"Você me vira a cabeça
Me tira do sério
Destrói os planos que um dia eu fiz pra mim
Me faz pensar porque que a vida é assim
Eu sempre vou e volto pros teus braços.."Antônio não conseguia dormir, o que não era nenhuma novidade!
Faz seis meses que minhas noites são longas, frias, vazias...péssimas! Eu quis durante esses meses me enganar, culpar o trabalho, a rotina, as brigas com Irene, as preocupações com Petra, culpei até o maldito calor que faz na fazendo...tudo para não admitir a verdade! A amarga verdade! Minhas noites são péssimas desde que ela se foi! Ágatha!
Me levantando da poltrona, encho o copo com um pouco mais do líquido âmbar que me faz companhia em algumas noites, ouvindo, mais uma vez nessa semana, a playlist do meu celular que está em cima da minha mesa no escritório.
Como tudo nessa casa ainda grita Agatha, até a minha infeliz seleção de música faz o mesmo: você me vira a cabeça, da Marrom. Olhando pela janela bebi um gole lembrando que ela havia escolhido cada detalhe da casa, a decoração, a organização dos empregados, os empregados, o cardápio do almoço, o quadro de plantação do meu escritório porque lembrava o verde dos seus olhos, os espelhos espalhados pela casa porque ela amava passar e se encarar neles, até a maldita playlist que agora escuto, ela adora Alcione...Ela havia escolhido tudo, inclusive o momento de me deixar.
Sinto falta dela! Mais do que seria capaz de admitir em voz alta! Mais do que quando achava que ela estava morta! Mais do que poderia um dia ter imaginado! Mais...do que poderia suportar! Sinto falta de vê-la! De ouvir sua voz doce! De vê aquele sorriso que faz o tempo parar! De admirar seu corpo entrelaçado ao meu depois de nos amarmos! Do seu calor! Da sua vibração! De dançar com ela, Deus sinto tantas saudades! Dos olhos! Sinto tantas saudades de olhar aqueles olhos que dói! A falta dela, dói! Dói não tê-la inteira aqui comigo!
Agatha, está há seis meses no Rio de Janeiro! Havíamos terminado, quer dizer, ela terminou comigo quando escolhi os malditos diamantes a ela. Agatha jogou na minha cara para minha total surpresa e choque que sabia muito bem porque estava terminando com ela, não era pela Irene, mas pela minha ambição!O que ela havia dito mesmo? Ah! "Você não subestime a minha inteligência. A Irene deu uma cartada de mestre e me tirou do jogo, simples assim." Disse isso magoada, na mesma medida que estava com raiva. Me mandou calar a boca e como um desabafo disse tudo que queria, me deixando com as palavras emboladas na boca, a vergonha me engolindo e o arrependimento já me rasgando por dentro. "É a sua cara. Uma cara que não pretendo nunca mais ver na minha vida." Disse isso e me deu as costas. Decretou nosso fim sem mais nenhuma palavra, sem me deixar falar, esclarecer, nada!
Tinha vontade de quebrar todo maldito escritório quando lembro que não consegui formular uma maldita frase! Na hora pensei que depois conversariamos, que ela entenderia, que não era o fim! Não a impedi de ir, mas, quando cheguei em casa e Irene me esperava, e não Ágatha Moura La Selva, meu chão se abriu! Ela não voltaria atrás! Ela não me perdoaria! Ela não voltaria para mim!
Agatha, partiu na mesma noite para o Rio de Janeiro, sem um adeus, sem um olhar, sem uma maldita palavra! A odiei! Tanto! Mas, tanto! Que naquela noite quando Caio veio aqui e me acusou de ter magoado mais uma vez a mãe dele e que por isso ela tinha partido de novo, havia bebido todas! Bebi, briguei com todos que apareceram na minha frente, praguejei e...chorei! De arrependimento, rancor, despeito, desespero, medo, abandono! Como ela poderia ter me deixado de novo?! Onde estava aquele amor que ela dizia sentir por mim?! ONDE?!Seis meses, que não a vejo!
Seis meses, que seu rosto aparece em meus sonhos!
Seis meses, que não sinto seu perfume nas minhas roupas.
Seis meses, que não ouço sua risada.
Seis meses, que não ouço sua voz doce, e a sua risada, junto com a sobrancelha arqueada.
Seis meses, que não vejo seu andar sedutor com o nariz arrebitado.
Seis meses, que ela não me faz sentir vivo.
