03 - Vizinho ao Lado

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Shoyo não levou mais que cinco minutos para chegar em casa, e então se apressou para subir até seu apartamento e pegar a pasta com seus projetos e seu notebook, que continha o rascunho de tudo. Desceu com uso do elevador, usando o mesmo táxi para ir até a empresa.
Não levou muito tempo, pagou a corrida e foi correndo até seu departamento, estava um pouco apreensivo, afinal, temia que seus projetos fossem rejeitados. Vestia roupas casuais, se esqueceu de colocar um terno para comparecer ali, mas esperava profundamente que eles fossem compreender, até porque, a ligação foi de última hora.
- Aqui está... - Hinata entregou a pasta ao seu superior.
- Obrigado, esqueci de mencionar, estamos com uns problemas no departamento de dublagem, você não pode nos ajudar?
- Posso sim, do que se trata?
- Um dos nossos dubladores vai se mudar e tá muito encima da hora pra contratar serviços, você não pode ajudar na mudança?
- Eu posso... mas por que justo eu?
- Ele vai se mudar para o mesmo apartamento onde você mora, então fica mais fácil. Você pode até ajudar nos primeiros dias, que tal?
- Tudo bem, posso sim, mas quem é?
- Senhor, eu já arrumei as caixas. - Uma voz altamente familiar e grave surgiu pelas costas de Hinata, que o deixou um pouco assustado de início, que chegada imprevisível...
- Ah, já? Que bom, eu também consegui alguém pra te ajudar.
- É ele? Ele não é um pouco... pequeno demais?
- As aparências enganam, Tobio.
O superior passou por Hinata e foi até Kageyama, dando dois tapinhas no ombro esquerdo dele, deixando escapar alguns risos.
O ruivo agora teve total certeza de quem se tratava, era realmente Kageyama, estava paralisado, como poderia encontrar ele em uma situação dessas e agora, sabendo que seriam vizinhos... mil fanfics começaram a se passar pela sua cabeça, ficou até meio perdido. Sua ficha iria demorar para cair, ter seu ídolo como seu vizinho... e se algum dia ele entrasse em seu quarto e visse todas as figuras em suas prateleiras??? Sem contar o travesseiro que dormia agarrado toda noite com a figura de Arcano estampada.
- Ei, não tá ouvindo?
- A-Ah! De-Desculpa... - Hinata se virou, mas não tinha coragem de encará-lo, estava com tanta vergonha que tentava esconder o rosto, de uma forma que ele não pudesse ver. - Por onde a gente começa? - Inconscientemente queria fugir, por mais que seu sonho fosse conhecê-lo, não estava pronto e nem emocionalmente preparado para isso.
- Vamos levar as caixas pro carro da empresa. Eu comprei um apartamento mobiliado, então só preciso levar poucos pertences meus... Na verdade, a vida toda só vivi em lugares mobiliados mesmo.
- Certo... E onde estão as caixas?
- Na despensa.
O ruivo assentiu com a cabeça e seguiu o mais rápido que pôde até a despensa do setor, dando de cara com um amontoado de caixas. Não eram muitas, mas também não eram poucas. Ele sentiu ser seguido por Tobio, o que o deixava mais nervoso ainda, pode escutar seus passos firmes que cada vez mais vinha se aproximando.
- São só essas aqui?
- Tá vendo mais caixa além dessas?
Que lapada seca, depois dessa ele até ficou quieto. Então, Hinata ergueu duas caixas empilhadas, as carregou até um canto para que pudesse separá-las, mas sua mente estava em outro lugar. Por acidente, tropeçou em uma corda enrolada e largada no meio do corredor, era seu fim, iria derrubar as caixas de Kageyama e ele iria culpá-lo para o resto da vida... Antes que pudesse cair de cara no chão, sentiu um braço se envolver em sua cintura e trazê-lo para perto, e quando se deu conta, seu corpo estava praticamente colado com o de Tobio, mas as caixas caíram. Teve um momento de silêncio até Hinata se afastar e se curvar.
- D-Desculpa! Eu... Ahn ... Derrubei as caixas sem querer, desculpa!
- Tá tudo bem, eram só roupas ali dentro. Você se machucou? - Kageyama recolheu as caixas e pôs sobre um carrinho normalmente usado como transporte dentro do armazém.
