva sob controle para não fazer algo de que fosse me arrepender. — Você está demitida por justa causa. 

 Yasmin se jogou em meus pés, chorando de forms exagerada. — Não senhor, por favor… eu preciso muito desse emprego, t-tenho muitas contas pra pagar… eu imploro. — Ela fungou, seu desespero evidente em ser demitida. 

 Dou uma risada rouca e a encaro. — Pensasse nisso antes de maltratar alguém. Na verdade, você deveria estar me agradecendo por eu não te processar, afinal você caluniou e ofendeu a minha noiva. — Bella me olha surpresa, arregalando os olhos e solta um gemido de susto quando eu passo meu braço ao redor de sua cintura e puxo seu corpo para ficar mais próximo ao meu. Seu rosto ficou há centímetros de distância do meu, fazendo com que minha visão focasse em seus lábios pela primeira vez, eles eram rosados, pareciam macios e atrativos. Desviei meu olhar para seus olhos, me distraindo e navegando naquela imensidão azul como o mar.