Capítulo 01 | Enxofre

61 7 8
                                    

As areias do Saara eram ainda mais quentes naquela época do ano. Empilhados como grãos de areia, os cinco membros do esquadrão liderado pelo sargento Liam Byrne eram apenas uma pequena fração do contingente do exército dos Estados Unidos, destinado a estabilizar a Argélia, palco de uma guerra civil contra um grupo insurgente conhecido como GSPC.

Era 22 de julho, e o odor de óleo de motor do Humvee dos anos 2000 impregnava a pele de seu amigo Tariq, o mecânico da equipe. A guerra estava prestes a completar seu primeiro ano, com milhares de vidas ceifadas e outros milhares buscando refúgio no sul da Europa, principalmente na França e na Itália.

No volante do jipe estava Brimstone, o apelido de Liam. Eram duas da tarde, e eles ainda não haviam almoçado. Se fossem soldados convencionais, talvez a tragédia que estava prestes a acontecer pudesse ser evitada. Talvez estivessem em uma base, saboreando rações militares, afinal, soldados eram apenas cachorros na guerra.

Tariq, ou Desert Fox, colocou seu fuzil XM7 ao lado da porta, enquanto o vento abrasador do deserto sussurrava contra os vidros do veículo. Ele retirou uma laranja do bolso e começou a descascá-la.

— Laranja no jipe? Vai fazer a gente feder a laranja? — provocou um dos soldados.

— Prefiro cheirar laranja do que esse odor de merda que você carrega, Bruce — retorquiu Tariq, manejando a faca habilmente ao redor da laranja.

Tariq era um homem alto e forte, com mais de um metro e oitenta de altura, pele negra e uma barba escura e robusta que delineava seu maxilar imponente. Normalmente calmo, a guerra era capaz de transformar até a mente mais serena. Seu colega de equipe sabia disso, mas também estava lidando com suas próprias angústias.

— Eu fico fedendo a merda? Está de brincadeira, Tariq. Você sobe nesse jipe todos os dias com cheiro de óleo de motor, raramente toma banho e ainda...

— Quieto, Bruce! — interrompeu Brimstone, olhando para os dois pelo retrovisor. — Todo mundo está fedendo, não é novidade. Tariq vai terminar a laranja, e você vai fechar a boca.

— Entendido, sargento...

Bruce recostou-se nos bancos do jipe, observando Tariq saborear a laranja em uma dança lenta que parecia zombar de seu colega. No entanto, um ruído súbito no rádio quebrou o duelo de olhares desafiadores. Brimstone agarrou o rádio, levando-o à boca enquanto uma voz firme e áspera ecoava:

— Ragged Ravens, suporte a 11 milhas de Ramka a oeste. Presença terrorista confirmada.

— Recebido, central. Em deslocamento — respondeu Brimstone antes de devolver o comunicador ao rádio.

Clarence, um dos fuzileiros do grupo, de compleição esguia e pele clara, abraçou seu fuzil como se fosse sua única âncora.

— Mantenha a calma, Clarence. Vamos eliminar alguns terroristas e seguir em frente. Nada vai dar errado. Certo? — disse Tariq, colocando a mão no ombro do amigo.

— Eu não sei, Tariq, estou com um mau pressentimento.

— Ouça o Tariq, Clarence. Vamos apenas mandar esses caras para o inferno e sair daqui, como temos feito desde que pisamos nesse lugar — tranquilizou Brimstone.

O sol brilhava nas areias, ofuscando parcialmente a visão do esquadrão. Cansados e famintos, as perspectivas eram sombrias. Brimstone, no entanto, era um homem de dever: missão dada, missão cumprida. Continuavam pela estrada de terra batida, os pneus esmagando o asfalto irregular, balançando suavemente o veículo. Logo estariam em uma estrada próxima a Ramka, onde o trabalho seria rápido. Mas, o desejo de Brimstone não era o desejo do destino.

Valorant | IgniçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora