Capítulo 3 - M.N.V.S.E

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Tokyo, Japão. 7 de abril de 2023.

Não estou nervosa. Tento repetir essas palavras, que parecem incapazes de serem compreendidas por minha mente turbulenta. Estou andando em círculos a mais ou menos meia hora, com um pânico crescente sempre que o assunto "colégio" empurra para longe o meu mantra, e passa a ser o foco da minha atenção.
Preciso respirar. Consigo juntar forças para firmar meus pés no chão, e apenas o ato de ficar parada era equivalente a pisar em cacos de vidro. Eu estava preparada para aquilo. Dediquei os últimos 3 meses em testes, planejamentos e horas de conversas em frente ao espelho. Montei roteiros de resposta para cada assunto que pudesse aparecer. Aprendi a falar e me portar como uma garota colegial. O que poderia dar errado?

Tudo poderia dar errado! Consigo imaginar as piores situações e a minha farsa sendo revelada. Agir como Sophie naquela casa estava sendo sufocante, mas eu tinha o benefício de estar entre familiares. No colégio, eu seria como um pequeno pássaro que ainda está aprendendo a voar, no meio de gaviões treinados. Com toda certeza, eu não conseguiria levar aquilo adiante.

"Não estou hiperventilando. Não estou hiperventilando."

- A mamãe perguntou se você vai comer.. Por quê ainda não tá arrumada? - Yuina me olhava de cima a baixo, estreitando os olhos. Nas últimas três vezes em que a garota entrou no quarto, fingi que estava procurando alguma coisa. Acho que não daria para fazer o mesmo agora. - Não está se sentindo bem?

- Não é nada. - Balançando a cabeça em negação, expulsei qualquer sombra de preocupação, estampada nos olhos arredondados de Yuina. Sabia que ela sempre ficaria preocupada com o menor indicativo de que a minha saúde não estivesse boa, e não queria que a preocupação fosse mais um dos sentimentos que estavam contidos dentro do seu coração. - Diga à mamãe que já estou indo.

Sorri até que Yuina fechasse a porta. Assim que ela saía do meu campo de visão, deixei que um suspiro pesado saísse das minhas narinas. Me aproximando da cama, peguei a parte superior do uniforme e como espinhos enfiados em cada ponto do meu corpo, o vesti, fechando os botões. Demorei o dobro do tempo para vestir a saia azul que compunha o uniforme, não podendo me sentir mais envergonhada por vestir algo tão revelador. Olhava a minha imagem no espelho, encarando as pernas longas e desnudas. Acostumada com os vestidos que pouco mostravam a minha pele, não era difícil me sentir nua diante daquela vestimenta.
Felizmente, encontrei em uma das gavetas, uma meia calça de cor preta, que faria parte da composição. Me olhei mais uma vez no espelho, agora satisfeita com o que via. Peguei os tênis e quase atravessei a porta, quando um lampejo me fez lembrar que eu estava idêntica a Medusa.

Voltei para o espelho e com o auxílio de um pente, arrumei os fios desalinhados. Naquele momento, senti falta das mãos doces de Dália, que penteava o meu cabelo todos os dias. Minhas mãos já estavam doloridas quando eu ainda não estava nem na metade dos fios castanhos, e devido a quantidade, qualquer movimento fazia os fios já desembaraçados voltarem a estaca zero.
Tentei não bufar em desespero quando minhas tentativas de fazer duas tranças viravam um monte de emaranhados sem sentido. O que eu havia feito mirava em trançados, e acertavam em uma teia de aranha. Contendo um xingamento, decidi deixar o longo cabelo de forma livre, vasculhando entre as caixinhas delicadas, alguma presilha que pelo menos indicasse que havia uma tentativa de deixá-lo arrumado. Passando para a maleta de maquiagem, peguei um gloss que apenas destacava o vermelho dos lábios, e finalizei com um rímel, tentando não pensar na consistência gosmenta e do incômodo que aquilo deixava nos olhos.

Minha Nova Vida Sendo a EstrangeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora