1. Você me machucou primeiro

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Da varada do meu quarto observo o brilho intenso do círculo de prata, solitária apesar de rodeia de pontos brilhantes. Assim como eu. Passara-se seis meses desde que soube da traição do meu ex, mais as cicatrizes do meu coração ainda doem como se dias nenhum tivessem passado.

Eu tentei seguir em frente, distrair-me com o trabalho, com os amigos, passatempos, mas nada parece tira-me do estado de dor e tristeza profunda. Sempre me pego pensando nele, nas lembranças felizes que compartilhamos, e então a dor é mais aguda quando percebo que tudo não passou de uma mentira.

Eu ainda tenho pesadelos. Sonho com ele e com a outra mulher, com a humilhação que senti quando descobri tudo no altar em frente a mais de cem pessoas. E mesmo acordada ainda sinto uma sensação de aperto no peito como se o mundo estivesse a desmoronar ao meu redor.

Dou uma pausa na escrita, olho novamente para o brilho da lua, suspiro cansada. Preciso recupera-me, preciso de voltar a brilhar assim com a lua, independente do seu tamanho, da minha dor, talvez precise de estar longe daqui, de tudo que me lembra aquele fatídico dia. Leandra surgi agora no meu pensamento, ela sempre desejou ter-me junto dela lá em Berlim, "nem que fosse por um dia", como ela disse a última vez que falamos.

Levanto-me deixando o diário de lado, entro no quarto e pego o telefone na cabeceira da cama, absorvo o ar com veemência e o liber-o morosamente antes de buscar pelo número de Leandra, a minha irmã que vive na Alemanha há sete anos.

Não demora, ela atende.

— Oi, Léah como você está? — Indago com a voz rouca assim que ela atende o telefone.

— Oi, mana, estou ótima e você como tens passado? — Questiona com a voz preocupada.

— Ah, tentando curar-me antes que essa ferida se torne crônica.

— Eu... sinto muito — murmura, depois de uma curta pausa —, por que não vens passar uma temporada aqui comigo? Não tem nada melhor que viajar para esquecer uma desilusão amorosa.

— Esse é o motivo que me faz ligar-te — digo, hesitante.

— Você finalmente vai aceitar o meu convite? Não brinca?

Volto a pôr o telefone no ouvido após o ter afastado dos gritos dela.

— Sim. E penso em ficar por tempo indeterminado.

— Não tem problema nenhum, você e su..., SIMON SAIA DAÍ JÁ — grita ao seu filho que já está com dois anos e oito meses. — Desculpe Niah, esse miúdo não para quieto, o que eu dizia mesmo? Ah, você tem um sentido de oportunidade excelente...

— Por que dizes isso? Levanto uma sobrancelha, curiosa.

— É que nesse momento na empresa onde trabalho a vaga para diretor de criação está desocupada e o meu chefe incumbiu-me de fazer as entrevistas com possíveis candidatos à vaga e, eu devo selecionar apenas três portfólios, para que ele mesmo escolha o candidato perfeito, cito as suas palavras.

— Espera... ainda trabalha como assistente de RH na agência de publicidade metamorfose? Não, — exclamo levando a mão desocupada a boca e, volto a sentar-me na beira da cama.

— Sim, meu bem.

— Meu Deus, isso é ótimo.

— Né? Azar no amor, sorte no trabalho.

— Na verdade, é sorte no jogo.

— Tanto faz. Envia agora mesmo seu Curriculum e portfólio.

Corro até ao escritório/biblioteca que fica no mesmo corredor entre o meu quarto e o quarto da minha irmã. Tudo no meu quarto está organizado nos mínimos detalhes e aqui no escritório não é diferente.

NÃO POSSO TE AMAROnde histórias criam vida. Descubra agora