[T] Outro Lado

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Não sabia dizer por onde andei, apenas que meu corpo sentia as dores do caminho. Pesado, como se tivesse uma força invisível me pressionando, mesmo que quisesse, não conseguia me mover. Nem mesmo os olhos, me mantendo numa escuridão suprema e infinita.

Desistindo da visão, me concentrei nos sons que chegavam aos ouvidos. Ainda um pouco distantes com um zumbido insistente e agudo. Por um segundo a sensação que tive foi de estar o fundo do mar, a pressão, os sons abafados, a distância da superfície de realidade enquanto afundava em direção ao desconhecido.

Minhas lembranças também estavam confusas, alguns lampejos de cenas gravados na mente, entre eles o destino moldado a partir da mudança do tempo. A previsão de Nighteye que foi quebrada e deu a Midoriya uma nova possibilidade de futuro.

Sei que a luta ultrapassou o subsolo, uma vez que em certo momento, num vislumbre de lucidez, avistei os reflexos de sol dourados iluminando a câmara onde aconteceu a luta contra Chisaki. Na literatura fantástica que ocasionalmente me pego lendo, se assemelha a um portal etéreo que se apresenta para livrar alguém do sofrimento.

Subitamente, fui resgatada da profundeza dos pensamentos por um bipar constante, o sinal dos batimentos cardíacos que estavam sendo medidos por uma máquina de hospital.

Abri os olhos, com um pouco de dificuldade, a visão embaçada e uma latência aguda na cabeça me forçaram a os fechar em seguida. Respirei o mais fundo que consegui sentindo cada parte do corpo dolorido, mais uma vez esgotei minhas horas de individualidade forçando o sistema a apagar após parecer explodir de energia solar por dentro.

As pupilas pareceram se ajustar a luz e em seguida abri novamente os olhos para ver um quarto de hospital comum, normal perante as condições de uma pessoa internada, uma vez que havia diversos aparelhos me monitorando.

Não havia ninguém ali esperando para que eu acordasse, considerando como é meu pai é mais capaz que ele estivesse internado no quarto ao lado por conta da preocupação.

O relógio na parede me informou que levou quinze minutos para entrar uma enfermeira e ver que eu estava acordada. A mulher, deixou a prancheta cair no chão e correu para a lateral da cama verificando rapidamente os aparelhos e saiu depois de dizer algumas palavras que pouco prestei atenção.

Logo em seguida um médico retornou com ela. Ele colocou a lanterna nos meus olhos para checar os reflexos e fez algumas perguntas de sim ou não.

Eles trocaram a máscara de respirar, mantendo apenas o tubo no meu nariz me permitindo falar.

— Senhora, seu acidente foi muito sério — me disse —, vamos precisar a manter no hospital por mais algum tempo e fazer alguns exames, tudo bem?

— Sim — respondi, a enfermeira me deu água num canudinho, mas ainda assim minha voz saiu áspera, rasgando pela boca seca como areia.

— Vamos avisar sua família, para os tranquilizar, mas provavelmente ficará no hospital por mais algum tempo — me avisou.

Não me disseram muito sobre a situação, apenas que eu estava fora de risco. Sem tempo de perguntar a respeito dos alunos da 1-A ou o que aconteceu com o resto da missão, os profissionais saíram sem muito dizer.

Pouco havia para fazer além de olhar para o teto e os móveis sem graças do quarto, me vi cochilando apenas para acordar e reparar numa figura sentada no canto na poltrona dedicada a visitas. O homem olhou por cima da revista e quando os olhos se chocaram com os meus ele se levantou.

— Um jeans rasgado também pode ser estiloso com a pessoa certa. Como está se sentindo minha sobrinha?

— Bem o suficiente para entender suas analogias com jeans — segurei um riso, sabendo que ele quis dizer que eu parecia bem apesar dos machucados.

Litō - (Dabi x [Nome] x Hawks)Onde histórias criam vida. Descubra agora