Estava caminhando pelo jardim do Campus. Havia muitas árvores, ouvia-se alguns corvos como de costume, o céu estava nublado. Era quase noite e eu continuava a caminhar, cogitando o que poderia significar meus sonhos.
Recordo apenas da grande guerra. Como cheguei lá, como tudo realmente aconteceu, eu não me lembro. Não lembro do rosto dos meus pais, também não tenho lembranças do Armin antes disso. O que Valentyn fazia lá, quem ele era, como o conheci. Eu não fazia ideia.
Não ter conhecimento sobre o meu passado me deixava aflita. Parece que todos sabem de algo, menos eu. O que aconteceu para eu perder a memória? Caio de joelhos sobre a grama, levei minhas mãos para os olhos e começo a chorar.
- Quem sou eu? - quando pergunto, alguém toca meu ombro.
- Você é a Julliet - responde Joseph.
- Como sabia onde eu estava? - pergunto, perplexa.
- Não é difícil te rastrear - Joseph senta perto de uma árvore na minha frente.
- Ei... - Joseph joga uma pequena pedra em mim - estou falando com você.
- O que foi? - pergunto de cabeça baixa.
- Eu que te pergunto, o que está pegando? - questiona.
- Não é nada, eu ficarei bem - respondo.
- Sei... enfim, tenho um compromisso agora. Já está anoitecendo e é melhor você sair daqui, senão venho te buscar - diz, com os olhos semicerrados.
- Está bem, senhor - debocho. Ele me olha mais uma vez antes de sumir pela mata. Eu me recolho até a árvore onde Joseph estava e abraço minhas pernas.
- Essas ervas que o médico prescreveu funcionam mesmo - com os olhos pesados, pego no sono.
Pela primeira vez, eu conseguia dormir profundamente e até sonhar com algo diferente. Estava num campo de flores, era um dia ensolarado. Eu corria por entre as flores rindo, estava feliz. Alguém grita o meu nome, era um garoto com roupas formais, seu cabelo loiro bem penteado até os ombros, seus olhos eram azuis. Ele ria junto à mim.
Estava quase me alcançando, mas eu não desistiria tão facilmente, parei e ele continuou correndo. Começo a caçoar do rapaz, ele para, olhando para trás.
Veio tão rápido na minha direção que só deu tempo de me virar. Pulou em cima de mim fazendo com que nós dois rolássemos na grama. Enquanto ríamos, ele fixou os olhos em mim.
- O que foi? - Pergunto curiosa.
- Nada, você perdeu - diz entre risos, cheio de orgulho.
- Ah, não valeu! Você trapaceou!
- Eu não, você que não foi esperta o suficiente para prever o meu ataque.
- Combinamos de não usar isto!
O garotinho é impedido de responder por alguém que nos chama. Era uma mulher, cabelos compridos e negros, estava usando um vestido branco que se balançava conforme o vento. Ela acenava para nós na varanda de uma cabana de madeira. Eu tinha a estranha sensação que a conhecia.
- Venham! Ele chegou! - gritava sorridente. O garoto correu em sua direção, mas parou de repente, oferecendo a mão para mim. Eu a peguei e fomos até ela.
Mais de perto eu pude vê-la detalhadamente, era extremamente linda, ela se parecia comigo ao meu ver. Assim que entramos, um homem saiu de um dos cômodos.
- Ei, crianças! Tenho uma surpresa para vocês - disse um homem alto e forte, adentrando a sala. Seu cabelo era de um loiro escuro e batia nos ombros, seus olhos eram castanhos.
- O que é? - Perguntou o garoto.
- Hahaha, eu não vou dizer, vocês dois terão que procurar na floresta.
- O que você está aprontando dessa vez, Tenebrus? - Perguntou a mulher.
Foi então que me assustei, era ele o Tenebrus. O nome que essa mulher disse em meu sonho, agora reconhecia a voz. Eu estava tão confusa, não sabia o que significava aquilo e recuei. Todos olharam para mim sem entender.
- Está com medo, Julliet? Não se preocupe, eu te protegerei para sempre - disse o garoto.
- Não tenha fraquezas, Julliet. Ela é sua pior inimiga - disse Tenebrus.
- Hahaha, você já me mostrou muitas fraquezas, amor - rebateu a mulher.
- Eu não estou sabendo disso, Madalyn! Hahaha... - respondeu Tenebrus a beijando. Então, o garotinho olhou para mim e sorriu.
- Vamos? Temos algo para encontrar na floresta.
- Isso mesmo, vão logo, tenho assuntos a tratar com esta rapariga aqui - falou Tenebrus, o que fez Madalyn dar um soco em seu peito. Os dois foram rindo para outro cômodo. O menino me puxou pelo braço e fomos até o campo de flores novamente.
- Ele pode ter escondido entre as árvores, é melhor começarmos por lá - disse. - A julgar pelo cheiro, creio que seja um animal - concluiu o garoto.
Não conseguia entender o motivo daquele sonho, mas resolvi prosseguir com ele.
- Certo, vamos começar por lá. - falei. Corremos até as árvores e começamos a busca.
A floresta era meio fúnebre, silenciosa, fria e misteriosa. Pela umidade, havia lodo por toda a extensão. Meus pensamentos logo são interrompidos por um gemido. Avancei com cautela até o local por não saber do que se tratava. Sinto um cheiro forte de animal, ainda não conseguia distinguir o que era.
Escuto um uivo e me espanto, fico paralisada até que ouço outro uivo baixo, me tranquilizo quando vejo que não apresentava ameaças, estava preso. Retiro as folhas que escondiam uma possível jaula e vejo um pequeno lobo branco. Havia uma mensagem na grade da jaula: "Feliz aniversário, Julliet! Nós amamos você."
Isso me deixou estranhamente feliz, e mesmo assim, eu não sabia o que eles eram para mim.
- Gostou? - perguntou o menino atrás de mim.
- É um presente... foi por isso que você não encontrou antes de mim, não é? Você sabia do que se tratava.
- Talvez... - respondeu, sorrindo. Recolhi o pequeno lobo da jaula que me mordeu no mesmo instante.
- Aí! Isso não foi nada legal, mocinho!
- Você está bem? - perguntou o garoto pegando minha mão.
- Eu vou sobreviver, não se preocupe - ri de sua preocupação.
- Certamente... Venha, vamos voltar para o campo.
- Tudo bem. - E assim, caminhamos para fora da floresta...
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Século Sombrio - Dark Century
TerrorEm um mundo onde a magia e criaturas sobrenaturais existem nas sombras, uma jovem garota criada em uma misteriosa Instituição de Jovens Caçadores não tem lembranças de seu passado, exceto por uma única noite assustadora: a noite em que foi salva por...