O Andarilho Solitário

1. A Jornada Começa

Um arbusto passou voando em sua frente, carregado pelos fortes ventos do deserto. Ventos esses que o desequilibram momentaneamente, quase derrubando o homem em cima de um cacto.

Apesar da breve interferência em sua caminhada, o homem não deixou-se abalar e continuou seguindo o seu caminho de volta a sua base temporária. Ele costumava construir muitas bases temporárias no deserto. Nunca permanecia muito tempo na mesma, por isso que era um andarilho. Mas a sua base atual foi uma exceção. Ele ficou muitas semanas nessa base. Não sabia bem o porquê, mas quando chegou ao local teve uma sensação esquisita de perigo, não de que o perigo o aguardava nesse lá. Não! Se fosse isso já teria partido. Foi uma sensação de que se saísse dali teria que enfrentar um grande perigo.

Seguiu o caminho de volta para a base, se guiando pelo sol e por algumas rochas que costumava usar como referência quando saia pra caçar. Tinha acabado de abater e capturar três coelhos de pluma leve (uma espécie de coelhos típica do "Deserto Lamurioso". - eram coelhos muito leves e ágeis, além de muito espertos). Eram uma presa muito astuta, a maior parte dos viajantes que cruzavam o deserto falhavam ao tentar abatê-los, mas não o andarilho. Ele já vivia no deserto há muito tempo, aqueles sorrateiros roedores não eram páreos para sua astúcia experiente.

Ao chegar em sua residência temporária, pegou uns galhos que tinha guardado e acendeu uma fogueira. Descarnou os coelhos e os fixou por cima da fogueira com galhos. Enquanto esperava os animais cozinharem foi arrumar as suas coisas. Sempre que partia de uma base para a outra, recolhia os seus pertences e levava tudo com ele, em cestos acoplados na cela de seu camelo. Mas sempre deixava intacta a estrutura da base. Ele pretendia deixar pelo deserto o seu rastro, assim marcando por onde andou em sua vida, e para que qualquer um que estivesse se aventurando no deserto pudesse ter um abrigo seguro caso fosse necessário.

O homem não tinha muitos pertences, apenas algumas peças de roupa e alguns tesouros que colecionou ao longo dos anos. entre esses tesouros:

. Uma pérola de uma ostra rochosa - um tipo de ostra que evoluiu para viver no penhascos rochosos que existiam dispersamente no deserto;

. Um livro sobre plantas: plantas medicinais; venenosas ou extremamente nutritivas;

. E um bestiário, que contia um índice de mais de cinco mil espécies diferentes de animais que habitavam o deserto, os arredores e até mesmo algumas espécies de outros biomas.

Depois de guardar todas a suas posses e preparar o camelo para a viagem, pegou nos coelhos, agora assados, e devorou um deles rapidamente. Embrulhou os outros dois em um tipo de plástico especial - um capaz de preservar não só o calor do alimento mais também a sua qualidade, permitindo que qualquer coisa durasse dez vezes mais que o normal quando devidamente embrulhados. - Apagou a fogueira, limpando as cinzas que ficaram no chão, e subiu em seu camelo, olhando em direção ao sol para se localizar, virou o camelo ligeiramente para a direita, se voltando para o Sul - o inverno estava se aproximando, e se ele não fosse para algum lugar mais quente, as chances de ter hipotermia durante a noite subiam exponencialmente, não podia arriscar perder a vida de uma forma tão fria - uma vez no sentido correto, bateu de leve na anca do camelo e começou a seguir em linha reta para o Sul. Um lugar mais seguro contra as forças da natureza, porem mais exposto a ameaças humanas.