- ... Não.... - Hinata só conseguia pensar em quão firme eram as mãos de Kageyama, seu corpo inteiro estava arrepiado agora, jamais se esqueceria daquele toque, mesmo que tivesse sido acidentalmente, desejava cair assim mais vezes na frente dele. Inconscientemente estava com um sorriso em seu rosto suavemente vermelho. Então, colocou mais algumas caixas nos carrinhos e então, foi para o elevador.
- Tem outro carrinho aí, vou pelo elevador.
- Me espera.
Kageyama colocou três caixas em um carrinho e foi para o elevador, logo atrás de Hinata. Desceram ao primeiro andar e colocaram as caixas todas no porta-malas e no banco de trás. Voltaram mais uma vez para pegar as caixas que sobraram e então, arrumaram tudo dentro do carro.
- Você sabe onde é o apartamento?
- S-Sei, eu moro lá... - Hinata sentou no banco do motorista, mas Kageyama resmungou alto.
- Você sabe dirigir? É melhor eu ir no motorista.
Hinata apenas saiu do banco e deixou Tobio entrar, e então foi para o passageiro. Shoyo estava com vergonha de dizer que era fã de Tobio, estava apreensivo e se segurando muito.
- Você trabalha ali?
- S-Sim, no departamento de design.
- Entendi... Você não terminou a faculdade ainda, né?
- É, eu tô no último ano da faculdade.
- Entendi.
Kageyama dirigiu até o apartamento onde eles morariam. Os dois juntos deram conta de carregar as caixas até lá, e para a surpresa de Hinata, era o apartamento ao lado do seu, eram vizinhos de porta também.
- Onde você mora mesmo?
- Ah, ali... Naquela porta. - Hinata apontou para o apartamento ao lado.
- Hm, bem perto...
Eles abriram as caixas e aos poucos foram colocando os pertences de Kageyama no apartamento, até esvaziarem todas as caixas e deixarem aquele lugar arrumado. Não foi um serviço muito pesado, já que ele não tinha muitas coisas a serem guardadas.
- Acho que acabamos. - Disse o ruivo, se espreguiçando.
- Sim, e talvez eu vá ao mercado mais tarde pra terminar.
- Você precisa de mais alguma ajuda?
- Não, obrigado. Valeu pela ajuda até aqui.
- Tá... Vou indo. - Hinata se virou para voltar ao seu apartamento, no entanto, sentiu seu braço ser segurado por Kageyama.
- Ei, espera. Como trabalhamos na mesma empresa, podemos ir para o trabalho juntos de vez enquanto.
- S-Sério...? T-Tá bom então... - Hinata estava internamente bufando em vergonha, se contendo ao máximo para manter uma feição boa. Nisso, Tobio soltou seu pulso e o deixou ir. Assim que Hinata passou pela porta de seu próprio apartamento ele saltou direto para a cama, rolando e dando gritos de felicidade, as melhores coisas acabaram de acontecer consigo hoje, mal podia acreditar, só podia estar sonhando. Ele tinha que contar essa novidade para os seus amigos, era com toda certeza a primeira coisa que faria. Aproveitou que iriam beber essa noite, e contaria lá mesmo.
As horas se passaram e então, Hinata tomou um banho e colocou uma roupa casual para sair à noite com seus amigos, afinal, haviam combinado de sair para beber e é isso que fariam. Não se arrumou muito, afinal, estava um equilíbrio entre frio e calor. Combinaram de se encontrar em um bar próximo, onde costumavam ir. Hinata foi o último a chegar, se aprontando para se sentar na mesa onde seus amigos estavam.
- Eu tenho uma notícia muito boa pra contar! - Hinata estava verdadeiramente radiante.
- Conta!
- Diz logo, você tá deixando a gente ansioso!
- Eu... VIREI VIZINHO DO KAGEYAMA!!!! - Hinata quase explodiu de tanto ânimo. Os três rapazes que estavam ali pularam igualmente, essa era uma conquista das BOAS. Alguns olharam, mas nada muito fixante.
- Mas como?? Do dia pra noite?
- Lembra que meu superior me chamou hoje mais cedo? Então, era pra carregar as mudanças do Kageyama, já que ele viria a morar no apartamento ao lado do meu. Foi muito rápido, ele não tinha tantas coisas pra arrumar assim.
- Você pediu autógrafo???
