Capítulo 04: Uma vida que não me pertence

108 26 176
                                    

Às vezes a vida pode ter muitos caminhos a percorrer, mas cabe a nós escolhermos apenas um para seguir. Esses caminhos podem ter inúmeras faces, seja ele um caminho repleto de bondade ou maldade, depende da escolha.

O caminho que eu escolhi trilhar para minha vida é cheio de espinhos. Espinhos afiados que me rasgam cada vez que eu sigo em frente. Eu não sinto dor, por mais que eu me machuque, até porque a dor física é insignificante para mim, eu não me importo de me ferir.

Naquele momento do acidente, eu me vi obrigada a escolher um caminho entre tantos outros e, mesmo não sendo do tipo impulsiva e irracional, acabei optando por um caminho diferente do habitual. O que resultou nesse desastre de agora.

— Como eu pude ser tão imprudente?!?

No presente...
Sala de consulta.

Depois de processar tudo o que estava acontecendo com mais calma, aquele senhor que havia saído volta acompanhado de um médico responsável pela minha saúde e começa a fazer uma série de check-ups comigo. Mas, aparentemente, a pessoa que deveria tirar as dúvidas de todos é quem parece mais confuso e perdido aqui.

— Ahm... certo, vamos começar com o básico. Qual é o seu nome? Quantos anos tem? E qual seu tipo sanguíneo? — pergunta o médico.

— Eu não faço a menor ideia! — respondo de forma rápida e curta, o que deixa todos preocupados e inquietos.

— Okay, qual o nome dos seus pais?

— Se eu nem sei o meu próprio nome, por que acha que eu saberia isso? — Assim que eu acabo de falar, todos à minha volta parecem extremamente perplexos com a minha resposta.

— C-certo... — nervoso, o médico se afasta de mim e se aproxima do senhor.

— Então, doutor, a minha filha está bem? — pergunta o homem apreensivo.

— Bem, sr. Cristian, ao julgar pelo que aconteceu, parece que a srta. Chloe está sofrendo de amnésia devido ao trauma que teve depois do acidente. Isso pode causar confusão no cérebro, como a incapacidade de se auto-identificar, que é o caso da Chloe — diz o médico.

— E quanto ao seu estado físico? — pergunta Elias.

— Hmm, aparentemente não há nada de errado com seu corpo fisicamente, mas, por via das dúvidas, vamos fazer alguns exames e ficar de olho para ver se é um caso de TEPT — termina o médico, tentando manter seu profissionalismo.

— E as minhas pernas? Desde que eu acordei, elas não querem se mexer — pergunto.

— Ah, sobre isso, não precisa se preocupar, não é permanente. Como você ficou em coma por duas semanas, o seu corpo ainda está se recuperando da falta de movimento, mas com um pouco de exercícios elas vão estar novas em folha — diz o médico, um pouco menos tenso.

— Ela vai conseguir voltar à vida normal? — pergunta Jonathan.

— Acredito que, com bastante esforço e ajuda da família, ela possa voltar a ser como era antes do acidente — responde o médico.

Voltar a ser como era antes. Não sei se digo a verdade ou sigo alimentando essa ilusão que eles mesmos criaram sobre um final feliz que nunca vai acontecer, porque a Chloe que estou sendo agora nunca mais vai voltar.

Agora que estou no corpo daquela menina do acidente, a minha vida vai mudar drasticamente. Parece que vou ser forçada a me acostumar com tudo isso: uma nova vida, uma nova família, uma nova identidade. Tudo isso está vindo para mim de uma forma tão rápida que está difícil de acreditar.

— Quero voltar para o meu quarto. Podem me levar? — pergunto encarando os três.

— É claro! — diz Cristian, com um sorriso gentil.

Um Amor Além do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora