3. Me sinto um impostor

447 49 7
                                    

Tobias Bernstorff

Ouço a voz grave e melódica do piloto anunciar o pouso no aeroporto de Berlim, e os meus sentidos se aguçam. Arregalo os olhos buscando pela mulher que esteve o voo inteiro do meu lado.

Olho para os lados e não vejo nada, até que me levanto e avisto um caderninho colorido com uma mariposa na capa, que presumo ser um diário. Com cuidado, o seguro nas minhas mãos, e é então que vejo Nihara próxima à saída do avião.
Tento chamar a sua atenção, mas sou impedido pela hospedeira de bordo que nos ordena a seguir a ordem de desembarque.

- Nihara, por favor - grito, mas seu olhar é breve, pois ela desce a seguir sem poder voltar. Espero pacientemente e, quando finalmente saio do avião, varro o aeroporto com os olhos, procurando-a em cada rosto.

Mas ela parece ter desaparecido no ar, deixando-me com a angústia de não saber o que fazer agora.

- Tob o que foi, está tudo bem? O que está a procurar? - pergunta Harry confuso, surgindo atrás de mim.

Estou a procurar pela mulher da minha vida.

- Ah, sim, claro, eu só... - faço uma pausa, pensando em algo melhor para dizer e fugir dos seus questionamentos. - Vem cá tive imensas saudades tuas, como estás? - Abraço-o forte e dou palmadinhas na suas costas antes de soltá-lo.

- O que é isso? - me recebi o diário e observa-o curioso. - Tu sabes que a Astrid não é o tipo de adolescente que escreve diário!?

- Serio? - faço uma expressão confusão - convivo com ela há dezasseis anos, como eu não sabia disso?! - Ironizo e Harry solta um riso sem graça.

- Engraçadinho, vamos logo que a sua família está a esperar ansiosa.

- Como está a minha menina?

- Ela está ótima e morrendo de saudades. Ela não desgrudava de mim, o olhar dela parecia que sabia que eu vinha buscar-te e queria vir junto. Estava agitada quando a deixei.

O meu amigo dá um riso nasalado fazendo uma pausa, bate os cílios com força, fazendo as lágrimas que se formavam nos seus olhos azuis se dissiparem.

- Sinto como se tivesse ficado anos longe dela, essa foi a parte mais difícil dessa viagem, não poder levá-la comigo - inspiro e expiro lentamente e acabo por me perder em pensamentos.

Ficamos em silêncio por vários minutos, e sem dizer nada, Harry aponta com a cabeça para o diário nas minhas mãos, me fazendo quebrar o silêncio, mas antes que eu possa responder, somos interrompidos pelo toque do meu aparelho telefónico.

- Onde vocês estão? Por que demoram tanto? Aconteceu alguma coisa? A Sophie está sentada lá no alpendre e não aceita de jeito nenhum entrar em casa, está a esperar por você - informa Herman angustiado do outro lado da linha.

- Ei, maninho, respira, está tudo bem. Já estamos a chegar, e se me atrasei a culpa é do Harry - dou um sorriso travesso, e olho para o meu melhor amigo, que apenas faz uma careta. - Estaremos aí em vinte minutos.

Desligo o telefone e não consigo ser indiferente a expressão estranha que o meu amigo tem agora, me pergunto se terá alguma coisa haver com a conversa dê a pouco com a Herman. Mas não, é algo mais grave que o preocupa.

- Então, quando pretendes dizer-me o que se passa? - pergunto diretamente e ele me olha de soslaio
- Nem adianta negar que não se passa algo.

- Agora, não, por favor, não vamos estragar esse dia - olho-o por alguns segundos e acabo assentindo.

NÃO POSSO TE AMAROnde histórias criam vida. Descubra agora