Um Halloween Esquecível

- "Papai! Papai!" - os gritos animados de uma garotinha ecoaram pela casa. Seus pés corriam pelo corredor em busca de seu pai.

Ele estava sentado em uma cadeira em frente ao computador. A sua xícara de café exalava o cheiro de estresse por todo o escritório. Seu olhar sério se concentrava na tela e sua mão trabalhava nas teclas.

- "Papai!" - sua voz ficou mais forte, ela precisava mostrar aquilo.

O homem soltou um suspiro... ele já estava trabalhando nesse projeto há horas, e sua energia esgotada simplesmente não era páreo para o humor desgastante de sua filha naquele momento.

A cadeira rangeu e ele se virou para a filha.

- "Mary... qual é o problema?" - Ele perguntou antes de tirar os óculos.

Ele se levantou, empurrando a cadeira para trás. Sua filha olhou para ele com olhos brilhantes.

- "Olha o que eu achei, papai!".

Ele inclinou a cabeça para frente, franzindo a testa. Seus olhos, que haviam se acostumado com a luz exaustiva do monitor, tentaram se concentrar nas pequenas mãos da filha.

Ela estava segurando um pedaço de tecido que ele mal reconheceu

- "Isso é um pano velho filha. Joga isso fora."

- "Não! Não! É uma fantasia de coelho muito fofa!"

Um coelho?

Seus olhos cansados se arregalaram quando ele ouviu isso.

Com sua mão grande, ele pegou a peça de roupa e começou a analisá-la. Era um tecido cinza simples, amassado à primeira vista, com algumas costuras ao redor e um capuz com orelhas. Estava um pouco desgastado, mas ainda bem conservado.

Ele olhou de volta para a filha com uma súbita faísca de interesse.

- "Onde você achou isso?"

Mary parecia tão satisfeita por ter despertado o interesse do pai que seus olhos brilharam ainda mais e ela sorriu tão amplamente que ele podia ver o espaço entre seus dentes de leite.

- "Na caixa mofada na garagem. Mamãe disse que é sua."

- "Minha velha caixa de..."

Um leve sorriso de nostalgia surgiu no canto de seu rosto surpreso. Ele se recostou em sua cadeira. Seus olhos ainda fixos em sua antiga fantasia de Halloween.

- "Meu Deus... Eu quase havia me esquecido..."

- "Posso usar sua fantasia de coelho pro Halloween amanha ?"

Ela tentou se aproximar de seu pai para tomar a fantasia. Mas ele se agarrou àquele mero tecido com todas as suas forças. Como se não quisesse se desfazer de seu passado.

- "Não é um coelho. É um coala." - Ele resmungou irritado.

Mary olhou para ele com olhos insistentes.

- "Papai deixa ! Deixa ! Deixa ! Por favor."

Seu olhar estava fixo em sua antiga fantasia de coala. Aquele traje era como um tesouro que ele havia perdido há muito tempo em suas memórias.

 Ele falou com um tom de vergonha em sua voz.

- "Sabe querida, essa foi a pior fantasia que já usei na minha vida. Tão ridícula, na verdade, que só a usei uma vez e quase me esqueci dela." -

Seus olhos sonhadores observavam cada detalhe do tecido em suas mãos. Cada toque do tecido era uma lembrança que se desbloqueava em sua mente. Em um gesto delicado, ele puxou a filha para o conforto de seu colo e sorriu para ela.