─ Eu ainda consigo te ver. Você sabe disso, certo? ─ minha voz era baixa, embora fosse firme o suficiente para ser ouvida no ambiente.
Kenjaku - ou melhor, Suguru - estava realmente testando todos os meus limites no momento. Por um lado, estar na biblioteca a esse horário da manhã era perfeitamente normal para qualquer tipo de pessoa, já que nunca existe uma hora certa para buscar conhecimento. Mas ficar me encarando sem pausa enquanto se esconde atrás de um livro por mais de trinta minutos é coisa de maluco, e estava começando a me incomodar em todos os sentidos.
─ Claro. É, eu sei ─ ele confessa e fecha o livro com um suspiro, o posicionando na mesa a minha frente para olhar diretamente para mim agora.
─ Então por que continua com isso? ─ resmungo, não prestando total atenção nele enquanto me mantenho concentrada no meu próprio livro em minhas mãos, meus pés apoiados no balcão.
─ Não é óbvio? Preciso ficar de olho em você para garantir sua preciosa palavra.
─ E você não tem nada melhor pra fazer? Que nem sei lá, viver sua vida? ─ viro a página do livro de forma impaciente, me recusando a fixar meu olhar nele por muito tempo. Mesmo contra a minha vontade, sua presença marcante, somada ao fato que eu conhecia, enviava calafrios pela minha espinha ─ Eu já prometi que não vou falar sobre nada, e também não ligo pra quem você é ou deixa de ser.
Para ser sincera, posso até ser considerada uma verdadeira sortuda a esse ponto. Eu nem imaginava que estaria viva para pronunciar tais palavras para ele nesse momento ou que possuiria a grandiosa chance de vê-lo em pessoa novamente, mas também não estou reclamando da situação atual, embora seja bem desconfortável.
Pelo que dizem sobre o submundo do crime, a pessoa que descobre a identidade de um membro importante da máfia e seu paradeiro mais recente é geralmente morto sem piedade, como um animal indefeso no abatedouro. Era exatamente o que eu esperava que acontecesse comigo, mas ao invés disso recebi um stalker estranho que me seguiu nos primeiros horários da manhã.
─ Ah sim, sim. Você continua dizendo isso, mas o problema é que não tenho motivo nenhum para acreditar em você. Então, sugiro que lide com minha presença em silêncio se quiser continuar livre de consequências ─ ele alerta, e a ameaça em sua voz demonstrava que aquilo não era brincadeira, me incentivando a me sentir ainda mais incomodada com seu tom.
A sorte dele é que a biblioteca estava quase deserta, contando apenas com um velho senhorzinho que se refugia em um canto isolado todos os dias para ler bons clássicos até o cair da tarde. Se não fosse por esse fato, eu já teria gritado esse "segredo" idiota para todos os ouvidos possíveis, ou anunciado em todas as redes sociais.
Ele tinha razão, no entanto. Nós dois erámos completos estranhos e a chance de que eu mantivesse sua integridade intacta era consideravelmente baixa, visto que poderia simplesmente vender essa informação ou vazar para a mídia para arruinar a carreira dele - mesmo que essa opção custasse caro para mim -, então não o culpo de forma alguma.
Com isso em mente, deixo escapar um suspiro frustrado dos meus lábios e volto a olhar para sua figura disfarçadamente, percebendo a sua mudança da posição corporal.
Agora ele estava praticamente jogado na cadeira, com o corpo inclinado para trás e os braços apoiados no encosto enquanto batia uma caneta, que estava com ele desde que chegou, repetidamente na mesa em um gesto que interpretei ser algum tipo de mania estranha.
─ Beleza, entendi. Mas pode pelo menos esconder melhor essa coisa dentro da biblioteca? Você não quer assustar alguém com essa lâmina, não é? ─ levanto a cabeça para apontar para a caneta que ele girava nos dedos, estreitando os olhos.
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𝗢 𝗖𝗢𝗥𝗔𝗖̧Ã𝗢 𝗗𝗔 𝗚𝗨𝗜𝗧𝗔𝗥𝗥𝗔 // suguru geto
FanficUma famosa celebridade musical comete o erro de deixar cair o segredo que pode destruir a sua carreira nas mãos de uma jovem bibliotecária desiludida que acha que romances inesperados e verdadeiros existem apenas nas páginas dos livros de sua estant...