Normal

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AVISO: as coisas podem mudar conforme os episódios da serie são lançados.

Olhando através da grande janela da sala, Kiara observava as linhas do tempo se ramificando livremente do outro lado do vidro. Os tons brilhantes do roxo, rosa, branca e azul como o do universo era uma visão absolutamente deslumbrante.

Kira, seu álter ego revoltado, estava estranhamente silenciosa. Talvez ela estivesse cansada ou irritada com a Kiara, atualmente no controle, de qualquer forma, era bom não ter emoções de 'outra pessoa' te afetando.

Eu estava chateada, sua vida havia mudado drasticamente nos últimos... eu não tenho nem ideia de quanto tempo se passou desde que fui capturada. Tudo por resolver seguir um caminho diferente do que foi escrito para mim. Eu só desejava ter minha mãe de volta. Mas no final eu só consegui mais um trauma para a coleção e uma imagem que nunca irei esquecer.

A minha linha do tempo foi apagada. Não tenho pra onde ir a menos que eu mate e substitua uma versão de mim com uma vida mais satisfatória do que foi a minha. O problema é que não havia como encontrar uma linha do tempo certa. Não de primeira de qualquer forma, e eu não estou a fim de ir em diferentes universos até encontrar o certo.

Além do mais, minha única saída dali seria o temp pad do Aquele que permanece, assim como da Sylvie. Tenho a impressão de que ela não está a fim de sair por aí procurando pra me ajudar a substituir uma variante.

Tentei dar um tempo pra ela, ainda sentada no chão. Eu não tinha ideia de como lidar com essa situação, mal consigo lidar com as minhas, imaginem a de outras pessoas. Especialmente quanto a figura problemática é alguém com o histórico da suposta deusa da trapaça. Eu não tenho certeza se daria pra considera-la uma deusa da trapaça. O Loki eu sei, sem dúvidas, que sim, mas ela não é como nenhum dos Lokis que conheci. Ela não é Loki.

Me virei pra ela percebendo que o aparente choro havia parado. Não tinha certeza se ela chorou e honestamente achei melhor não perguntar. Não é como se ela fosse simplesmente dizer que sim.

Andei ate ela devagar, desviando do corpo sem vida do homem na cadeira e da mesa que ela jogou pro lado com sua magia. Eu parei ao lado dela e hesitantemente apoiei a mão no ombro dela. Não tinha ideia se era uma boa ideia, mas não podíamos ficar ali pra sempre.

Sylvie levantou a cabeça e olhou pra mim. Tudo o que fiz foi tentar dar um sorriso, que senti que pareceu mais como se eu estivesse apertando os lábios. Ela se moveu pra se levantar e dei um passo pra traz pra que ela prosseguisse.

Ela olhou pra mim e deu um leve sorriso, que devolvi com um maior. Depois de um suspiro e uma breve pausa, ela olhou para o estranho temp pad e eu inclinei a cabeça pro lado, curiosa com o que se passava na cabeça dela.

-Podemos ir pra qualquer lugar...- Ela comenta baixinho, ainda pra que eu escutasse, mas também para si mesma, ainda analisando o aparelho e pensando.

-Você quer que eu vá com você?

-Acho que não temos muita opção quanto a isso.

-Certo. – Eu digo e sorrio. – Eu quis dizer... você quer que eu fique? Acompanhe pra onde você for? -Eu me corrigi e olhei curiosa, e lá no fundo esperançosa.

-Você gostaria?

-Eu não me importaria. – Eu falo como se não fosse nada, dando de ombros, mas sorrio logo em seguida. – Então? Pra onde vamos?

Ela olha pra frente e da de ombros. Um portal laranja aparece na nossa frente e eu a sigo através dele.

Nos encontramos em um campo, claramente na Terra. Eu apenas arqueei a sobrancelha e a segui. Andamos por um tempo até chegarmos a uma cidade. Sylvie olhava em volta, analisando o lugar, mas principalmente as pessoas. Depois de passar a vida inteira fugindo de apocalipse em apocalipse, devia ser difícil e solitário. E a primeira pessoa que ela sentiu proximidade foi o Loki. Quanta sorte.

Eu por outro lado, observava o mesmo por uma razão diferente. Devido as coisas a que fui submetida analisar o cenário era um costume. Nunca estive nesse lugar antes, mas era estranhamente familiar. Era como quando eu morava em Westview com a Wanda... pensar nisso me dava um aperto no peito, eu provavelmente nunca a veria novamente, pelo menos não a que me via como irmãzinha... mas isso me fez perceber o porque era familiar, era tudo como em um dos 'episódios' do Hex, o que se passava na década de oitenta mais especificamente. O que significava que elas estavam na verdadeira década de oitenta.

Passamos por uma venda de jornais e, ao parar, pude perceber que meu palpite estava correto. Era 1982, em Broxton, Oklahoma.

Continuamos andando ate eu avistar um McDonalds, percebi que já fazia um tempo que eu não comia. Mal dá pra contar os pequenos petiscos que comi pelo caminho. Apontei na direção, mas não esperei, já agarrei a mão dela e comecei a andar na direção do lugar.

-Kiara! Espera! O que tem lá? – Ela pergunta enquanto tenta me acompanhar e luta inutilmente pra me desacelerar.

-Comida.

-Mas é claro...-Ela fala, e pelo tom, não precisei olhar pra saber que ela tinha revirado os olhos pra mim. – Você come tanto quanto o Loki fala.

Assim que entraram receberam alguns olhares dos funcionários, mas era normal considerando os trajes que a Sylvie usava. Fomos ate o balcão comigo seguindo na frente. Me apoiei no balcão e comecei a olhar as opções as pessoas trabalhando na parte de trás. Meus sentidos aguçados me fazendo sentir todos os cheiros, mas principalmente o do hambúrguer.

-Como eu faço isso? – Ela pergunta se apoiando no balcão, eu olho pra ela confusa se a pergunta era pra mim ou pro caixa.

-O que vai querer? - O caixa pergunta e eu faço um barulho com a boca, apoio um dedo no queixo e estreito os olhos, mostrando que estou pensando. Algo como uma criança normal faria. Pelo menos eu acho que sim.

-Nada de esquilos, nem gambas nem ratos. Alguma coisa que já esteja morta. E nada que tenha rosto. – Eu vou virando a minha cabeça na direção dela enquanto ela fala, era estranho, mas também triste perceber que era o que ela andou comendo por toda a sua longa (muito, MUITO longa) vida. Ela termina com um por favor e o homem a olha muito confuso.

Ela se vira pra trás e olha pras pessoas em volta enquanto o cara tagarela sobre as opções. Ele deve atender muita gente estranha pra só ter feito uma cara confusa e seguido em frente como se fosse mais uma terça feira comum.

Ah, se ele soubesse...

-Eu quero experimentar tudo. - Ela fala e segura minha mão. Fofo, mas continuo de olhos arregalados e preocupada.

Sei que ela não falava da comida, mas o pobre homem não. Além do mais, vai fazer meu plano original ir pelo ralo, não vai dar pra roubar tanta comida.

Como ela espera pagar?

Único destino pt3Onde histórias criam vida. Descubra agora