86

0 0 0
                                    


Lola encarou o cartaz de "Desaparecida" com pena e curiosidade.

"Ela tem a minha idade, e é mais bonita que eu."

― Amor? O que foi? - Abel perguntou.

― Ah, nada... Só tava vendo a menina que sumiu.

― Você tá com medo?

― Um pouco... Contando essa, acho que foram umas seis que sumiram por aqui. ― disse ― Me dá medo de voltar do trabalho tarde e ser a próxima.

― Ei, você sabe que eu nunca deixaria isso acontecer com você. ― ele a abraçou. ― Se quiser, eu começo a te buscar no ponto, ou te compro um daqueles botões do pânico.

Ela sorriu. Ainda estava com medo, mas se sentia um pouco mais segura com ele.

― Okay. Obrigada, meu bem.

Eles chegaram em casa quase meia-noite. Mesmo com os desaparecimentos, Abel a convenceu a sair para jantar, pensar em outra coisa, e estando com ele, a chance de ser raptada pela máfia ou por torturadores das Red Rooms era bem menor.

Lola jogou a jaqueta no sofá, a bolsa na mesinha de centro e os sapatos num canto perto da porta, e pouco depois sentiu algo que não soube descrever a princípio. Parou e olhou em volta.

― Amor...

― O que foi, meu bem? ― ele perguntou, confuso com a expressão dela.

― Eu acho... que tem alguém aqui.

Dizer essas palavras fez o choque bater de uma vez. Lola tremeu, com um arrepio subindo pela espinha.

― A arma tá no quarto? ― ela perguntou.

― Sim... Mas você tem certeza?

― Não 100%, mas é bem perto disso.

Ele andou devagar até a cozinha, com ela em seu encalço, cobrindo a retaguarda. Quando viram que não tinha ninguém, cada um pegou uma faca, e os dois continuaram na mesma formação, olhando o corredor, o escritório, até chegarem no quarto.

Abel abriu a porta, ofegou e, por fim, disse:

― Mas que porra é essa?!

Lola, ainda mais assustada, deixou de cobrir a retaguarda para olhar o que tinha no quarto.

Em pé, em frente à cama, sem nenhum apoio, estava uma porta de madeira cinza, quase preta, com uma maçaneta com fechadura antiga, um rosto com olhos fechados entalhado quase à altura dos olhos e um número 86 com pelo menos meio metro de altura entalhado mais abaixo.

― De onde veio isso? ― ela perguntou. ― Eu vou ligar pra polícia.

Em meia hora, policiais chegaram e revistaram a casa inteira. Não encontraram nada além da porta. Nenhum ponto de entrada forçada, nenhuma fechadura quebrada, nenhuma janela ou porta destrancada.

No entanto, mesmo três homens adultos não conseguiram mover a porta do lugar. Era como se estivesse colada. Os oficiais chegaram a questionar se era uma pegadinha, mas o casal aflito os convenceu que não.

Depois que eles foram embora, faltava pouco para 1h30 da manhã.

Lola estava com medo, mas estava tarde para procurar outro lugar para dormir, e sem sinal de entrada forçada ou de algum intruso na casa, não havia motivo para não dormir no quarto.

― Pode dormir, amor, eu vou ficar vigiando. ― Abel se ofereceu.

Sabia que ela estava apavorada. A cidade estava cada vez mais perigosa com todos os desaparecimentos, e mesmo se fosse só uma pegadinha de algum conhecido, ela não encararia de um jeito positivo, e poderia levar um tempo para superar o susto.

86Onde histórias criam vida. Descubra agora