- Não, fiquei com vergonha, mas quando eu tava indo embora ele me segurou pelo braço e disse que a gente poderia ir pro trabalho juntos as vezes! - Hinata cobriu seu rosto vermelho.
- Ele é atacante! - Asahi deu um empurrãozinho em Hinata.
- Então você não é só fã do Kageyama, também é um admirador secreto? - Sugawara disse rindo, com os braços cruzados.
- N-NÃO!! Eu só gosto muito dele! - Tentou negar a todo custo, mantendo seu rosto atrás das próprias mãos.
- Acho que isso é mentira, viu? Tá na cara. - Nishinoya tinha a clara intenção de colocar lenha na fogueira, e sequer escondia.
Hinata parecia um pouco preocupado em questão ao seu segredo, e se eles descobrissem? Não disse mais nada, apenas se encheu de álcool, bebendo até ficar realmente bêbado e um pouco fora de si.
- Ele ficou bêbado? - Sugawara observava a forma como o ruivo se comportava, mais parecia uma criança.
- Eu nunca vi o Hinata bêbado. - Asahi não tinha colocado um pingo de álcool na boca, ele não gostava de beber.
- Parece que ele não consegue nem ficar em pé.
Hinata apenas murmurava, deixando o rosto sobre a mesa. Claro, se passou bastante tempo para ficar tão bêbado assim, ele nem sequer comeu direito. Os três rapazes em sua companhia apenas pensavam no que fazer para levá-lo para casa, mas por sorte, alguém surgiu por ali, um homem alto que usava boné, mas ainda assim, podiam reconhecer claramente.
- Com licença, esse é o Hinata? - Kageyama realmente não o reconhecia, não bêbado daquela forma.
- ... Sim, ele exagerou no álcool e não tinha quem tirava dele. - Asahi se sentia culpado, mesmo que Hinata fosse maior de idade agora.
- Ficamos sabendo que vocês são vizinhos agora, será que você poderia dar uma ajuda? Levar ele pra casa, sabe. - Nishinoya não tinha o mínimo de vergonha na cara.
- ... - Kageyama não sabia como responder àquela situação, e o inesperado aconteceu. Sentiu sua camiseta ser puxada pelo ruivo e depois, ele se erguer e o agarrar. Obviamente o moreno tentou a todo custo afastá-lo, mas nada o fazia largar.
- H-Hinata! Pelo amor de Deus, sai daí... - Sugawara tentava afastar o ruivo de Tobio, irritá-lo era tudo que menos queria, especialmente naquelas circunstâncias, ele não parecia ser muito bom socialmente.
- ...Hmmn... - O ruivo apenas resmungava, mas não largava.. e de repente, o que todos temiam veio a acontecer... Hinata vomitou na roupa de Kageyama, era como se ele estivesse vomitando arco-íris. De imediato surgiu uma porção de veias exaltadas na testa de Tobio, ele ficou imóvel, não disse uma única palavra, mas todos ali sabiam o quão borbulhando ele estava.
- ...O-Ops... - Nishinoya ficou tão sem jeito, mas ao mesmo tempo segurava sua risada. Pelo menos Hinata soltou Kageyama, por algum milagre divino, e parecia que ele ainda estava fora de si.
- K-Kageyama... Vamos pro banheiro, vou te ajudar a limpar isso... - Sugawara se sentiu culpado pela situação, então se ergueu e acompanhou Tobio até o banheiro, enquanto isso, Hinata voltou a se sentar desajeitado sobre a cadeira, encostando a cabeça no ombro de Asahi, que estava um pouco afastado por precaução, definitivamente não queria ter sua roupa suja de vômito.
- Quando o Hinata acordar e descobrir isso, não sei como ele vai reagir.
- Ele vai pirar! Kageyama é o dublador favorito dele e saber que acidentalmente vomitou na roupa dele enquanto estava bêbado é tipo fim de carreira!
- Ele entrou em um enrosco muito grande, como ele vai conseguir um autógrafo ou até mesmo ser empresário...?
- Você viu como ele estava irritado?
- ... Vocês falaram "Kageyama"? - Uma voz um pouco grave demais surgiu por detrás de Nishinoya, era de certa forma familiar, mas não sabiam dizer de onde.
- Então ele também veio? - Parecia que essa primeira voz estava acompanhada. Então, Asahi e Nishinoya se viraram para trás, dando de cara com dois rapazes altos, um loiro que usava óculos e outro moreno de sardas.
