XIX

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Era claro, Samantha estava odiando aquele homem, ainda que aparentemente ele fosse sua única esperança naquele inferno em que se encontrava. A mulher respirou fundo.

—Certo, vamos direto ao assunto, você fica dizendo que não temos tempo e que não vou conseguir escapar com o tempo que resta mesmo se os encontrar. Eu sei que isso é um tiro no escuro, mas não entendo do que mais está falando. Sinceramente não ligo para sua missão e não ligo se vai ou não me ajudar mais. Se quer me convencer de que ficar com vocês é o melhor então me diga algo que me convença. Vocês estão escondendo detalhes e isso não ajuda, só me deixa mais desconfiada. Me diga o que está acontecendo, merda, essa é a minha cidade, para vocês são apenas um monte de pessoas, mas para mim são muito mais que isso, eu nasci e cresci com essas pessoas.

Lancaster ponderou por um momento que não durou mais que cinco segundos e nesse tempo pareceu estar em outro mundo. Então do nada segurou a mulher pelo colarinho e sem sequer fazer qualquer mínimo esforço a ergueu do chão fazendo com que sua face ficasse na mesma altura que a dele, que era mais de vinte centímetros mais alto que ela.

—O que faz você, sua pirralha idiota, achar que eu não me importo com essas pessoas? – a mulher o encarou de olhos arregalados, havia fúria na expressão daquele homem naquele momento – Nicholai e eu já estivemos em dezenas de missões como esta, já vimos milhares de pessoas morrerem dessa forma e não podemos fazer nada para mudar isso, mas não significa que não nos importamos. Tudo o que podemos fazer é simplesmente seguir o protocolo e cuidar da missão. Todo o mais está fora do nosso alcance. Não apenas essas pessoas, essa cidade está condenada, entenda isso de uma vez.

A mulher se debateu e o homem a soltou. A mesma caiu de joelhos no chão diante dele, ofegando e recuperando a respiração perdida. Encarou-o então sem medo.

—Não sou uma pirralha, sou uma policial treinada e preparada, talvez não para algo como isso e talvez não seja tão experiente como vocês, mas não sou uma criança. Agora se acha que pode me convencer a deixar minha família para trás e fugir com o rabo entre as pernas como vocês então me dê um bom motivo para isso ou me deixe ir, mesmo que eu vá morrer por isso!

Zachary aproximou-se do líder e o encarou de lado.

—Permissão para explicar a situação a ela, Senhor.

—Ela não tem nível de acesso para algumas informações. Precisa confiar em nós ou seguir seu caminho, a escolha é dela. Não estamos aqui para resgatar civis – respondeu o líder.

—Há coisas que ela precisa saber para que possa confiar em nós ou não poderemos confiar nela também, Senhor. Ela pode ser de ajuda, mas precisamos contar com ela para isso.

—Permissão concedida. Limite as informações – concluiu Redfield à contragosto.

A mulher encarou Zack ainda ajoelhada no chão. Daquele ponto aqueles homens pareciam gigantes diante de si, como se normalmente já não fossem muito maiores que ela. Zachary lhe estendeu a mão e ajudou-a a ficar em pé. Então a encarou e começou a falar.

—Há cerca de doze horas essa cidade foi alvo de um ataque terrorista com armamento viral e biológico. Aquela criatura com que nos encontramos na prefeitura era um A.B.O., Arma Bio Orgânica. Um tipo de soldado criado artificialmente para ataques diretos contra alvos específicos. O alvo era o prefeito, fomos enviados para resgatá-lo, mas chegamos tarde demais. O mesmo não foi vítima da criatura, mas do plano secundário dos inimigos. O vírus que foi liberado e que causou o que você já viu com centenas de pessoas. Resumindo, quando encontramos o prefeito ele já era um desses zumbis, não pudemos fazer nada. Nossa missão falhou.

Samantha colocou uma das mãos na boca e impediu uma palavra que iria sair, então pensou por um momento e percebeu o quão grande era aquela confusão.

—O Senhor Dexter, o prefeito... por que alguém iria querer matá-lo? Por que um plano tão grande assim para matar uma pessoa? A cidade toda foi sacrificada por isso?

—Não sabemos os motivos do atentado – respondeu o soldado – Isso não nos interessa, apenas a missão. Infelizmente não conseguimos cumpri-la. No entanto, ainda há outro problema. O governo possui um Conselho para resolver atividades como essa e desde o primeiro incidente em 1998, em que uma cidade foi erradicada do planeta por armamento nuclear após um incidente envolvendo terrorismo com armamento viral, foi implantado um novo protocolo de contenção para casos como esse. Em quatro horas alguns aviões irão sobrevoar a cidade borrifando um veneno que irá eliminar qualquer ameaça. O veneno não é seletivo, ele não irá eliminar apenas os zumbis, todas as pessoas e animais serão dedetizados.

—Isso é impossível – berrou a mulher – É genocídio, não podem matar pessoas inocentes assim! O que nos diferenciaria de Hitler se permitíssemos uma coisa dessas?

—Você não entende – interveio Lancaster – essas pessoas já estão mortas. Quem quer que tenha espalhado esse vírus o fez internamente, ou seja, foi alguém de dentro, alguém dos seus, que conhecia a cidade. É provável que a água e as reservas de alimentos estejam contaminadas. O veneno que será lançado pelos aviões age imediatamente e depois de setenta e duas horas é eliminado pela chuva, então as tropas do governo vem e verificam o que restou. Se você acha isso cruel, imagine se essas coisas escaparem do perímetro. Um arranhão ou uma mordida de um infectado é o suficiente para infectar outro, seria questão de pouco tempo e teríamos uma pandemia, não demoraria para chegar a nível global.

A mulher ficou sem palavras. Parou no lugar onde estava segurando a Beretta com a mão direita enquanto encarava o chão. O líder aproximou-se e tomou-a pelo queixo, lhe erguendo a face e fazendo com que a mesma o encarasse mesmo que fosse à força.

—Se chegarmos no ponto de extração podemos encontrar um veículo preparado para nossa saída, mas se demorarmos seremos apenas mais baixas quando o veneno for liberado. Mesmo que vá procurar sua família e os encontre não será capaz de sair da cidade a tempo. Você queria uma razão para confiar em nós, agora você sabe a verdade, lhe resta decidir o que vai fazer.

RESIDENT EVIL - Terror em Little RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora