Capítulo único: com um empurrão dos irikietá

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Oi, amorecossss! Tudo bemmmm?

Essa história é um conto original sáfico bem fofinho, boiola e que eu estava super ansiosa para mostrar para vocês! 🥺 Ele foi escrito para o livro de contos da Violeta "O Amor em Viola", cujo formato mudou: agora o livro terá apenas contos de autores novos, e os contos dos autores que já eram da vivi foram disponibilizados gratuitamente! Vocês podem acessar todos em oamoremviola.carrd.co, mas resolvi disponibilizar o meu aqui no wattpad porque é mais fácil de consumir e vocês estão mais acostumados, né!

Confesso que essa história é super importante pra mim porque faz tempos que quero publicar originais (e principalmente sáficos), então acho que essa é uma amostra da Mel Ikus que vem por aí e espero que vocês gostem!!

Boa leitura e comentem, porque amo saber o que vocês estão achando!! 💜

»🍰«

Entrei de fininho na casa do seu Fran e do seu Cris. Ainda bem que eles eram bem velhinhos e tinham a audição questionável, porque a primeira coisa que fiz foi tropeçar no granito da entrada da cozinha e cair em cima da mesa. Olhei ao redor, mas o escuro completo indicava que Kaluanã não estava por ali. Onde aquele irikietá safado tinha se metido?

— Kalu? — sussurrei, avançando mais alguns passos. Meu coração disparava no peito; eu morria de medo de alguém me encontrar xeretando a casa dos outros.

Como se fosse me ajudar de alguma forma, agachei-me no chão e fui, abaixadinha, caminhando para dentro da casa. Tirando o barulho dos meus esbarrões em móveis, ela estava silenciosa; acho que o seu Cris e o seu Fran já tinham dormido. Atravessando a porta entre a cozinha e o corredor vi, do fim dele, uma luminescência verde se aproximar. Com as patinhas curtas, o saruê subiu em meus ombros.

— Onde você tinha se metido, Kalu? — ralhei, engatinhando de volta para a saída.

Fazendo sua missão por você, guinchou ele, todo convencido. O muiraquitã não está aqui, mas a mãe dos irikietás dessa casa me contou que a gata-macambira da confeitaria já viu um no estoque.

— Será que é o muiraquitã mesmo? — Já do lado de fora da casa, ergui-me e fiz todo um esforço para pular o muro de forma discreta. Não que tenha dado muito certo. — Que amuleto difícil de achar!

Deve ser, Naná. Se não for ele, é algo do mundo irikietá; parece que a gata notou justo porque tinha energia espiritual. Kalu passeou pelas minhas roupas até acomodar-se na bolsa que eu levava atravessada pelos ombros.

— Bem, acho que é hora de ir pra confeitaria então. — Olhei a posição da Lua, protetora, no céu. Ainda havia algumas horas de escuridão sobrando, mas o pessoal da Confeitaria Bolo Fofo também vendia pãezinhos de manhã, então começavam a trabalhar bem cedo. Era mais seguro deixar para o dia seguinte, mas não só eu queria concluir a missão para receber o posto dos meus sonhos, como o estado da energia espiritual do bairro me preocupava muito.

Viola sempre foi um lugar rico em energia espiritual. Desde criança, eu era acompanhada para a escola por tatus, tucanos, jaguatiricas, miquinhos e outros irikietás. Por exemplo, o Kalu, aquele saruê fanfarrão e esquivo, tinha virado meu parceiro quando o salvei de uma gaiola elétrica aos sete anos.

Mas, há duas semanas, tudo começou a ficar estranho. O brilho verde dos meus amigos ficava cada vez mais opaco. Mesmo de noite, escondiam-se nas casas que guardavam, sem forças. Até mesmo a Irani, a bicho-preguiça mais brava e enérgica de todo o bioma, não acordava fazia dias.

Naná, a guardiã de espíritos silvestresOnde histórias criam vida. Descubra agora