Lucien
—LUCIEN!_ o berro de Ethos, furioso, me fez correr apressado pelos corredores. Empurrei minha coroa que ameaçava cair enquanto caçava um lugar para esconder sua espada e livrar meu pescoço. Afinal, ela nunca esteve em minhas mãos... Ou era isso que eu queria que ele acreditasse.
Afundei meus pés no chão, deslizando antes de voltar correndo e encarar a armadura que enfeitava o corredor. Ri baixinho, sapeca, trocando as espadas de forma apressada. Eu não achei que Ethos terminaria de cortejar a filha do cavalariço tão cedo, e daria falta de sua espada ainda mais depressa.
Feita a troca, corri de volta pelo corredor que vim, arrastando a espada da decoração. Queria ver meu irmão me acusar de algo que obviamente não fiz! Ele nunca me deixava usar sua espada, então eu peguei a da decoração até que ele prove o contrario.
Bati de cara contra as pernas de alguém que me fez cair para trás, meu colarinho foi agarrado e fui suspenso do chão, com o olhar de Ethos queimando em meu rosto.
—Eu só irei perguntar uma vez, pirralho! Onde está minha espada?_ele grunhiu entre os dentes.
—Não faço ideia! Se você a deixa jogada por ai, a culpa não é minha!
—ONDE ESTÁ MINHA ESPADA, LUCIEN?_Ethos vociferou, me sacolejando.
—Eu achei que ia perguntar apenas uma vez. _disse metódico e Ethos parou de me sacudir, apertando as sobrancelhas com força e me encarando com seus olhos dourados com tanta raiva que ele poderia me estrangular facilmente.
—Você é o ladrãozinho que fica revirando minhas coisas! E eu ainda não te perdoei por sumir com meu anel favorito!
—Eu não sei de onde você tirou isso!_dei de ombros me fingindo de certinho._ Pode ter sido os outros. Talvez Cristhoper ou Nuor. Ou qualquer outro...
—Você é o único que ousa pisar em meus aposentos!
—Ah nem me lembre disso! Ainda tenho pesadelos! Acha que eu queria presenciar tal cena repulsiva de meu irmão com uma das serviçais? Não! Definitivamente não!
—Não mude de assunto seu pilantra!_Ethos rosnou_ Onde está minha espada?
—Você está com sérios problemas com sua palavra, irmão. Talvez deva refletir sobre isso. Como as pessoas vão leva-lo a serio quando...
Ethos me sacolejou tão fervorosamente que meu cérebro tremeu dentro de meu crânio. Ele parou de me sacudir quando Tylia bateu o livro em sua mão na cabeça de meu irmão que, a estrangulou com os olhos, mas nada fez.
—Deixe o pobre Lucien em paz! Vá achar alguém para descontar suas frustrações se a filha do cavalariço não quis cair na lábia do príncipe!
Tylia tirou seus olhos severos de Ethos para me olhar com bom humor, e serena. Ela era mais bonita que as rosas de nossos jardins, seus cabelos castanhos claros ondulados estavam presos de forma desleixada em um coque que ameaçava se soltar.
Ethos me colocou no chão apontando o dedo para meu rosto.
—Não pense que acabou aqui!_ele grunhiu com seu indicador rente ao meu nariz_ Que essa espada apareça antes do anoitecer, ou eu vou escravizar você, e te obrigar a forjar uma novinha até que eu fique satisfeito com o resultado.
Pisquei indiferente a suas ameaças e ele se foi pisando duro. Nossos sobrinhos passaram correndo brincando causando grande algazarra pelos corredores, os deixado barulhentos e bagunçados.
—Você não deveria provocar a ira de Ethos, Lucien._Tylia comentou calma, e peguei a espada no chão, caminhando ao seu lado pelo corredor bem iluminado pela manhã fresca.
—Se ele acha que tenho medo de suas ameaças, apenas porque tenho oito anos, está enganado! Sou um príncipe assim como ele! Não é porque ele nasceu antes de mim que é superior.