Seis meses, que não olho aqueles olhos verdes!
Seis meses, que passando a mão pela minha barba, admito pela primeira vez, sentindo meu coração doer...não sei viver sem ela!
Caminhando até a mesa, peguei um porta retrato que guardo escondido na última gaveta. Segurando o copo com uma mão e a fotografia com a outra, me sentei na cadeira para observar atentamente o retrato que era uma forma de matar a saudades dela para o infortúnio do meu coração.
Certo dia cheguei da empresa com um envelope na mão e o quadro em outra. Tinha pedido para ser revelado uma foto minha e da Ágatha que havíamos tirado no nosso último passeio pelo lago. Na foto estamos abraçados, ela com a cabeça no meu peito, enquanto a mantenho junto a mim com um braço. Estamos sorrindo. Felizes. Apaixonados. Cheio de planos.
Nas caladas da noite, quando a insônia vem, desço até aqui para admira-la, e sempre tenho a mesma surpresa, o quanto minha Agatha havia mudado.
-Ah mulher, como você tá linda! -sussurrei para o retrato, bebendo um gole do uísque.
O tempo é o verdadeiro aliado de Agatha. Sempre bonita e vaidosa, o fator do tempo só intensificou cada um dos seus atributos. Os olhos em um verde cristalino, a pele mais pálida pelos anos que não pegou sol, os lábios e a ponta do nariz levemente rosados pelo vento, os cabelos mais encaracolados na altura do ombro....Sua mulher está mais linda do que nunca, mas distante demais para dizer e beijar cada mudança do seu corpo.
Terminando minha bebida, deixei o copo sobre a mesa, desliguei o aplicativo de música e subi para o quarto com o porta retrato na mão. Entrando no quarto, Irene dormia profundamente. Não liguei. Encarando o retrato, senti o perfume de Agatha no ar como uma ilusão dos meus sentidos, e mais um modo de tortura do meu cérebro. No fundo, sei que o cheiro é familiar, mas não era dela. Nunca mais poderia ser.
Após a partida dela para o Rio de Janeiro, nosso relacionamento ficou absolutamente estremecido. Eu tinha raiva, mágoa e, principalmente, tristeza por ela ter me deixado daquela forma depois de tudo. Todavia, aos poucos, ela voltou a dobrar o meu coração e o nosso relacionamento foi se tornando uma amizade leve e fácil.
Entrando em uma rotina natural, passamos a nos falar por ligações, mensagens e, nos momentos mais raros, vídeo chamada. A relação foi entrando em um estado de familiaridade, e cada um se contentava com o pouco que tinha.
O caminho até o que temos hoje foi árduo e tenho que reconhecer que o trabalho dela foi muito maior do que o meu. Quem lhe trouxe para o chão foi ela, quem lhe colocou no devido lugar foi ela, quem passou por cima de toda a decepção para ter uma boa relação pelo nosso filho foi ela! Como sempre, e fazendo jus ao lugar de mulher na minha vida, Agatha continua sendo tudo.
A verdade é que não quero uma boa relação ou amizade. Queria minha mulher de volta, minha esposa de volta. E mesmo aceitando o que ela me dar, quero mais.
As mensagens são esperadas, as ligações são mais importantes do que qualquer expediente cedo na empresa, e por muitas vezes perco a hora por está conversando com ela. Sua voz é a única coisa que gostaria de ouvir, e ela a única companhia que poderia desejar.
" Você não me quer de verdade
No fundo eu sou tua vaidade
Eu vivo seguindo teus passos
Eu sempre estou presa em teus laços
É só você chamar que eu vou..."
A fotografia trazida do andar de baixo agora está em uma mão, o celular na outra é a possibilidade de aliviar um pouco do meu sofrimento com algumas boas palavras, mas ainda falta uma coisa: coragem.
Estou com saudades, muita. Tem um tempo desde que eu e ela conversamos por telefone decentemente, e essa hora parece perfeita para uma nova conversa. Me levantando, me dirigi para o quarto do Caio, como sempre faço quando quero conversar com ela. Irene não entra aqui. Desbloqueando o telefone e abrindo o aplicativo de mensagem, procurei por minha conversa com Agatha e, sem pensar muito, apertei no ícone que iniciaria a ligação.
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Você me vira a cabeça!
FanfictionSeis meses que Agatha partiu de Nova Primavera. Seis meses que Antônio La Selva se arrepende de ter escolhido os diamantes a ela.