Prólogo.

37 5 1
                                    

    Eu sabia assim que tranquei a faculdade para seguir meu sonho que entrar no mundo das influenciadoras digitais não seria fácil, mas não imaginava que fosse tão cruel.
    Era interessante como o mundo todo continuava girando plenamente para todos e eu sentada naquele banco de bar frio sentia que o meu estava prestes a desmoronar. Nunca fui fã de bebidas alcoólicas e ainda sim já tinha perdido as contas de quantas já havia ingerido naquela noite.
    — Noite difícil? — um desconhecido de olhos verdes cintilantes se aproximou de mim e meu corpo todo ficou em alerta.
   — Você nem sabe o quanto.
   Ele percebeu a minha mudança de postura e deu um sorriso torto que provavelmente faria calcinhas caírem, sentou no banco ao lado, felizmente manteu uma distância considerável entre nós. Em qualquer outro momento, eu estaria flertando com aquele bonitão ao meu lado. Naquele exato momento? Não tinha vontade nem de viver quem dirá de flertar.
   — O que aconteceu? — ele me encarava fixamente e eu não sei se era a bebida ou aqueles olhos verdes cintilantes que me fizeram responder a pergunta de um total desconhecido.
   — Eu trabalho como influenciadora digital sabe? Só que parece que tudo está dando errado pra mim. Perdi minha conta e vou ter que começar do zero, sem apoio de ninguém.
   — Qual seu nome?
   — Annie.
   — Annie, não é possível recuperar a conta?
    — Já tentei de tudo, mas eles não me devolvem. — começo a sentir o álcool embriando meus pensamentos e dou graças aos céus por isso. Não aguentaria passar por aquele dia sóbria.
   Acho que o homem ao meu lado entende que não estou no meu momento mais extrovertida e se cala, virando-se para a frente do balcão e fazendo com que eu tivesse uma boa vista de seu perfil e o encaro sem pretensão.
   Ele era bem acima da média o olhando bem agora. Enquanto ele segurava  sua cerveja noto o físico atlético, a barba para fazer e os pequenos sinais espalhados pelo rosto.
   Ele se vira de forma espontânea em minha direção e sou flagrada encarando, não sei se é a coragem que a bebida trás, mas não desvio o olhar e entramos em uma luta acirrada do estilo "quem pisca primeiro" e sinto os pelos do meu corpo se arrepiarem ao me notar perdida naquela imensidão de verde.
   Em um pico de energia, eu decido me levantar e ir embora, não sei o que a bebida fez comigo e prefiro não ficar para saber, mas me levanto cambaleando e sinto as mãos fortes do homem segurar meus ombros para me estabilizar.
   — Acho que eu bebi um pouco mais do que devia. — afirmo com a visão meio turva e a voz mais rouca do que o normal.
   — Você acha? — ele me encara e levanta uma de suas sobrancelhas e nunca achei que alguém pudesse ficar tão sexy com essa expressão facial.
   — Você não poderia ser menos bonito? — falo enquanto ele me ajuda a ir até a saída do bar.
   Ele não me responde, mas sorri e segue olhando para frente, noto como o sorriso não é como de antes. Uau. Eu não esperava por essas covinhas. Desejo apreciar mais esse sorriso, mas quando mal saímos do bar sinto a bile subindo pela minha garganta e me inclino para frente em uma cena nojenta e catastrófica. Acabo vomitando em frente ao bar enquanto o estranho o segura meus longos cabelos cacheados e espera eu botar todo o álcool pra fora, quando acaba ele me senta no meio fio e tudo o que acontece depois passa em um lampejo até que estamos dentro de um carro.
   Não é porque estava bêbada que tinha perdido a noção do perigo, então tento protestar em meio a náusea e a visão turva, mas tenho medo de falar e acabar vomitando de novo.
   Sinto meus olhos pesarem aos poucos e apesar de meu corpo protestar não consigo me manter acordada e apago.

   Me viro em meio as cobertas, mas logo noto que aquela não é minha cama e desperto em um salto. Mal me levanto quando a dor falta explodir minha cabeça e as memórias da noite passada ressurgem e a ideia de ter saído com um total estranho me apavora, aos poucos noto o quarto de hotel caro e me levanto pra ir até o banheiro relembrando a noite anterior. Na frente da porta tem um bilhete escrito com uma bela caligrafia:
"Desculpe Annie, por não estar aí quando você acordar, porém tive um imprevisto e não pude ficar. Não achei que seria sensato te deixar naquele lugar nas condições em que você estava e não se preocupe com a diária do hotel."
   Sinto uma pequena faísca em meu peito crescer e eu sei que aqueles olhos verdes desconhecidos não vão sumir da minha mente por um longo tempo.

Colisão - Charles Leclerc Onde histórias criam vida. Descubra agora