Capítulo 1

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               Sanches - 37 anos

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               Sanches - 37 anos

Bato os dedos nos joelhos, vendo minha sombra na resta da pouca luz do sol, que entra no local fechado. Passo a língua pelos lábios, sentindo meu corpo agitado e o tempo parecendo parar, a cada pensamento meu, o que eu mais quero agora é ver um fardado chamando meu nome, eu só quero a saidinha de fim de ano pra eu relaxar mais do que já sou. Me levanto, olhando o tanto de homem dormindo e os detentos da outra cela tudo agitado.

Eu: Bernan, falta muito pro Vinhas chegar? - pergunto baixo e ele nega, ajeitando o uniforme no corpo - Antes de ir, eu preciso fazer uma ligação, mas tem que ser coisa rápida, arruma pro Sanches - ele estreita os olhos e se aproxima da grade de ferro.

Olho nos olhos azuis, vendo o olhar dele vacilar, é o tipo de homem que tenta viver de acordo com a lei, mas é só pensar nas notas que ele cede, é disso que o mundo é feito hoje em dia e eu seria desse tipo, bota dinheiro na minha frente e vê o Sanches se transformando. Dinheiro é tudo nessa vida, é melhor ser triste e rico do que ser triste e pobre, assim eu penso.

Bernan: Não me bota em furada, Sanches - ele fala baixo, olhando pra dentro da cela, mas entrega o celular - Nokia tijolão, sabe mexer? - eu olho o quadrado e confirmo.

Tem 6 anos que eu tô preso, meu crime não tem fiança que pague, porque foi um caso que caiu na mídia, então eu me fodi pra caralho. Mas pelo meu bom comportamento, eu consegui uma saidinha, tudo isso graças a minha advogada.

Disco os números no teclado do celular e levo até o ouvido, esperando o toque chegar do outro lado e alguém me atender. Passo a mão no cabelo e abro minha boca, soltando o ar quente da respiração calma.

___________

Bacu: Sanches? - ouço a voz do outro lado e aponto pra frente, vendo o policial se afastar - Pode falar, tô na escuta, me deixou sem notícias faz horas nesse caralho - eu me sento no colchão e deixo ele falar - Quando eu te pegar, eu vou te dar além dos beijos, uma surra do caralho - eu solto uma risada rouca e ele ri do outro lado.

Eu: Tava sem celular, a doutora tomou o meu - ele estala a língua no céu da boca e eu olho pra frente, vendo todo mundo dormindo - Vou sair hoje, prepara a contenção pra minha ida no morro e eu deixo tu me beijar, a surra vou ficar devendo - falo sorrindo e ele estala a língua no céu da boca - Quando eu sair, eu falo contigo.

Bacu: Tranquilo, mas me avisa mermo - ele faz pausa e volta a falar - Vou arrumar um agito logo agora, vou te meter numa lancha ainda hoje - eu me levanto, ouvindo o barulho das grades - Vamo matar a saudade de 6 anos, mas eu quero ser tratada igual dama - eu desligo na cara dele e o Bernan pega o celular.

Bacu é o meu fechamento lá fora, é o meu primo e eu deixei no comando do Jacaré, a Vila Cruzeiro tá na mão de um conhecido dele, eu deixei porque confio. Aqui dentro eu mantenho meu ritmo, nunca cai no conceito, muito pelo contrário, eu subo a cada dia. Em Bangu 1 quem manda sou eu, sou os olhos e ouvidos da facção, então é pouco papo, gosto de agir na calma, porque afobação só fode tudo, então é na calma que eu resolvo a minha vida.

Por uma BucetaOnde histórias criam vida. Descubra agora