Acordo com a claridade batendo no meu rosto por causa da janela descoberta, levanto, tomando cuidado para não acordar a mulher do meu lado e o filhote, enroscado nas minhas pernas. Ando na ponta dos pés evitando barulho, pego minhas roupas e desço vagarosamente, deixando os dois dormindo. Me tranco no banheiro, realizando minha higiene antes de ir para o trabalho. Separo a roupa suja na cesta para lavar, saio, arrumo alguma coisa para comer, coloco na bolsa e parto. Antes de chegar a porta me deparo com minha mãe descendo as escadas.
- Bom dia, já está de saída? - Dou um beijo nela de bom dia e faço carinho no pequeno cachorrinho.
- Sim, já são seis horas e a padaria abre às sete, tenho que chegar lá para por tudo no lugar antes de abrir.
- Tá bom então, vai com Deus minha filha.
- Fica com ele, até breve mãe. - Me despeço dela com um beijo na bochecha e sigo meu caminho.
Observo como o dia está bonito hoje, céu azul bebê da manhã, com poucas nuvens, sem indícios de chuva, por mais que eu previra tempo chuvoso, a grama de um verde bem vivo, a vila já acordada com seus trabalhadores, padeiros entregando os pães, moças de família acompanhando suas mães nas compras, jornaleiros entregando seus jornais e outras moças lavando as roupas de seus filhos e maridos no poço, infelizmente poucos tem acesso a educação neste lugar, o estudo é reservado apenas para aqueles que possuem bons patrimônios e capitais. Filhos de lordes, duques e pessoas da realeza. Para uma mulher então! De acordo com a cabeça dessas pessoas, um livro na mão de uma mulher é ultraje, uma mulher estudar? Para que? Lugar de mulher é em casa, cuidando do lar e saciando as vontades do marido, suas próprias vontades, pouco importam. Até mulheres da alta sociedade tem o dever apenas de cumprir as obrigações dos lares, mesmo elas tendo acesso a educação. Para mim isso sim é ultrajante, repulsivo e me enoja, tenho o pensamento completamente diferente desses ogros, brutamontes, ignorantes. Herdei a personalidade da minha mãe, que segundo ela é um pensamento mais moderno e para frente, ela é minha heroína, me criou sozinha, sem nenhum tipo de ajuda e ainda precisando ouvir tais barbaridades dessa gente, libertina, depravada, bruxa, prostituta, entre outras ofensas. Apenas por não precisar de homen algum para nada e não se submeter a pensamentos tão ultrapassados, ela me ensinou tudo o que sei, ler, cozinhar, plantar, me inspiro demais nela.
Sonho com o dia em que largaremos este lugar e iremos embora para sempre, para um lugar onde eu possa abrir minha própria padaria, e minha mãe possa abrir seu próprio salão de beleza, um lugar lindo, cheio de artes, danças, alegria, pura e pulsante. Onde não precisemos nos preocupar com a nossa segurança, onde nos tratem como igual, com respeito, sem diferença entre homen e mulher.Viro a placa ao contrário, indicando que o estabelecimento se encontra aberto, aguardo a chegada de alguns clientes, o que não demora, logo vejo uma cabeleira ruiva familiar passando pela porta, observo, ela pega dois docinhos na estante e anda em minha direção.
- Bom dia! O que a senhorita vai querer?
- Bom dia Celene! Tudo bem com você? Comigo tudo está bem também, obrigada pela pergunta. - Fala com humor na voz, e um brilho brincalhão nos olhos azuis.
- Desculpa, eu estou bem e você?
- É, tudo na mesma chatice de sempre. - Aceno em compreensão.
- O que a senhora vai querer? - Torno-o a perguntar.
- O que a gente já conversou sobre formalidades ? - Ergue a sobrancelha ao perguntar.
- Desculpa Vassa, então?
- Bem melhor! Vou querer um pedaço generoso desse bolo delicioso. - Aponta para o bolo de nozes com doce de leite, coberto por chocolate branco.
- É pra já! - Busco a embalagem para colocar o bolo junto da espátula, corto um pedaço e entrego para ela.
- Muito obrigada, não sei o que seria de mim sem seus deliciosos doces. - Retira da bolsa marrom de moeda uma quantia e me estende, a pego, me preparando para buscar seu troco, antes dela esticar o braço me parando.
- Não precisa, fica. - Diz, deixando claro no tom de voz de que não aceitaria o contrário.
- Obrigada. - Falo, sem insistir.
- Então...
Estranho, Vassa nunca exita em dizer nada, o que ela tem que falar, ela fala na cara, doa a quem doer. Conheci ela quando começou a frequentar o lugar, atrás dos famosos doces da padaria, um pouco depois que fui contratada, aos poucos começamos a conversar, primeiro sobre os doces e dúvidas que ela tinha, depois sobre as pessoas da aldeia e quando já estávamos mais íntimas, iniciamos o assunto sobre pessoas próximas a nós. Eu falei sobre minha mãe, e que fui criada somente por ela, e Vassa falou sobre os dois homens com quem divia a casa em que morava. Falou como um deles era insuportável e a irritava demasiadamente, e como o outro era melancólico demais por um rabo de saia. Lucien e Jurian eram os nomes se não me engano, e em todos esses dois meses meses, nunca a vi exitar sobre nada, nem para chingar algum morador da vila por nos difamar, portanto era no mínimo preocupante ela está exitando.
- Vou realizar uma reunião em minha residência no próximo final de semana e gostaria de encomendar algumas dessas guloseimas. - Faço uma expressão confusa, era só isso? Vassa, logo percebe e acrescenta: - Gostaria também que você fosse. - Agora entendi, fico meio receosa em relação a isso.
- Por favor! Vai ser pouquíssimas pessoas que estarão lá e sua presença vai ser muito bem apreciada por mim. - Junta as mãos de baixo do queixo e faz um olhar pidão, como uma criança implorando algo para os pais na intenção de convencê-los a ceder. Acabo cedendo, tentar contra argumentar com Vassa nunca acaba bem, só iria me cansar e ainda sim, de nada adiantaria.
- Eu aceito ir, mas não voltarei tarde e nem ficarei muito tempo. - Acrescento antes dela começar a dá seus pulinhos da vitória.
- Entendido, não irá se arrepender.
Assim espero. Ela se despede e vai embora.
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Depois de você
RandomDepois da perda de sua Grã-senhora, Rhysand perdeu a vontade de viver. Todos os dias são vazios, não há felicidade, ele não mais vive, apenas sobrevive. Tentou acabar com a dor, mas não é o que Feyre iria querer, ela estaria totalmente decepcionada...