CAP. XXXIII

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-——Jake——-

  Acordo com meu celular tocando, checo o horário era próximo a três e meia da manhã,  vejo quem me ligava, me fazendo levantar na mesma hora,
- *Jake?* - voz dela era baixa e arrastada, como de quem estava com a voz rouca de chorar e gritar,
- Oi, ta tudo bem? Aconteceu algo? - pergunto preocupado pelo horário que ela me liga,
- *Eu-eu to na porta do seu apartamento.*
- Ja ti indo. - levanto sem mais perguntas, ainda com a ligação rolando, vou a porta e encontro Vic com uma das feições mais abatidas que ja vi, com o celular ainda da orelha,
- Oi. - ela diz pela ligação, tentando soltar um pequeno riso, apenas a abraço, ela cai com a cabeça do meu ombro, parecia exausta.

  - Entra, ta frio ai fora. - dou espaço pare a cacheada entrar na minha casa, - Quer alguma coisa? Água? Suco? Chá?
- Álcool. Qualquer um serve, pode ser até etílico. - Jones responde se jogando no sofá, com a cabeça jogada pra traz encarando o teto, me aproximo com duas latas de cerveja que tinha perdida na geladeira,
- Valeu. - ela agradece virando tudo de uma vez,
- Aarg. Tem mais? - a olho preocupado, e lhe entregando a lata que peguei pra mim,
- Você... gostaria de falar a razão de ter aparecido na minha casa a essa hora? - pergunto recesso, não querendo forçar a barra,
- Pode ser. Mas só se você tiver algo mais forte do que cerveja em latinha .
- Vou pegar a tequila.

  Estávamos sentados no chão, em frente ao sofá, e depois de alguns shots, não muitos, de tequila Victoria começa desabafar,
- Eu tive uma discussão, uma das feias com a Julia. - a mulher conta encarando o chão,
- Quer falar o que houve? Tirar do peito? - Vic vira mais um shot da bebida, acho que pra tomar coragem,
- Ela chegou as uma e meia da manhã fedendo a bebida.  Eu perguntei onde ela tava, porquê não me ligou, ela disse que eu não era a mãe dela, que ela não devia satisfação a mim. - posso perceber Jones morder o interior da bochecha antes de continuar,
- Aquela pirralha ingrata! - ela esbraveja, virando mais um gole da bebida, - Eu disse que a porra daqueles amigos não eram boa influência. Mas, ooh, eu sou apenas a irmã mais velha dela. - uma imitação irônica vem dela,
- Devia ser só a bebida falando. Não leve tão a sério. - tento melhorar a situação, mas pareceu somente piorar, principalmente quando uma gota escorre pela bochecha de Victoria.

  - Eu fiz tudo a ela. Quando nosso pai morreu eu prometi a mim mesma que cuidaria dela, assim como ele cuidou de mim. Que faria o impossível pra ela ter uma vida boa, uma vida saudável, mesmo com toda aquela merda de família que pouco se fudia pra gente. - a voz de Jones falhava, seu choro começa a intensificar, - Mas eu falhei pelo jeito. - um riso sai dela,  e mais um gole diretamente do gargalo da tequila e tirado, - Porra! Eu-eu implorava pra nossa mãe amamentar ela, porque ela não queria  "acabar com o corpo", e a Júlia não podia usar fórmula na época porque nasceu prematura de sete meses. Depois nossa mãe largou a gente na casa da nossa avó, mãe dela, que era uma puta racista. Nossa avó queria bater na Júlia por qualquer coisa, ela só tinha cinco anos, era uma criança. Então eu me oferecia no lugar dela, eu me oferecia pra minha vó não bater na Júlia. A tatuagem que eu tenho nas costas é pra esconder uma cicatrize dessa época. - mais lagrimas e mais bebida, eu apenas à abraçava pelos ombros, tentando transmitir um mínimo de apoio e conforto, - Eu trabalhava depois da escola, depois eu saí da escola pra poder trabalhar pra sustentar a Júlia porque nossa vó não se importava com a gente. Eu perdi o ultimo ano do meu ensino médio nisso, minha sorte que eu era um ano avançada. E ela reclama de mim, fala que prefere a mãe, a mesma que tentou abortar ela quando descobriu que tava grávida, isso só não aconteceu porque eu impedi!

  - Sabe, quando a gente veio pros Estados Unidos morar com nossos tios, eu pensava que eu poderia seguir minha vida, seguir meu sonhos, a carreira que eu sempre quis. Eu fiz isso, e eu não me arrependo nem um pouco. Porque assim eu consegui dar uma vida melhor pra Julia, mas ela parece não se importar com isso. Ela só vê como se eu fosse uma egoísta que não liga pra ela. Eu desisti de alguns relacionamentos por causa dela, porque alguns caras não conseguiam aceitar que ela era minha prioridade. E ela tem a pachorra de olhar na minha cara e dizer que eu não me importo com ela. E o pior é que eu fiz de tudo pra esconder a verdade dela pra proteger ela, pra proteger ela da nossa mãe que era uma pessoa horrível, uma pessoa que não podia ser mãe. Pra proteger ela daqueles anos de sofrimento e praticamente tortura que a gente passou tendo que conviver com a nossa vó, eu fiz isso porque eu não queria que ela ficasse igual a mim! Que ela não tivesse que passar por toda essa merda que eu tive que passar! E ela prefere a mãe, ela prefere nossa mãe. Ela nunca viu a nossa mãe pessoalmente, ela nem sequer saberia direito o rosto dela se não fosse por fotos. E eu sou a vilã da história.
- Victoria termina de desabafar em meio a lágrimas, sua expressão era vazia, mas podia ver a dor estampada em seus olhos. E Deus! Eu lutaria contra o mundo pra tirar aquela dor dela. Mas eu não poderia fazer isso, então fiz o que estava ao meu alcance no momento.

Parceiros no crime - Jake PeraltaOnde histórias criam vida. Descubra agora