XXXI

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"Nós sabemos as pessoas que devemos prender e aqueles que nos servem melhor livres".

Claro que com livre eles queriam dizer "fora do nosso país, seu russo maldito".

E assim foi até que um velho conhecido, outro mercenário dos tempos da Umbrella entrara em contato e lhe fizera uma proposta. Fazer o serviço que outros não conseguiam. Resgates, reconhecimento, queima de arquivos. O contratante, claro, era o governo americano, mas para os devidos resultados, eles não serviam a nenhum país, nenhum governo jamais reconheceria seus registros e atividades. Talvez fosse o que ele precisava, estar onde outros temiam estar, fazer as coisas do seu próprio jeito. Atuar mais alguns anos antes de se aposentar.

Dessa vez definitivamente.

E fora assim que se juntara à Lancaster Redfield e os outros. Assim que fora parar naquela pequena cidade do interior do Texas. Agora se perguntava se era isso que esperava, afinal de contas. Queria adrenalina e a tinha. Só não pretendia morrer nesse processo.

* * *

Samantha abriu os olhos e levantou-se assustada. Vestia apenas a calcinha e uma camiseta azul e estava deitada sobre uma mesinha de escritório. Do lado de fora da enorme janela na sala podia ver os relâmpagos da chuva que caía e os respingos batendo forte contra o vidro. Tentou ficar em pé, mas a cabeça latejava, apoiou-se na mesa, mas perdeu rapidamente o equilíbrio e caiu, batendo forte o joelho direito contra o piso. O corpo todo doía. O que estava acontecendo? Como havia chegado até ali? Lembrava-se vagamente de estar fugindo com o soldado que conhecera naquela noite em uma motocicleta. Onde estava ele? E que lugar era aquele? Lhe parecia familiar, mas não conseguia lembrar-se de onde.

O barulho de mobília caindo no canto da sala a trouxe de volta à realidade. Apoiando-se na mesma mesa onde estivera a policial levantou-se com esforço. Sentia como se seu corpo pesasse uma tonelada. Para seu terror havia dois zumbis tentando abrir caminho por entre um banco e algumas cadeiras caídas em direção a ela. Aqueles poucos móveis que a separava dos monstros. Como se uma descarga elétrica ativasse algo dentro de si a mulher passou a olhar em volta à procura de qualquer coisa que pudesse usar como arma para se defender. Não poderia morrer daquela forma naquele lugar.

Um dos zumbis de repente tropeçara e caíra de frente para uma cadeira ultrapassando o obstáculo com um gemido. Havia pouco tempo e poucas chances de escapar. Pela porta outros dois infectados invadiram a sala, era o fim, esses mais rápidos e sem nada entre ela e eles. Não havia outra saída do local e ela não sabia o que fazer. Poderia tentar saltar pela janela se conseguisse abrir a mesma ou quebrar o vidro. Em que andar estaria?

Sem tempo para pensar Samantha seguiu aos tropeções em direção da janela. Fora nesse momento que ela vira o que poderia ser sua salvação. Parecia uma miragem, mas em uma poltrona próxima de onde ela estava seu cinto tinha a arma ainda no coldre. A mulher apanhou a Beretta e conferiu a munição. Apontou para o zumbi que se arrastava pelo chão e disparou duas vezes. Sua mira falhava, a mão tremia, mas no segundo disparo atingira a cabeça da criatura, explodindo-a em uma poça de sangue com os pedaços do cérebro por toda parte. Quando apontara a arma para aqueles dois que haviam invadido a sala por último tivera uma surpresa – e olha que naquela noite poucas coisas poderiam surpreendê-la – um dos dois apontava para ela com uma arma! Estaria vivo? Seria apenas uma pessoa ferida? Ou aqueles monstros também tinham essas capacidades?

* * *

Nicholai descia pela calçada empunhando as duas pistolas enquanto tentava enxergar algo do outro lado da rua em meio à escuridão. O barulho da chuva continuava a atrapalhar e ele mal era capaz de ouvir o som de sua própria botina batendo no chão enquanto seguia quase correndo. O soldado não ouvira qualquer ruído, só percebera o vidro da janela atrás de si trincando quando o mesmo explodiu em milhares de estilhaços com as mãos saltando para fora tentando agarrar seus ombros.

Virara instintivamente o corpo, lançando-se para fora da calçada e apontando para as criaturas que o encaravam com aqueles olhos sem vida. Era uma grande janela de vidro e quando a mesma se partira em dezenas de pedaços mais de dez zumbis que se apoiavam nela caíram para fora. Por dois segundos não haviam caído sobre ele. Uma das criaturas, um sujeito gordo com camiseta listrada de vermelho e branco toda rasgada levantara-se de imediato e se lançara contra ele, sendo muito mais rápido que os monstros do mesmo tipo que já confrontara antes. Felizmente a perícia que o mesmo tinha com armas de fogo lhe garantiram um tiro certeiro bem entre os olhos do sujeito interceptando o ataque. Mesmo assim os demais continuavam a se levantar. Pior que isso, de dentro daquele prédio parecia que muitos outros também saíam. Esse era o mal de epidemias, as pessoas se agrupavam para se proteger e quando um infectado entrava no grupo todos se infectavam mais facilmente.

O tempo de cautela havia acabado, era hora de correr. Se ia sobreviver ou morrer ali dependia do quanto conseguiria correr mais que os monstros.

Atirando nos zumbis mais próximos o sujeito simplesmente ignorou os outros e correu por eles na direção do silo. Havia uma escada lateral pela qual poderia subir se chegasse até ela. Se tinha uma coisa que havia aprendido nas experiências que tivera com aquele tipo de criatura era que eles não sabiam subir escadas de mão.

Quando se aproximara de onde deveria estar a escada duas surpresas desagradáveis lhe confrontaram ao mesmo tempo. Uma delas, haviam outra dúzia de zumbis no local, sendo que um deles parecia maior que os demais, um monstro sem pele, com sangue escorrendo pelos músculos e nervos expostos mesmo com a chuva que caía e aproximadamente cerca de três metros de altura. A outra, não havia escada na parte baixa. Aparentemente havia caído e o primeiro lance de degraus que via estava bem no alto, vários metros acima do chão.

Por sorte o prédio maior, com quatro andares ficava apenas alguns metros ao lado do silo. Se fosse capaz de subir ao segundo andar com certeza conseguiria alcançar a escada com um salto. Para estimular a maratona pelas escadarias aquele monstro com os zumbis aos pés de onde deveria estar a escada e mais um bando rua acima vinham ao seu encontro. Se havia uma forma de escapar era para dentro do prédio e para o alto.

* * *

—Samantha, abaixe a arma! – berrou Lancaster apontando a pistola para a mulher.

—Calma! – gritou Zack enquanto tentava se colocar entre a policial e o líder. Lancaster e Samantha apontavam as armas um para o outro claramente prontos para atirar assim que tivessem a mira alinhada.

RESIDENT EVIL - Terror em Little RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora