XXXVI

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O piloto já estava manobrando o helicóptero acima do silo e do prédio quando outro impacto fez a aeronave balançar, inclinando-se em um ângulo de quarenta e cinco graus. Zack se desequilibrara e quase caíra, mas segurara com força em uma barra de ferro no interior. Nicholai se apoiara com os pés na borda da porta lateral e apoiara as costas para dentro a fim de não escorregar para fora. Imediatamente empunhara o Dragunov procurando uma boa mira. Quando puxou o gatilho ouvira apenas o barulho do clic.

—Estou sem munição! Maldição! – berrou.

—Embaixo do banco! Embaixo do banco! – gritou o piloto – Rápido antes que aquilo nos derrube!

Abaixo deles a criatura segurava o helicóptero com diversos tentáculos que impediam a aeronave se subir. O piloto lutava com os controles procurando evitar bater em um dos prédios ou nos silos poucos metros abaixo de si.

Enquanto o russo tateava embaixo do banco tentando encontrar a caixa de munição, o outro agente esticou um dos braços com dificuldade tentando alcançar uma caixa presa no teto logo acima de si. Era difícil se mover no espaço apertado com o helicóptero balançando tanto, mas finalmente conseguira se equilibrar e abri-la.

De dentro da mesma retirou um par de pequenos lança-foguetes. Entretanto, Nicholai e Zack estavam em posições ruins para que ele passasse a arma extra para qualquer um dos dois. Sem mais opções o mesmo apontou na direção de Samantha.

—Dê o seu melhor tiro, garota, em qualquer coisa, desde que aquele monstro nos solte. Irei ajudar, mas não vamos conseguir mirar em nada mesmo, apenas atire! – gritou enquanto apanhava empunhava a outra arma.

Samantha segurou a arma com as duas mãos. Felizmente estava presa no banco por cintas apertadas com fivelas da cintura para baixo, o que impedia que ela escorregasse e caísse e a deixava com as mãos livres. De qualquer forma mirar com o helicóptero tremendo tanto e balançando para os lados era realmente impossível. Mesmo assim ela sabia que se sentiria bem em atirar um míssil em Jones.

Nicholai finalmente conseguira carregar a munição no rifle ainda antes dos outros dois atirarem. Quando olhou para o lado onde Samantha estava reconheceu o 9K38 IGLA, um míssil de mão projetado para ataques solo-ar e não ar-solo. Era de fabricação russa e ele mesmo já havia usado diversas vezes, mas da forma correta! O agente pouco atrás de Samantha mirou e disparou, mas o míssil atingiu a massa vermelha que cercava Jones e não explodiu. O mesmo praguejou. Não haveria tempo para recarregar.

—Tente atirar no mesmo lugar! – berrou ele – Se seu míssil explodir vai fazer o mesmo com o outro por reação em cadeia!

—Não! – interveio Nicholai e todos o encararam por um instante – Mire lá, perto do local onde o Berseker derrubou a parede do prédio! – continuou apontando com o indicador – Derrube aquele prédio e deixe o resto comigo!

Era questão de segundos e a policial não conseguia uma mira. Jones era um alvo mais fácil, estava bem abaixo deles. O que ela faria? Fora então que Zack apoiou-se ao lado do banco onde ela estava e abraçou-a colocando seus braços grandes e fortes em torno dela, ajudando-a a segurar a arma. Vou conseguir – pensou finalmente. O míssil saiu deixando um rastro vermelho para trás atingindo a calçada. Porém, a explosão levara consigo o que restava da parede e assim como o russo dissera o prédio começara a ruir e tombar na direção de Jones e dos infectados que o rodeavam.

Para a surpresa de todos, da massa de carne e sangue que cercava Jones, Lancaster levantou-se apoiando-se no próprio sujeito para colocar o míssil que não havia explodido antes em seu peito. Era o que Nicholai procurava com a mira telescópica. Spasibo – pensou ele sem dizer nada. Em seguida puxou o gatilho. O projétil atingiu o míssil em cheio explodindo em milhares de pedaços a última parte que ainda existia daquilo que havia sido Jones um dia ao mesmo tempo que o prédio ao lado colidia com o silo levando tudo abaixo deles em uma chuva de concreto, metal e madeira. Uma nuvem de poeira tão intensa levantava-se do chão que nem mesmo a chuva era capaz de abaixá-la. A aeronave recuperara o equilíbrio com todos os tentáculos que a seguravam se rompendo abaixo de si enquanto seus tripulantes voltavam a se acomodar nos bancos em que estavam. Samantha deitara a cabeça para trás. Enfim, tudo que ela um dia conhecera havia sido apagado. Toda sua vida antes daquele dia deixara de existir, a não ser por suas lembranças.

—Sou Leon S. Kennedy – disse o agente junto dos três sobreviventes na parte traseira do helicóptero – Agente Especial a serviço do DSN. Como vocês estavam em uma missão secreta ninguém tinha conhecimento do caso, interceptamos seu pedido de resgate por acaso e viemos o mais rápido possível. Já estou ciente da resolução do governo acerca de Little River. Sinto muito pelos seus companheiros – concluiu enquanto apertava as mãos de Zack e Nicholai.

—Já estivemos em operações complicadas, mas essa passou todos os limites – disse Zack olhando para Nicholai que só olhava para a escuridão do lado de fora – Apesar de tudo tivemos sorte por terem vindo com essa tempestade. Infelizmente não temos nenhuma boa notícia para colocar nos relatórios.

Leon baixou os olhos por um momento e então ao levantar a cabeça colocou a mão sobre o ombro de Samantha.

—Você vai ficar bem, garota. Logo vamos estar em um lugar seguro e temos uma equipe médica aguardando por nós – e virando-se para Zack – Não vencemos todas as batalhas, infelizmente é assim, mas precisamos continuar ou mais pessoas morrerão. Enquanto houver uma única pessoa que possamos salvar não podemos desistir.

Não podemos desistir – pensou Nicholai repetindo em sua mente as palavras do agente – mas mesmo para os melhores de nós a morte chega. E para alguns é preciso encontrar um ponto de descanso. Não quero morrer como um monstro – lembrou-se da imagem de Lancaster no momento em que atirara no míssil graças ao último esforço do líder – Preciso viver para honrar as vidas daqueles que se foram, de todos eles.

—Não temos mais nada para fazer aqui. Acabou – disse Zack.

—Não – respondeu Samantha deitando a cabeça em seu colo. Uma lágrima escorria de um dos olhos da mulher por sua face ferida e suja – Ainda há muito a ser feito. Os malditos por trás disso tudo irão pagar um dia, nem que eu leve toda minha vida lhes caçando. Não acabou. Está apenas começando.

RESIDENT EVIL - Terror em Little RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora