Oneshot

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- Aaara... Mas esse negócio é muito difícil, Kevinho - Ramiro levantou da cama coçando a cabeça com o lápis que segurava em uma mão, olhando o caderno que segurava na outra - E-eu não entendo nada que tá escrito aqui. Ocê também fica me trazendo essas coisa aí de poesia, eu num dou conta.

- Calma, Ramiro. Você tava indo tão bem, não precisa ter pressa - Kelvin levantou também, seguindo o moreno com o olhar. 

- Eu não tenho pressa, não. Só queria saber o que tô fazendo. 

- Já vai saber, já. Só precisa ter um pouco de paciência.

- Paciência.. Pra ocê é fácil falar. Fala portuguêis, fala ingreis, vai embora pros estrangeiro. E eu fico aqui, igual um jumento. 

Kelvin sentiu uma pontada de tristeza pela fala de Ramiro. Sabia que ele estava sofrendo, não só por não saber ler, mas também com sua partida. Sem saber lidar com seus próprios sentimentos. Mas era difícil para ele também. Por mais que ele já soubesse e se amasse por ser quem era, não é como se fosse uma jornada fácil. Sentia que precisava ajudá-lo nem que fosse com o que era mais fácil, como ler e escrever. Foi então que teve uma ideia. 

- Rams, olha só, acompanha comigo - o agora superstar subiu na cama, energizado - Poesia não precisa ser difícil. Música é poesia, sabia? E você gosta de música que eu sei. 

- Eu gosto - disse Ramiro, se aproximando da cama novamente, tentando acompanhar o que o seu tutor queria dizer.

- Então! Quer ver como é fácil. Essa aqui é das que você gosta. Pega seu caderninho aí.

Kelvin desceu da cama, aqueceu a garganta e, com um tom aveludado e andando a passos suaves dentro do quarto, começou a recitar a música escolhida

Esse amor escondido, minutos contados

Amor proibido, sabor do pecado 

Ramiro deu um sorriso enquanto rabiscava as palavras em seu caderno. Mas esse sorriso logo foi embora quando ele começou a realmente ler a poesia que escrevia. Embora cantasse no banho aquela música quase todos os dias, o capataz não tinha se atentado ao real significado dela. E era impossível não fazer a conexão com as escapadinhas que dava para visitar o amigo. Quando não era visitado dentro de seu subconsciente.  

A voz de Kelvin o chamou de volta a realidade. Percebeu que as palavras já estavam escritas pela metade, fora da pauta do caderno surrado que usava para estudar. Ramiro levantou a cabeça e olhou para o loiro. Extravagante, como sempre gostava de estar, Kelvin era o oposto dele em tudo. Diferente até mesmo na coragem, que ele tinha de sobra pra ser quem gostava de ser. Já ele, não sabia viver de outra forma, nem para se atrever a ser feliz.

Vou te amarrar na minha cama

Kelvin percebeu o olhar do moreno sobre si. Com poucos passos, sentou na cama ao lado do amado, sem deixar de recitar a música preferida dele.

Só vai fazer amor comigo

Ramiro não podia nem imaginar alguém se aproximando do cantor sem sentir uma onda de raiva passar dentro dele. Não podia, ninguém podia, tocar sua pele macia como ele tocava, mesmo que timidamente. Senti-lo no colo, sentir seu perfume, sentir sua presença. 

Eu te quero e preciso

 Kelvin podia sentir as respirações se misturando enquanto os dois se aproximavam. Seu coração batia forte no peito, na expectativa. Quantas vezes já não tinha se entregado ao peão, que sempre fugia no último segundo.

Só junto de você a minha vida...

- ...faz sentido - completou Ramiro, com a voz rouca. 

A distância entre os dois já era mínima. Kelvin deixou o nariz encostar no do outro suavemente. Os dois estavam ofegantes, o quarto tinha ficado quente de repente. Ramiro bloqueou seus pensamentos, querendo se deixar levar pelo instinto. Até que, finalmente, o som do lápis e do caderno caindo no chão foram abafados pelo sonoro silêncio do encostar de suas bocas. 

Timidamente, os dois permaneceram unidos pelos lábios por alguns segundos. Kelvin encostou a testa na do capataz, olhando para ele. Ramiro continuava de olhos fechados, então o loiro deu mais alguns selinhos, até que pediu passagem para aprofundar o beijo. Ramiro, hesitante, permitiu que os lábios se separassem e recebessem o carinho do pequeno. Mas, ao sentir sua língua, não pode mais se conter. 

Com um movimento, Ramiro puxou Kelvin para seu colo. Com uma mão, adentrou da camisa cheia de glitter do cantor, apertando sua cintura. A outra subiu para a  cabeça, onde o segurou firmemente pelo cabelo. Kelvin soltou um gemido na boca do peão, agarrando sua camisa. Desabotoou a peça e jogou no chão do quarto, descendo com beijos pelo seu pescoço até chegar no peito forte que o trabalho duro do campo esculpiu com perfeição. Ramiro soltou um suspiro, agarrando seu corpo com as unhas, e o loiro retornou para voltar a beijá-lo na boca. 

Em instantes, a camisa glamourosa de Kelvin também estava no chão. Ramiro olhava com desejo para seu corpo, desbravando aquele novo sentimento. Sempre tivera tesão pelo ex-garçom. Mesmo pequeno, tinha um físico bonito, que ele já tinha desejado inúmeras vezes naquele bendito poledance. O moreno apertou suas coxas e deu um tapa em sua bunda. Kelvin gemeu e sorriu com malícia. 

- Bate de novo.

Ramiro mordeu o lábio. Deu uma palmada mais forte e Kelvin gemeu no pé do seu ouvido. As mãos brutas do trabalhador rural passeavam pelo corpo do amante, apertando, puxando, enquanto eles se beijavam. Percebeu que Kelvin começava a procurar sua calça, para desafivelar seu cinto.  

- Kevin...

- Fala

- Eu... eu não sei se eu to pronto pra... er... fazê outras coisas... - ele disse, tímido. Não sabia quais eram os próximos passos. E por mais que Kelvin já tivesse visto ele nu, era uma situação diferente, e ele não queria atropelar as coisas. Estava aprendendo ainda. Mas também tinha medo que o loiro ficasse decepcionado.

-  Ah. Não tem problema. - Kelvin ficou um pouco sem jeito de tentar avançar o sinal. Sabia que o capataz ainda estava se permitindo. - A gente pode ficar só se beijando, o que você acha? - Ele disse, dando um selinho nele.

- Eu acho bom demais. 

Ramiro puxou o pequeno para deitar com ele na cama, e eles voltaram a se beijar, se acariciar. 

- Kevin... eu posso te amarrar na cama pra ocê não ir embora pros estrangeiro?

- A-a-a-a-a... 

- Que foi?

- Tremi de tanta fofura! 

Sentido - KelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora