RESIDENT EVIL - Terror em Little River

XXVII

Em seguida a grande porta de metal começou a subir rapidamente. O barulho das placas de metal chacoalhando enquanto as engrenagens giravam fazia lembrar um dragão rugindo furiosamente noite adentro. Com a nova sucessão de acontecimentos dezenas de zumbis que seguiam sem rumo por toda parte voltaram suas atenções para o local. Apesar das luzes agora iluminarem a parte da frente daquele prédio, o interior do mesmo que aparecia conforme a porta subia continuava perdido na escuridão. Na parte iluminada do pátio, no entanto, os dois últimos sobreviventes viam cerca de uma dúzia de zumbis próximos a eles.

—Mas que merda é essa? – disse Zack enquanto se afastava da entrada. Um zumbi surgira próximo de suas costas e Samantha gritara alertando-o. O soldado se virara e chutara a criatura com força, fazendo com que o mesmo espatifasse no chão. A porta então se abrira por completo.

Um par de luzes brilhara de dentro do prédio, iluminando o que ainda estava nas trevas do lado de fora. A policial cobrira os olhos por um instante se protegendo da luz. Era uma virada de eventos surpreendente, totalmente inesperada. Alguns minutos antes os dois estavam perdidos na escuridão tentando manter silêncio, agora não apenas estava tudo iluminado demais como também um verdadeiro caos se instalava com o barulho.

Samantha sequer tivera tempo de processar o que acontecera. Tudo que entendera era que Zachary correra de encontro a ela e abraçando-a, lançou seu corpo grande e musculoso para o chão, levando-a consigo. Os dois caíram juntos, mas ela estava protegida em seu abraço, um porto seguro do qual ela queria não precisar sair. Ao mesmo tempo uma nuvem de poeira se erguera sobre eles obscurecendo sua visão ao passo que ouvia o barulho do ronco de um motor. Seria o que ela estava pensando?

Com dificuldade para respirar e para abrir os olhos em meio à terra erguida pelo veículo que passara em alta velocidade ao seu lado e ao gás carbônico expelido do escapamento, a jovem sentira a mão grande de Zack segurar a sua. Tinha a pele grossa e calejada, mas era quente e acolhedora, quantas vezes naquela noite ela se veria sendo salva por ele? Em alguns segundos estava em pé, agora podia ver tudo perfeitamente, provavelmente um efeito do choque em seu corpo pela adrenalina.

Haviam corpos por toda parte. Ironia era pensar que alguns deles eram zumbis, que depois de voltarem à vida tinham acabado de serem mortos de novo. Outros provavelmente ainda não haviam ressuscitado como os monstros canibais, mas aconteceria cedo ou tarde. Ao longe podia ver as luzes vermelhas da seta do veículo que se afastava em grande velocidade.

—Me diga que não era o nosso passaporte – indagou a mulher.

—Eu queria pensar que não – respondeu o soldado – Mas me parece que alguém mais decidiu usar nossos recursos para fugir desse lugar.

—E me parece que nem todos fugiram – emendou ela enquanto os dois olhavam em volta para as dúzias de mortos que começavam a se levantar e sair de becos na escuridão – Esse seria um momento perfeito para ainda estarmos com aquelas armas carregadas...

* * *

O barulho do disparo de armas àquela altura do campeonato deixava um misto de dúvidas que oscilavam entre algo bom ou ruim. A luz no fim do túnel nem sempre era aquilo que se esperava que fosse. Alguns instantes antes, Zack e Samantha viam-se desarmados e cercados por dezenas de zumbis atraídos pela barulheira causada pelos outros prováveis sobreviventes que haviam evadido do local. Para piorar, estavam desarmados e os sobreviventes que tinham acabado de fugir aparentemente tinham levado seus últimos recursos. Zachary Snow agora se perguntava se seria melhor levar uma bala na cabeça ao invés de ser devorado vivo pelas estranhas criaturas. Não conseguia aceitar a ideia de que algum tempo depois, sem sequer ter noção do que estaria acontecendo, levantar-se-ia para continuar aquele macabro ritual de se alimentar e propagar aquela peste. Ainda assim pensava em encontrar uma saída para aquela situação, afinal, não se importava em morrer ali, mas não podia permitir que Samantha tivesse aquele destino, não era o que ela merecia.

Um dos disparos passou zunindo rente à cabeça do soldado e ele só conseguiu pensar que quem quer que tivesse disparado havia errado por pouco, com as luzes agora acesas no local, a visibilidade estava muito melhor. No entanto, em seguida do tiro uma voz conhecida lhe trouxe uma nova realidade, uma realidade onde ele encontrava a saída daquele lugar.

Ou talvez onde uma saída o encontrava. A ele e sua companheira.

—Se abaixem! Agora!

Só havia um homem de quem Zack costumava acatar ordens nos últimos anos. E desde pouco tempo atrás acreditava que aquele homem estivesse morto. Qual não fora sua surpresa ao ouvir a voz familiar? Lancaster então surgiu bem ao lado dele carregando uma pistola e atirando nas criaturas. Sem qualquer forma de ajudar, Zack e Samantha agacharam-se enquanto o festival de tiros derrubava os zumbis que insistiam em continuar a aparecer.

Nicholai também apareceu junto do líder, empunhava duas pistolas e atirava com as duas ao mesmo tempo, aparentemente o atirador de elite da equipe não era bom apenas com rifles.

Vendo uma oportunidade Zack esticou a mão e retirou a faca da bainha que ficava presa à perna de Lancaster, levantou-se e correu de encontro a um pequeno grupo de três zumbis, abatendo-os com violentos ataques na cabeça. Em seguida, com o caminho que vira agora livre sinalizou para os demais.

—Venham por aqui! Vamos entrar! – gritou apontando para a porta do prédio aberta – Não deve ter mais lá dentro do que aqui fora e se aqueles malditos ladrões estavam ali apostaria minha cabeça que o lugar está limpo!

Todos correram. Nicholai ajudara Samantha a se levantar e cobrira a retaguarda enquanto a mulher passava pela porta. Lancaster e Zachary saltaram e agarram a porta no alto usando o peso de seus corpos para forçá-la a baixar. De dentro Nicholai atirara nos zumbis que podia enquanto os dois deitavam a porta abaixo. Ao baixar completamente a escuridão tomou conta do lugar por um breve segundo. Um dos soldados, Nicholai, acendera uma lanterna e indo até uma caixa de fusíveis acionou algumas alavancas e as luzes se acenderam.

* * *

O barulho de centenas de zumbis batendo contra aporta de metal podia ser ouvido como uma forte chuva que bate à janela. Dentro do prédio haviam quatro veículos, sendo duas viaturas da Guarda Florestal e duas caminhonetes. As viaturas tinham o capô aberto como que sendo consertadas, uma das caminhonetes estava sem as rodas e a outra tinha o motor suspenso por correntes. Nicholai torceu os lábios e praguejou algo em russo, mas ninguém perguntou o que era, em seguida colocou as pistolas que carregava em coldres dos dois lados da perna e tirou o rifle Dragunov das costas, empunhando-o e conferindo a mira telescópica do mesmo.