Meu corpo está completamente encharcado, deve ser suor, provavelmente devo ter tido mais um dos pesadelos, nunca consigo lembrar deles, na verdade acho que tem um que eu me lembro, mas agora não consigo me lembrar como ele é.
Estou deitada na barraca que divido com meu irmão e minha avó, olhando para o tecido azul escuro que se faz de teto, enquanto escuto o barulho do vento correndo nas árvores e vozes desconhecidas.
Tenho a sensação que deveria lembrar de algo, porém não consigo.
Escuto a risada de Catharina e as vozes dos meus pais, não consigo entender o que eles falam. Resolvo me levantar e arrumar meu cabelo para que possa sair da barraca, lágrimas caem dos meus olhos quando fico em pé, que estranho, deve ser a emoção de não ter morrido e está próxima de uma quase paz.
Saio da barraca e olho em volta procurando meus pais quando vejo Jonathan chegando perto de mim.
– Acho que seu nome devia ser Bela Adormecida. Melhor, você é a Julieta que está se fingindo de morta quando Romeu se matou, só que nunca acordou para perceber que seu amado morreu – Falou com um sorriso no rosto, fazendo gestos dramáticos e continuou – Nunca vi ninguém dormir tanto quanto você, Julieta.
– Eu não durmo muito, para a sua informação – Falo enquanto coloco as mãos em seus ombros – Conheço um garoto de 10 anos, do seu tamanho, muito parecido com você, que também se chama Jonathan e dorme muito – Sorrio quando vejo seu sorriso se desmanchando – Toda vez que eu vou dormir, ele já tá dormindo a muito tempo e quando acordo sempre escuto um comentário que ele tinha acordado a pouco tempo – Término com um tom debochado e ele fica com uma expressão de quem de devia ter ficado caladinho — Onde estão os adultos? Não faz muito que tinha escutado a voz deles — Pergunto.
— Eles foram para um pouquinho depois da parte de trás da barraca. Eu estava indo te acordar, papai falou que estava quase na hora de arrumar as coisas para podermos sair – Apontou na direção que eles estão e saiu andando.
Estamos em um acampamento ao sul do país, não muito longe daqui fica um porto onde os países neutros transportam refugiados para fora das zonas de conflito. Existe um combinado que possibilita os países neutros usarem uma cidade com porto para transportarem as pessoas que querem fugir dos países em guerra. Dois países que são neutros se juntaram, um dos países neutros é próximo do nosso país para transportar e ele vai transportar refugiados daqui em navios até o porto mais próximo deles e de lá podemos escolher ir de avião para outro o país aliado.
Muitos nesse acampamento vão para o porto, enquanto os outros vão para os lugares mais afastados da guerra, eles se recusam a ir embora, nas palavras deles "não vamos embora da nossa terra por conta de idiotas", muitos deles são idiotas que tem medo de não se adaptarem em novos locais e falam isso como desculpa. Alguns só são malucos que se não fosse pelo medo da morte, estariam com total certeza participando dessa guerra civil maluca que se encontra aqui em Pax.
Avisto os meus pais conversando com um homem e minha avó escutando a conversa próxima a eles. Jonathan foi para perto da vó Catharina e a abraçou, chego perto dos dois mas não consigo escutar os que os meus pais falam, só consigo ouvir o homem falando, porém não entendo o que ele diz, tenho um sensação estranha nos meus ouvidos, parece que tem água em meus ouvidos.
Minha mãe percebeu minha presença e avisou meu pai com a cabeça, os dois olham para mim e sorriem, por algum motivo esse sorriu não foi reconfortante, foi extremamente agoniante, não consigo olhar em seus rostos.
Catharina me encara como se estivesse notado e algo estava muito errado comigo, ela diz alguma coisa que eu não presto atenção, me distrai olhando uma árvore balançando, ela tenta falar novamente, mas meu irmão fala algo antes que ela termine de falar novamente.
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Doces Sonhos, Pesadelos
RomanceDepois do fim da Grande Guerra, a maioria dos sobreviventes são crianças e jovens que cresceram durante a guerra, então pensando nas milhares crianças órfãs, os novos líderes mundiais criaram uma regra para apaziguar a situação das crianças. Na mai...