Ato 4 - No limite do terror

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A van branca seguia pela longa rua em alta velocidade. Aos poucos as casas de madeira com paredes brancas e vastos jardins foram ficando para trás e os poucos postes que ainda tinham suas luzes acesas foram se tornando cada vez mais escassos. Mesmo as criaturas nas calçadas e perambulando pelos quintais logo começaram a ficar em menor número e à medida que se afastavam da área residencial a escuridão começara a tornar-se mais frequente, engolindo tudo em seu caminho. Com as trevas vinha o frio daquela noite que parecia não ter mais fim. Dentro do veículo os três ocupantes mantinham-se em silêncio. Se tudo corresse como planejado logo eles estariam seguindo seus caminhos em segurança para longe daquele inferno na Terra.

Zack, o último soldado sobrevivente do time de resgate estava impaciente. Não conseguia aceitar a ideia de que seus companheiros de tantas missões haviam perecido, não conseguia se perdoar por ser o único a ainda estar com vida entre eles, jamais seria capaz de imaginar que uma missão como aquela viesse a se tornar aquele mar de tragédia que havia sido.

Sentia como se não tivesse mais razão para continuar, seu grupo havia sido destruído e a missão pela qual haviam sido enviados havia falhado. No entanto, não podia morrer – não ainda. Em meio ao caos das mortes e do fracasso na missão ele encontrara um novo motivo para seguir em frente, algo pelo qual continuar lutando, aquela jovem policial sentada ao seu lado, Samantha Bernstein. Não importava como, ele a tiraria daquela cidade maldita com vida. Ao menos uma alma ainda seria salva das garras da morte naquela noite.

—Você teve sorte em encontrar esse veículo – disse o soldado, conferindo pela décima vez a munição que ainda tinha na pistola – Por onde viemos estavam todos destruídos, não encontramos nenhum em condições de rodar. Não sei como faríamos a seguir, com todos aqueles monstros por toda parte.

—Realmente acho que os covardes vivem mais. Todos que procurei assim que cheguei à cidade estavam mortos ou desaparecidos, tudo que consegui pensar foi em fugir, em correr para o mais longe possível. Então me lembrei dos silos e que lá poderia ser um porto seguro. Tenho certeza que outros também seguirão para lá – respondeu Jones ao volante.

—Eu... eu não quero pensar nisso ainda – disse Samantha – mas acredito que ninguém sobreviveu a esse ataque. E os que sobreviveram em breve estarão mortos. E o pior nisso é que não podemos fazer nada para ajudar. Não é covardia, é a realidade. Tudo que podemos fazer é fugir... fugir o mais rápido que pudermos e torcer para conseguirmos escapar a tempo...

Samantha parou de falar quando Zack colocou uma das mãos em seu ombro e seus olhos se encontraram encarando um ao outro. Ambos tinham olheiras e estavam vermelhos em vista de todas as corridas, fugas e desespero enfrentados naquela noite. Mesmo o veterano havia sido pego de surpresa pela extensão dos danos daquele evento.

—Você chegou a ver algum familiar? – perguntou a policial ao sujeito no volante – Eu mal pude chegar perto de casa e todos que vi estavam... daquele jeito. Assim que voltei à cidade passei pela casa de Jhenifer e ela já havia sido pega, estava como eles, me atacou e não fosse por Johnson eu teria me tornado outra dessas criaturas... Johnson, não pude ajudá-lo também no fim das contas... me sinto tão impotente diante disso tudo.

Jones segurava firme a direção e mantinha a velocidade, parecia uma estátua e não tirava os olhos da estrada à frente. Seus olhos quase parados se viraram para Samantha por um instante e logo voltou a se concentrar no que fazia.

—Assim que voltei fui direto à floricultura, mas estava vazia. Todos haviam fugido quando o pânico começou. Passei pela casa, mas meus pais e irmãs também não estavam lá. Tentei encontrar algum vizinho, mas não vi ninguém, pelo menos ninguém normal. Esses zumbis então surgiram por toda parte, eu achei que não iria conseguir escapar quando encontrei a van. Eu precisava ir até a prefeitura, mas imaginei que não haveria tempo para detalhes. Então só fugi, só isso, só quero escapar disso tudo antes que piore.

Ao ouvir as palavras do sujeito o soldado lembrou-se da reunião do grupo de busca antes de chegarem à cidade. Por que ele sentia que Jones sabia mais do que estava dizendo?

—Você disse que retornou à cidade e foi até a floricultura, certo? É onde trabalha? Sei que não é da minha conta, não conheço nenhum de vocês nem a cidade direito. Mas isso não significa que não me importe com o que está acontecendo – disse Zack.

—Não, não, a empresa pertence à família. Meu avô abriu a floricultura anos atrás e depois meu pai assumiu os negócios. Atualmente mantemos funcionários, mas ainda cuidamos de perto das coisas. Estou no comando desde que meu pai adoeceu.

—Floricultura Lótus, isso? – perguntou Zack casualmente.

—Sim, como você sabia...? – começou a dizer o motorista, parando a frase na metade.

Por um instante tudo dentro da cabine da van pareceu congelar como se o tempo naquele momento tivesse parado. Jones, que até então não tirava os olhos da estrada e o soldado ao lado de Samantha se encararam sem mais palavras. Entre eles a policial tentava entender o motivo do silêncio repentino. De repente o impacto na altura das costelas da mulher fez com que ela entendesse, em partes, o que estava acontecendo. De um lado, Johnny segurava o volante com uma das mãos enquanto mantinha uma pistola apontada para ela pouco abaixo de seu braço. Do outro Zack apontava para o sujeito com a SIG. O clima de tensão logo assumiu e Jones oscilava entre olhar para a estrada e para os outros ocupantes do veículo.

—Que droga, cara – disse Johnny com um sorriso nervoso e debochado nos lábios – você me pegou direitinho. Eu logo devia ter imaginado assim que vi um soldado que não conhecia com a Sammy. Um dos mercenários enviados para o resgate do prefeito, certo? Ou sua missão era impedir o atentado e chegou tarde demais? Preciso aprender a pensar antes de falar ou a manter minha boca fechada – praguejou.

—Não entendo... o que está acontecendo? Johnny, por que isso? – perguntou Samantha se referindo à arma que o mesmo mantinha apontada para ela. Zack se adiantou.

—Entre os dados que nos foram passados antes do início da missão, nos foi informado por um espião infiltrado que os Laboratórios Farmatech eram chefiados por ex-membros da antiga Umbrella, a organização que mantinha e comandava o laboratório responsável pelo primeiro atentado com armas biológicas e virais no mundo, em 1998, na cidade de Raccoon. Esse laboratório, com recursos vindos de um benfeitor misterioso, pretendia usar a cidade de Little River como uma nova Raccoon, efetuando experimentos ilegais com armamento militar viral, orgânico e biológico em suas dependências. A questão é que eles tentaram subornar o prefeito para que o mesmo permitisse a ampliação de sua área e fizesse vistas grossas para a entrada e saída de caminhões com suprimentos necessários e o mesmo recusou a oferta, informando imediatamente ao presidente. O presidente então acionou a divisão temporária de controle de ameaça bioterrorista dos Estados Unidos e nós fomos enviados para colocar o prefeito em segurança...

RESIDENT EVIL - Terror em Little RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora