A Aparição

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O mundo a minha volta é como um emaranhado, objetos e criaturas se misturando em novas entidades, o céu azul repleto nuvens é meu palco, e acima da minha cabeça uma vastidão escura como um buraco-negro, repleta de estrelas. Cores e sons se juntam e ganham vida, criaturas magnificas, tão surreais, que nem seria possível descrevê-las com palavras ou ilustrações; meus pés afundam nas águas que refletem as estrelas acima, as entidades dançam a minha volta, é tão lindo que minha mente mal consegue acompanhar, tudo isso era apenas a entrada, como um presente de desculpas de um amigo que desaparece, mas volta pra te visitar do nada; eu sei que o que está por vir é o ápice de tudo, ela é como uma manifestação desse lugar em um único ser, a visão dela é de outro mundo, a sensação... Eu nem consigo descrever. Aos poucos o corpo d'água aos meus pés se eleva, e a água passa a escurecer, céu, terra e mar se tornam uma coisa só, a música se transforma em sensação e as cores se misturam sobre mim, formando nuvens difusas em espiral que se assemelha a pequenas formações de gálaxias, como se um universo inteiro estivesse se formando bem em cima de mim; a música - sensação - se intensifica, eu sinto ela mais próxima, é como se fogo me consumisse de dentro para fora, mas ao invés de dor, eu sentisse o mais puro prazer, uma dose de dopamina, tão forte, que minha mente se desfaz, e do puro nada, eu me torno um com tudo ao redor, a luz branca irradia forte com a chegada dela, meus olhos transbordam lágrimas e as pontas dos meus dedos anseiam pelo toque da pele dela, nós dois, como dois astros em rota de colisão, mas eu sou uma estrela decadente, fraca e no final do meu ciclo, ela é como um universo inteiro vindo em minha direção, tempo, espaço, luz, matéria, sentimentos, sons; tudo isso em uníssono; meu coração acelera de dor, sinto minha pele suando, eu não vestia nada, não era necessario; a imagem dela era indecifrável, algo que mal podia assimilar, dessa vez, eu não deixaria que ela escapasse, nós vamos ficar juntos, aqui, pela eternidade; eu não vou suportar voltar sem ela mais uma vez, afasto o pensamento indesejado, não vou pensar nisso, não agora, nem nunca mais. A mão dela se estendia para mim, estamos tão perto, mas ainda a éons de distancia, seus labios sussurram algo, como se ela estivesse ao meu ouvido, mas ainda não foi possível ouvi-la, seu sorriso era um sinal divino, mas indicava sua traição, aos poucos, a distância entre nós aumentava, e o mundo a minha volta se tornava um borrão, eu sentia que tudo aquilo estava prestes a ruir, eu não ia suportar isso de novo, eu gritei, mas minha voz era abafada, ela se desfazia bem a minha frente, a sensação, a música estava indo embora, sinto meus olhos arderem, minha visão embaçada, eu gritei, de novo, e de novo; minha garganta era como tecido puxado contra arame e farpas, eu implorei para que ela me deixasse em paz, ou que me levasse com ela.

                  As minhas mãos tremiam, eu não conseguia piscar, eu sentia o suor escorrendo da testa, eu tentava engolir meu choro, mas era como tentar segurar uma represa com as pálpebras; eu não suporto mais isso, os remédios não me ajudavam mais, pareciam piorar na verdade, eu me sentia pior cada vez que acordava e me dava conta de que ela não estava comigo, eu não conseguia me levantar da cama, já fazia alguns dias que não comia nada, me sentia fraco, tudo estava escuro, devia ser madrugada ainda, logo ao lado da cama, no chão, uma porção de cartelas com comprimidos estavam espalhadas como havia deixado, meu celular estava quase descarregado, mas marcava dia vinte e três, era domingo, eu dormi por dois dias. A voz dela ainda ecoava nos meus ouvidos, ela está me chamando, eu preciso voltar, eu não posso deixa-lá, eu não sou nada sem ela... na mesa de cabeceira, a única coisa que me trazia conforto nesse mundo, uma foto dela, estamos juntos, ela estava sorrindo, a como eu sentia falta daquele sorriso, meus dentes se expões em um sorriso amarelo, seco, meus labios feridos e ressecados, eu nem sentia mais, para falar a verdade, eu estava próximo de chegar lá, ela não pode me deixar aqui sozinho, eu não sei se estou falando comigo mesmo, se estou imaginando alguém aqui, me observando, eu não me importo mais. Ela se foi por minha culpa; é hora de voltar, de ficar junto dela, os antidepressivos, os remédios para insônia, os para ansiedade e mais alguns outros, juntei uma porção boa deles, e engoli tudo que podia de uma só vez, senti meu corpo parando de responder, algumas convulsões me derrubaram da cama, minha garganta se fechava, meu peito ia explodir, o ambiente a minha volta fica turvo, as paredes derretiam como se fossem feitas de gelo, meu corpo se dissolvia no chão e eu me tornava parte do piso, os lençóis emaranhados nas pernas eram raízes de árvore, a luz e as sombras eram uma coisa só, o mundo ia e vinha a minha volta, um sussurro que parecia um grito de agônia ecoava nos meus ouvidos, como uma suplica, tudo estava tão rápido, eu sentia meu ser indo de encontro aquele mundo maravilhoso novamente, minhas feições relachavam enquanto eu contemplava a mudança no cenário. Até finalmente estar novamente, naquele paraíso, havia uma música, que sempre tocava bem sútilmente no fundo da minha mente, era a música que ela mais gostava, eu havia mostrado para ela pouco depois que nos conhecemos; o som se misturava com meus pensamentos e a sensação vinha com tudo, como se um caminhão me acertasse, despedaçando meu corpo inteiro, minha mente se desfazendo, como uma jarra sendo derramada, sangue fervendo no peito, sentia a euforia, meu sorriso macabro coberto de lágrimas me assombrava, mas eu sentia novamente a aproximação dela, dessa vez, eu ouvi sua voz, claramente, "eu vim atender seu pedido", então sem pensar eu respondi "me leve com você...", era tudo o que mais queria, todos os anos que passei longe dela, tudo o que a gente podia ter vivido juntos, tudo o que eu tirei dela, tirei de nós, passando diante dos meus olhos, como um turbilhão, implacavél, eu não conseguia dar conta de tudo isso, nós dois finalmente somos um; minha mente, meu ser, finalmente, tudo cessa, e minha última memória é o silêncio ardente.

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