- Ah, sim... Ele foi no banheiro. - Nishinoya respondeu, tentando reconhecê-los.
- Você pode ficar com meu casaco, não tem problema. - Sugawara retornava para a mesa ao lado de Tobio, que agora vestia seu casaco. Seguravam uma sacola com a camiseta suja de Kageyama, aquilo foi um verdadeiro vexame...
- Obrigado.
- Kageyama? Você aqui...? - O loiro veio a comentar, com um sorriso repleto de alfinetes. A tensão no restaurante subiu um pouco, de certo, os dois tinham um tipo de intriga de muitos anos atrás e desde então não tinham se resolvido, apenas se aturavam pois precisavam trabalhar juntos.
- Tsukishima...
- De casaco em um clima desses? Aconteceu alguma coisa? - Perguntou Yamaguchi, o rapaz de sardas, acompanhante do loiro.
- Não interessa. Eu preciso ir. - Tobio retrucou, indo até o ruivo. - ... Eu vou levar ele pra casa.
- Você tem certeza? A gente pode dar um jeito. - Asahi temia que a mesma coisa fosse se repetir.
- Tá tudo bem, é um favor por ele ter me ajudado mais cedo. - Tobio passou o braço esquerdo de Hinata pelo seus ombros, era perceptível que o ruivo ainda estivesse atordoado pelo álcool e ainda fora de sua consciência.
- Obrigado Kageyama, é de grande ajuda. - Disse Sugawara, com um sorriso piedoso.
- Que desfeita, Reizinho. Ignorando seus amigos de infância assim? - Tsukki não perdia a chance de alfinetar Tobio sempre que o via.
- Não temos assunto nenhum. - Kageyama cortou a conversa, levando o ruivo para fora dali, apoiado em seus ombros. O clima ali ficou um pouco tenso, já que os três não conheciam a dupla que recém surgiu, mas sabia que eles eram importantes de alguma forma.
- Nós já vamos indo, foi um prazer ver vocês. - Yamaguchi se despediu do trio e se foi junto ao loiro, que parecia frustrado por não ter conseguido o que queria, basicamente, tirar a paz de Tobio.

Enquanto isso, Kageyama chamou por um táxi enquanto segurava o ruivo, apoiando seu corpo para que ficasse em pé. Hinata parecia estar dormindo, vez ou outra resmungava alguma coisa impossível de compreender ou se mexia um pouco demais. Quando o veículo chegou, entraram no banco traseiro com cuidado, Tobio deixou Shoyo ao seu lado, com a cabeça repousada sobre seu ombro. Alertou o endereço ao motorista para que fossem logo para o apartamento.
O percurso todo foi um silêncio total, Kageyama não sabia se estava irritado com Hinata, talvez sua raiva fosse momentânea e se ninguém falasse o que aconteceu, Hinata não se lembraria, por causa do álcool.
Enfim, o táxi estacionou nas portas do prédio. Kageyama trouxe Hinata consigo, o sustentando pelos ombros. Com cuidado passeou até os corredores e parou no elevador, discando o andar.
- ...Hm.. - Shoyo estava aos poucos recobrando sua consciência, e acidentalmente se jogou encima de Tobio, por acaso o deixando encurralado em uma das quatro pequenas paredes daquele elevador. Por sua vez, o dublador ficou um pouco surpreso, não achou que alguém tão baixo tivesse tanta força, e ainda mais sob efeito de álcool. Podia ver nitidamente o rosto corado do estudante, certamente pela quantidade excessiva de álcool no organismo, sem contar que emanava um odor terrível de álcool que se esforçava para ignorar.
- Hinata... a porta do elevador já abriu.
- ....hnnnmm ... - Shoyo apenas resmungava, então virou-se e cambaleou para fora. Tobio o guiou até o apartamento onde abrigava, abriu a porta e carregou o ruivo até o sofá, o deixando deitado, contudo, quando foi soltá-lo, Shoyo não queria o largar e consequentemente, acabou trazendo Tobio para o sofá consigo, se agarrou nele e não parecia querer soltá-lo. Ele, por outro lado, podia confessar que sentiu um pouco de vergonha, uma sensação que rejeitava a todo custo, se eram dois garotos, por que se sentiria envergonhado? ...

Night Sky [Kagehina]Onde histórias criam vida. Descubra agora