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Os raios de sol da manhã apareciam por entre as árvores enquanto a garota caminhava em direção a loja onde ela trabalhava. Era um dia claro de fim de outono, as flores caiam das árvores que haviam florescido com o frio que havia chegado recentemente e que, no fim, deixavam as ruas um pouco mais coloridas. Em meio a muitos casacos e toucas, soldados patrulhavam a pequena vila de Yaris, no extremo norte do conhecido reino de Kalopsia, onde a arte dos elementos é proibida e os únicos tipos de manifestações aceitos são aqueles a favor do tirano.  

Ao entrar na loja, ela acendeu as luzes e suspirou ao ver o garoto com quem trabalhava deitado no chão, coberto com uma jaqueta atrás de uma estante.

—Não tinha onde dormir de novo, Isac? —Ela murmura, chutando ele levemente enquanto abria as cortinas e ajeitava os pincéis e tintas na frente da vitrine. - Você sabe que deve me avisar quando isso acontecer.

—Desculpe, Sühia, foi um dia cansativo ontem. Não consegui achar um quarto disponível. —Ele se senta, meio atordoado, e tenta esticar a roupa que estava no corpo, completamente amarrotada do garoto ter dormido no chão. Isac havia brigado com sua mãe há pouco tempo, então passava suas noites nas casas dos amigos e, mais frequentemente do que devia, passava noites na loja. Ele se levanta rapidamente e começa a ajudar ela a organizar alguns itens nas prateleiras depois dos dois dias que havia passado fora.

—O festival da flor do vento começa daqui dois dias, você está preparado? — A garota pergunta, enquanto tenta ajeitar o cabelo atrás da orelha pontuda. —Nós vamos distribuir dobraduras de flor de cata-vento para os adultos e cata-vento e pipas para as crianças. Eu já tenho tudo pronto. Você pode me ajudar nesse dia?

—É claro, eu posso ficar na porta distribuindo. Gosto das crianças.— Isac olhou pra fora pela janela, como se procurasse alguém, depois voltou a organizar os materiais que haviam chegado recentemente. Seus olhos azuis brilhavam com a iluminação natural no local, e eles se movimentavam rapidamente dos cabelos da garota para o marrom avermelhado do mogno da prateleira. —Você pintou o cabelo?

—Eu tentei, mas o laranja dourado não some. Acho que nunca vou perder a cor do cabelo dos meus pais. —Sühia suspirou e entregou a caixa com o estoque de tintas pra ele. — Como antiga serva do país do fogo queria me livrar disso o mais rápido possível, mas infelizmente papai gosta de ver que herdei isso dele. Ele tem sofrido com a falta de habilidade nas coisas de casa agora que sua perna de metal não funciona tão bem quanto antes e com o frio parece ainda pior, ele tem estado deprimido.

—Que pena. melhoras pra ele com isso. Oh, Lilith disse que precisava de você quando cheguei ontem. —Isac apontou pra porta dos fundos e ela assentiu, caminhando até lá. Lilith é uma alquimista, ou melhor, uma manipuladora do fogo. A cabeça de Sühia nunca parava de trabalhar e coisas como a história da sua família, seus problemas com o tirano e seu pai em casa, mas ela ainda tinha tempo para ajudar sua melhor amiga no que precisasse. 

Passando pela porta, o cheiro de madeira queimando e alguma substância desconhecida fez com que Sühia abrisse um largo sorriso. Aquele cheiro a fazia se sentir em casa, como se estivesse entre sua família, era uma das suas únicas formas de conforto longe de seu país e de sua vila atualmente destruída. Ao olhar em volta, ela percebeu que Lilith estava no canto acendendo uma nova fonte de calor pra qualquer que fosse a mistura nova que ela estaria fazendo.

—Como você consegue usar as sensações sem medo? —Sühia perguntou, se aproximando da garota. Ela estava concentrada no que estava fazendo e soltou uma leve risada ao ouvir a garota enquanto mexia no pequeno caldeirão acima do fogo, o líquido rodopiava e intercalava entre um tom de rosa claro e roxo escuro. 

—Eu tenho controle sobre o que tenho, Suh. Você nem sabe o que é isso que sente. E o nome é Elemento. —Ela assentiu e se virou pra garota, abrindo um largo sorriso. O cabelo vermelho-chama estava vinho na iluminação do fogo, o sidecut havia sido recentemente cortado e as tatuagens do pescoço estavam aparecendo. Lilith tinha poder pra esconder elas quando quisesse, e isso era algo que ela tinha herdado de família por acaso, assim como suas chamas ou qualquer que fosse aquilo que ela tinha correndo pelas veias. Ela também atendia por vários nomes, não se importando com os apelidos que a colocavam e nem se a confundiam com um homem. Ela era completamente focada em sua profissão e não ligava pra nada do que diziam dela. Sühia sempre a invejou por isso, queria não sentir nada. 

—'Tá, e para que precisa de mim? Você parece ter tudo sob controle. —Ela olhou pra garota e tombou a cabeça, em seguida olhou em volta para procurar algo para fazer, analisando o ambiente. 

—Tenho um paciente incomum hoje. Não sei o que fazer com ele. Achei que você poderia me ajudar. —Lilith olhou pra ela e assentiu, depois abriu a cortina que escondia a maca no canto da sala. 

—É um tiefling? Você sabe que só sei lidar com animais maiores. —Sühia se aproximou e arfou ao ver o homem deitado. Ele tinha uma ferida grande no braço e vergões roxos por todo o corpo, estava sangrando mas se recuperava rápido devido a magia de cura utilizada por Lilith. 

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⏰ Última atualização: Oct 02, 2023 ⏰

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