Capítulo 27

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RAFAEL.

- Eu queria buscar meu carro. - Madu resmungou no banco do carona enquanto íamos pra minha casa.

- A gente pode pedir pra alguém ir lá pegar. - sugeri e ela me olhou.

- Eu não tenho muitas opções, só tem Clara que mora perto da minha casa. Mas não pediria pra ela se arriscar indo lá, meu pai tá furioso.

- Seu pai precisa aprender que filhos a gente cria pro mundo. - ela me olhou debochada.

- Você fala como se tivesse vários filhos. - eu ri. - Você não tem filhos né?

- Quem te garante que eu não tenha? - olhei sugestivo pra ela que arregalou os olhos e eu ri de novo. - Não, não tenho filhos.

- E quer ter?

- Claro, meu sonho ter uma cria. Mas no tempo certo, ainda não tô preparado. E você?

- Na verdade, nunca pensei. Mas seria legal ter uma criança que saiu de mim, é louco pensar isso.

- Daqui uns anos quem sabe a gente não faz um moleque pra nós. - sem nem perceber falei incluindo ela nos planos do futuro. Sem nem saber se a gente tinha um futuro.

- Moleque? Porque não uma menina? - ela perguntou me surpreendendo, nem negou meu planejamento.

- Porque se eu tiver uma menina, estaria pagando por todos os meus pecados. Ia querer fazer ela virar freira. Um menino seria mais fácil de lidar.

- Só por isso, se tivermos filhos um dia, vou querer que venha uma menina. Dizem que homem safado é mais provável ter filha mulher. - falei e ele gargalhou.

- Não inventa. Quer saber? Deixa esse assunto pra outra hora! - mudei rapidamente de assunto porque não quero nem pensar em lidar com um monte de urubu em cima da minha filha inexistente.

- Ficou com medo? - Madu provocou e eu apertei sua perna com a mão livre. 

Parei num sinal vermelho e olhei o celular por poucos segundos. Olhei pelo retrovisor e vi um carro de polícia atrás de mim, como a sirene estava desligada eu me mantive neutro. Mas atento a cada rua que eu virava e ele permanecia colado na traseira do meu carro.

- Rafael? - Madu me chamou percebendo que eu estava mudando completamente a rota pra casa. - O que está fazendo?

- Tem um carro nos seguindo. - ela olhou pra trás e arregalou os olhos.

Não acelerei pra não parecer suspeito mas mudei completamente a rota e estava praticamente saindo da cidade.

A sirene ligou uma única vez e eu parei no acostamento já irritado.

- Porra... - desliguei o carro e Madu ficou tensa do meu lado. - Não fica nervosa linda, haja naturalmente.

Beijei rapidamente sua boca e ela assentiu.

O policial fardado bateu na janela do carro e eu abri o vidro pra ouvir ele falar o que queria.

- Boa tarde, sua documentação e do carro também. - entreguei pra ele que leu várias vezes. - Senhor Rafael, vai precisar vir comigo. A documentação do carro tá ok, mas precisamos levar você pra delegacia mais próxima. A moça é quem?

- Maria Eduarda. - ela respondeu e o policial assentiu.

- Porque eu preciso ir pra delegacia se minha documentação está ok? - indaguei já ficando puto mas disfarcei.

- Senhor, eu só preciso que venha.

- Tudo bem. - me virei pra Madu que me olhava apreensiva. - Leva meu carro pra casa, linda. Qualquer coisa eu vou te ligar, se eu não ligar, avisa o Cauê. - falei a última parte mais baixa.

- A arma... - ela falou baixinho se referindo à arma na minha cintura e eu neguei com a cabeça.

- Tá no porta luva.

Desci do carro e fui conduzido pro banco de trás da viatura.

- Rafael... sabe pra onde tá indo? - o outro policial que já tava dentro do carro perguntou e eu neguei com a cabeça cerrando os olhos.

- Você vai descobrir. - eles se olharam e riram.

Eles dirigiram até uma delegacia bem distante de onde estávamos, me algemaram como se eu estivesse sendo preso e foi quando eu entrei na delegacia que eu comecei a entender o que estaria acontecendo nos minutos seguintes.

Me levaram pra uma sala de interrogatório, eu fiquei sozinho por um bom tempo, mas logo a porta se abriu. Soares apareceu com um sorriso sínico no rosto.

- Rafael... - ele disse meu nome com desgosto. - Bom te ver de novo, cara. Como tá?

- O que você quer comigo? - perguntei me segurando pra não avançar no pescoço dele.

- Só quero conversar. - ele se sentou na cadeira de ferro na minha frente. - Deixou minha filha voltar pra casa sozinha... Parou pra pensar que eu estaria ao redor e observando cada passo de vocês?

- Se tocar um dedo nela, eu vou...

- Vai o quê? Ein, Rafael? - ele provocou. - Mais uma palavra e eu te prendo de vez por desacato à autoridade. Esse é só um aviso, minha filha vai voltar pra casa onde ela nunca deveria ter saído. Eu tenho provas suficientes pra prender você por sequestro.

- Sequestro? - ri irônico. - Que provas você tem? As câmeras da sua casa que também mostram suas agressões contra Maria? Isso sim é crime e um crime grave. Ou você vai mostrar a câmera do quarto dela mostrando que ela estava deprimida por uma semana enquanto você foi passear com sua mulher em outro estado. - cuspi as palavras sem nem me importar com o que ele pensaria.

- Tenho provas, imagens de você tirando minha filha de casa desacordada.

- Ela não estava desacordada, porra. Ela estava fraca porque tem um pai de merda que pouco se importa com o bem da filha. - ele bateu na mesa com a mão e eu nem me movi.

- Cala a porra da sua boca, garoto. - ele socou meu rosto e eu olhei bem no olho dele. - Tu não sabe de nada, vagabundo!

- Me agradeça, Soares. Porque se não fosse por mim, Maria Eduarda nem viva estaria agora. - eu falei baixo.

- Ela vai voltar pra casa. Pode ter certeza! - apontou o dedo na minha cara e deu a volta na mesa.

Ele soltou minha algema e se abaixou na altura do meu ouvido.

- Espero que tenha entendido nossa conversa.

O CHEFE DO TRÁFICO [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora