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— Se você contar que eu te trouxe aqui, Lucien, eu juro... Eu juro! Que você vai sofrer um "acidente" infeliz, e perderá a língua e as mãos.
   Meus olhos arregalaram, e olhei de esguelha para Ethos. Seu rosto era o retrato de um guerreiro que tinha jurado a seu inimigo a morte certa em um campo de batalha.
— Não vou contar.
— É sério, Lucien! – ele grunhiu irritadiço – Estou quebrando uma lei de nosso pai. Acho que mais alguém além dele, eu e os trabalhadores saberem o local das minas. 
Pisquei ainda confuso.
— Por que?
— Porque é estupidez ao mesmo tempo que sensato manter isso em segredo. Nossas riquezas estão naquelas minas, mas... Acho que mais alguém deveria saber! É isso! É só o que acho.
— Sempre me perguntei como as minas permaneceram em segredo todo esse tempo.
— Os mineradores recebem a mais por seu voto de silêncio. E aqueles que quebram o juramento são mortos.
— E como você faz para afastar os fuxicos a respeito delas quando alguém da com a língua entre os dentes.
Ethos ficou em silêncio de repente.
— Jogamos a culpa em alguém. Geralmente faço com que se espalhe histórias absurdas sobre um homem que ficou louco, ou que recebeu uma maldição... Então as pessoas não levam a sério os sussurros.
— Mas o que acontece alguém vier conferir?
— Dizemos que... Eles dizem que essa parte é amaldiçoada. Os guardas fazem os curiosos voltarem com o rabo entre as pernas.
— Puxa...– refleti piscando uma, duas vezes. – Isso também ajuda a proteger as minas de saqueadores, não é?– Ethos deixou um suspiro longo escapar enquanto seus ombros relaxaram – O que foi? 
— Estou aliviado! Afinal, seu cérebro de passarinho funciona!
  Arqueio o lábio superior o olhando baixo a cima com desgosto.
— Para sua informação, já tenho aulas de estratégia de guerra, e estratégias gerais com Sir Lionel.
— Uh, Lulu anda ocupado. – Ethos observou, com as sobrancelhas arqueadas em uma falsa surpresa.
  Balancei a cabeça cheio de irritação, sentindo meu rosto vermelho de raiva, enquanto resmungava inaudível.

***
    Meus olhos vagaram pelo interior da caverna mal iluminada por tochas. Era abafado e quente, quase sufocante. Estar de baixo dos pés de todos, descendo cada vez mais se fazia uma mistura de entusiasmo e angústia. Como os mineradores conseguiam suportar estar aqui por tanto tempo?
     Ethos que ia a frente, me olhou por cima do ombro, conferindo se eu ainda estava ali ou se já tinha me acovardado ou desviado para outro canto.
— Já estamos chegando. Vamos precisar caminhar por mais alguns minutos. Não se distraia! – Ele falou baixo, talvez com medo de que o teto instável acima de nós caísse em nossas cabeças.
    Com um murmúrio vindo do fundo de minha garganta em confirmação, continuamos seguindo o caminho. Não era estreito, mas parecia um verdadeiro labirinto pronto para nós engolir e nunca mais nos devolver à luz do sol.
   O som das picaretas começou a tinir em meus ouvidos junto de uma canção animada que me fez soltar uma risadinha. Bom, ela fazia sentido enquanto diziam :" eu sou um anão e estou cavando um buraco." Outra risada escapou, e ergui meus olhos para Ethos que estava me olhando de esguelha, meu peito tremeu com uma nova risada causada pela dele.
— Essa é a preferida deles.
Uma espécie de entusiasmo encheu meu corpo, Ethos de repente se encostou na parede, e sem entender, fiz o mesmo no lado oposto. Um dos mineradores passou, sujo de pó e suor, com as roupas surradas, levando pepitas e joias na dobra de sua camisa rasgada. Ele estagnou, olhando para nós e Ethos apontou para fora.
— Alteza...– ele fez a reverência com um aceno de cabeça, já que se curvar seria um problema se todas aquelas pedras caíssem. Os olhos dele vieram para mim sem entender sobre minha presença ali.
— Este é Lucian, Fell. Meu irmão mais novo. E ele vira as minas comigo vez ou outra. – Ethos comentou tranquilo, como se não tivesse medo de ser pego por nosso pai. Estaríamos muito encrencados se isso acontecesse.
    Porém, ninguém ousaria confrontar Ethos, não plebeus. Fell concordou com um aceno firme de compreensão, fazendo uma reverência para mim também do mesmo modo.
     Então o homem de quase quarenta anos, seguiu caminho para levar os achados. Ethos acenou para mim com a cabeça, e seguimos para mais a dentro. Eu me sentia explorando uma caverna misteriosa, ao som daquela canção engraçada e o som das pás e picaretas batendo na rocha.

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