Nove

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Nove

-O que houve com seu rosto? — Robin quis saber assim que a viu. Regina colocou a mão sobre a face dolorida e cerrou os dentes. Não imaginara que a bofetada tivesse deixado marcas.

—  Um descuido meu — ela mentiu e continuou descarregando os fardos de ração.

Robin se aproximou para ajudá-la, o olhar atento e desconfiado, que provou que ela tomara a decisão certa em não lhe contar sobre Daniel.

Robin jamais a apoiaria.

—  Foi bom encontrá-lo aqui — ela afirmou, depois de terminar o descarregamento. — Estou pedindo minha demissão e um grande favor, se pode arrumar alguém que possa me levar até o ponto de ônibus.
Embora Regina tivesse imprimido um tom casual à voz, a idéia de ir embora do rancho e nunca mais tornar a ver Robin lhe parecia insuportável.
Um silêncio pesado se abateu sobre ambos, prolongando-se até terminarem de guardar os fardos no celeiro.

—  Por que tão de repente? — ele indagou.

—  Decidi me mudar — mentiu, sem coragem para fitá-lo.

—  Por causa daquela noite?

Regina se forçou a encará-lo, mas não conseguiu. Não esperava que Robin fosse tocar naquele assunto.
Fez um movimento negativo com a cabeça.

Mas Robin não parecia disposto a deixá-la partir tão fácil. Com um movimento inesperado, ergueu a mão e tocou a face, que começava a arroxear.

—  Aconteceu alguma coisa na cidade, que você não quer me contar.

Regina precisou baixar as pálpebras para não se trair. Tinha medo de contar a verdade para Robin.
Recordou-se dos anúncios sobre empregos, que vira na loja, e aproveitou a desculpa.

—   Um dos empregos anunciados na loja dizia que estavam precisando de mão de obra experiente em cavalos, na região de Cheyenne.

—  Há um outro motivo por trás de sua decisão.
Regina hesitou. O modo suave com que Robin a fitou foi tão inesperado quanto persuasivo. Ela precisou se controlar para não enfraquecer. Robin não a conhecia, e o pouco que sabia a seu respeito não era de seu agrado. Ainda era o homem que a desejava para algumas horas de prazer apenas, e que não a considerava digna de ocupar um lugar respeitável em sua vida. Como confiar nele? No final, a decisão que tomara de pedir sua demissão e partir para longe de Daniel era a única admissível.

—  Sinto muito não tê-lo avisado com maior antecedência. Não foi possível. — Para evitar mais perguntas, Regina começou a se afastar em direção a casa. — Não levarei mais do que dez minutos para arrumar minhas coisas.

A voz grave de Robin a fez parar.

—  O próximo ônibus só partirá de Red Horse amanhã.

Isso não podia acontecer! Se esperasse até amanhã, Daniel poderia comprometê-la irremediavelmente.
Como se lesse a dúvida em sua mente, Robin caçoou:

—  Informe-se você mesma, se não acredita. Peça para que minha mãe lhe forneça o número.

Regina não se moveu até Robin desaparecer pela porta do celeiro.

Ele tinha de estar enganado.

A dúvida de onde estava sua filha e se Daniel realmente sabia do paradeiro da menina também atormentava Regina, todos os segundos desde que o seu ex noivo lhe abordou naquele dia mais cedo, um aperto se formou em seu peito e naquele momento respirar era difícil para Regina, não podia deixar de pensar aqui tudo aquilo será culpa de si mesma, culpa por não perceber o canallha que Daniel sempre foi.

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