—Sinceramente, você é igualzinho ao Ethos._ela riu escondendo o sorriso atrás da capa do livro em suas mãos._Vamos, não irei lhe denunciar. É você que anda pegando as coisas dele?
A avaliei pelos cantos dos olhos, desconfiado, mesmo que Tylia fosse minha irmã favorita por sempre me proteger.
—Eu só quero ser como ele. Então por que Ethos fica tão bravo?_resmunguei e Tylia sorriu de forma doce, afagando meus cabelos.
—Não tente ser como ele. Gosto de você do jeito que é! E quando crescer vai ser muito mais bonito que Ethos.
—Mas Ethos é o melhor espadachim de nosso reino.
—Você terá muito tempo para treinar e supera-lo. A um momento para tudo nessa vida._ela disse voltando a abrir seu livro.
—Estão dizendo que thalfryanos estão vindo. Será um cortejo para você?
—Certamente._ela não demonstrou nenhum interesse no assunto.
—Não queria que você se casasse. Quem irá me defender de Ethos?_deixei meus ombros caírem e um suspiro pesado escapar. Ergui meu rosto para olhar para o de minha irmã, vendo um sorriso curvar o canto de seus lábios._ Sabe, quando for me casar, direi ao meu pai que só aceitarei se encontrar uma mulher que seja mais bela que você.
—Isso foi um elogio?_ela riu baixinho, e concordei com um aceno convicto.
—Obviamente! Será difícil encontrar alguém a sua altura Tylia.
—Tão pequeno, mas tão galante. Mas não se case pela beleza do rosto ou do corpo, procure a beleza da alma. Essas as pessoas não conseguem esconder por muito tempo. Diferente do rosto que pode permanecer por anos belo, mas a alma é podre...
—Ethos diz que eu devo escolher uma garota que...
—Esqueça o que Ethos diz sobre mulheres! A diversão de nosso irmão é conquista-las para alimentar seu ego. _ela revirou os olhos, e ri voltando meus olhos para frente.
—Papai diz que Ethos não precisa de muito para cair nas graças das mulheres.
—Bom, realmente Ethos é muito bonito. Mas o temperamento radical de nosso irmão é um de seus graves defeitos. Convites para bailes chegam o tempo todo, as donzelas querem loucamente que aquele brutamontes olhe para elas e as leve para a cama. _ela cobriu a boca abruptamente, seus olhos arregalaram _Desculpe Lucien! Às vezes me esqueço de que é apenas uma criança.
—Ah tudo bem! _dei de ombros_ Nossos irmãos dizem coisas piores e se esquecem que tenho apenas oito anos. Eu sei as coisas que acontecem entre um homem e uma mulher, e o fruto disso. É o preço a se pagar por ser o caçula..._sussurrei em desgosto e Tylia riu fogosa. Parei diante da armadura no corredor e troquei as espadas._Sabe, quando você se casar, posso ir visita-la com frequência?
—Por favor, não me abandone à solidão caso eu tenha de ir para longe de nossa casa. _ela sussurrou parecendo insegura com isso.
—Posso ir morar com você se isso for te deixar feliz.
Ela afagou meus cabelos mais uma vez, aquela sensação boa de seus dedos longos e delicados esfregando meu couro cabeludo me fazia suspirar pela paz que era trazido. Às vezes, quando estávamos sentados próximos, acabava dormindo com sua pequena mania de afagar minha cabeça, e só acordava quando Ethos me dava um cutucão.___________________________________________
Uma breve previa antes do lançamento oficial ano que vem ✨
Espero que gostem.
Boa leitura!
❤️
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O Rei de Ruínas
Historical FictionLucien, o décimo segundo príncipe do reino de Midorina, tinha apenas oito anos quando presenciou a queda de seu reino e a morte de toda sua família. Aquilo ficaria marcado em sua mente e coração pelos anos seguintes enquanto o príncipe lutaria com u...