Capítulo Único

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Tocantins se lembra bem de quando foi promovido a estado.

Ele chegou um pouco assustado, naturalmente desastrado, sentando em uma mesa que a pouco tempo atrás não lhe pertencia.

O tocantinense era apenas um secretário de Goiás, e agora se tornou responsável por um território inteiro, mudou de região, tinha que tomar conta de um povo, toda essa pressão fez seu lado extrovertido quase morrer.

Sua sorte que nessa mesma mesa com outros estados bem mais velhos, sentou outro novato.

Amapá, ou o esquentadinho do norte, sentou do seu lado com os braços cruzados e o biquinho mais fofo do mundo.

Eles já tinham trabalhado juntos, na época que o mais velho cuidadava do seu território federal e Tocantins era um mero secretário, conversavam apenas o que o trabalho permitia, não se atrevendo a aprofundar qualquer pequena relação que poderiam ter além de colegas.

Tinha apenas uma impressão de como Amapá era: um gostoso estressado.

Depois da reunião de início de expediente cada um foi para seu escritório, e o caos começou.

Tocantins derrubou alguns documentos que tinha na sua mesa, vendo eles voando por toda sala devido ao ventilador, um papel se atreveu a ir para debaixo a porta.

Desesperado, correu para pegar ele, abrindo com tudo e dando de cara com um moreno baixinho segurando o documento.

— Amapá? — Se ajeitou rapidamente, não queria parecer um desastrado na frente do rapaz.

O amapaense ainda estava com aquela cara de poucos amigos, mesmo com um nítido esforço para suavizar a expressão.

— Ainda não arrumou suas coisas? — Ele disse de maneira seca, dando uma olhada para dentro do escritório — Escritório novo é uma merda de arrumar, eles sempre deixam muito empoeirado.

Tocantins notou Amapá coçar o nariz, um ato fofo, ele diria.

— Ah, sim sim, ninguém me avisou que deveria ter vindo antes arrumar — Fazia um tempo que percebeu que os estados faziam algumas panelinhas, e até agora ele não estava incluso em nenhuma.

O mais velho, sem pedir licença, adentrou o escritório, xingando até a vigésima geração de quem cuidava da arrumação do lugar.

— Vai arrumando os papéis enquanto eu passo pano nas coisas, se fizermos tudo direito terminamos essa porra até o final do dia.

— Você não precisa me ajudar, aposto que está cheio de trabalho.

Amapá fechou a cara, ainda mais, seu biquinho ficou alguns centímetros maior.

— Cale a boca e faça o que mandei.

Tocantins fez o que foi pedido, sem reclamar.

Mal ele sabia que isso foi o início de uma relação esquisita.

Durante a manhã e a tarde algumas conversas aleatórias aconteciam, ambos se dando a liberdade de mostrar como suas personalidades verdadeiramente eram.

O tocantinense enchia o mais velho de perguntas, algumas eram respondidas e outras Amapá mandava o garoto calar a boca. Descobriu que ele o estava ajudando porque, bem, como seu domínio só mudou de nome ele continuava com o mesmo trabalho, então nada drástico aconteceu com sua agenda, tirando que agora estava diretamente no comitê dos estados.

Tocantins havia ficado encantado, encher o saco do amapaense era divertido, ver ele fazendo bico enquanto franzia o cenho o deixavam fofo e bonito.

O Brasil dos anos 80 foi um cenário perfeito para o começo dessa amizade, mas esse mesmo país anos mais tarde virou testemunha de algo maior.

Tarumã (APxTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora