0. Prólogo

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SOFIA HUGHES

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SOFIA HUGHES

Aszria, 1539

     Tempestades eram acontecimentos esperados no verão de Egline, ainda assim nunca haviam visto nenhuma como aquela. Relâmpagos cortavam a noite. Iluminavam momentaneamente as nuvens carregadas que cobriam o céu noturno.

A chuva despencando e batendo contra o vidro das janelas era forte e incessante. Tão alta que Aileen, a babá da família, tinha de repetir aos gritos as ordens da parteira. Não importa para quem sejam — as criadas ou a sua senhora — deveria repetir para que fosse ouvida acima do som da tempestade. 

Acima dos gritos da senhora da casa, deitada no centro da grande cama de dossel, amassando o lençol entre seus dedos. Os fios loiros colados com suor no rosto pequeno, corado pelo esforço e abatido pelo parto longo e difícil. 

Os olhos azuis e cansados ficaram repletos de alívio quando o choro de criança invadiu o cômodo. Forte e alto. Aileen não assistiu há tantos partos. Mas dentre os poucos que acompanhou, ouviu dizer que um choro como esse era bom sinal. Significava que o bebê era saudável e os bebês saudáveis tinham mais chances de sobreviver aos primeiros meses. Primeiros anos. E de chegar à idade adulta. 

— É uma menina. — A parteira anuncia.

Coloca uma mão atrás do pescoço, a outra no final das costas e ergue a criança no alto. O Dr. Arber se aproxima para confirmar o sexo da criança. Uma menininha com cabelos dourados como o sol e olhos azuis da cor do céu. 

Tão parecida com a Senhora Sofia, Aileen pensou, fascinada, enquanto seguia a parteira que levava a jovem senhorita consigo. Ficou como um falcão ao lado dela, observando enquanto a bebê era limpa, examinada e vestida. 

Quando terminou, Aileen a enrolou na manta que fora tecida especialmente para ela. Encantada com as bochechas coradas e as mãozinhas pequenas enquanto entregava a criança para sua mãe. 

Assim que viu a filha, Sofia sorriu. Suspirou aliviada ao ver que seu bebê, era um bebê bonito. A possibilidade de uma criança feia a atormentou durante toda sua gravidez. O medo a guiava quase todos os dias até a Igreja de Egline. 

Mesmo quando os pés estavam tão inchados que caminhar era uma tarefa difícil. Quando suas costas doíam tanto que ela temia que pudessem quebrar a qualquer momento. Sofia não faltará nem mesmo um dia. Aparecia toda manhã, no mesmo horário. Nunca foi religiosa como a mãe, mas seu desespero a fez tentar tudo que estava a seu alcance.

Aparecia toda manhã, no mesmo horário. Com um véu branco rendado sobre a cabeça e o terço enrolado entre os dedos longos, rezava de olhos fechados por horas. Rezava para ter um bebê bonito e para que, se o bebê fosse bonito, também fosse saudável. E mesmo que não fosse saudável, tudo bem, contando que fosse bonito e chegasse à idade adulta. 

Também rezava para que se o bebê fosse feio, morresse ainda na infância. Os Blackwood tinham dinheiro, poderiam contratar os melhores médicos para cuidar da saúde da criança, mas a beleza era uma coisa diferente. Ou você tinha, ou não tinha. E aqueles que não tinham dificilmente chegavam a algum lugar. Ainda mais sem um título.

A beleza passada de geração em geração foi o que trouxe os Hughes à posição atual. De uma família pobre do extremo oeste do condado — que mal tinha o que comer — para o centro da sociedade de Egline. 

Os Hughes não tinham dinheiro, a beleza era sua moeda de troca. E Sofia sabia muito bem que se seu bebê nascesse sem beleza, era melhor que morresse antes que entendesse o impacto que isso teria em sua vida. Era o destino mais nobre que a criança poderia ter. 

Quanto a ela, bom, era jovem ainda, poderia ter outros filhos. Se ela e Gerard não fossem uma boa combinação, poderia achar outra pessoa sem que ele soubesse. Alguém com quem tenha mais harmonia, assim seus bebês nasceriam com a beleza necessária para sobreviver nesse mundo.

Mas ao olhar a criança em seus braços, ficou aliviada. Seus planos se mostraram desnecessários. Sua mãe dizia que era preciso esperar alguns meses até ter certeza, mas Sofia simplesmente sabia. Sua filha herdou o que há de melhor nela e em Gerard. E com o dinheiro e a influência dos Blackwood, os Hughes poderiam chegar ainda mais longe.

— O Senhor Blackwood estará aqui em breve, estão tendo problemas devido à tempestade. — Aileen avisou, tirando Sofia de seus pensamentos. — A senhora já escolheu um nome?

Sofia observou a bebê em seus braços. 

— Eleanor. — revelou após um tempo. — Eleanor Amélia Blackwood.

Ignorou os elogios das criadas sobre o nome escolhido e focou em sua bebê. Sua filha. Daria a ela o que há de melhor nesse mundo. Ensinaria a ela tudo o que sabe sobre as pessoas, a vida e, principalmente, sobre o amor. A criaria para fazer jus ao próprio nome, para ser a luz mais brilhante em todo esse reino.

Para que assim, um dia, toda Aszria estivesse na palma de sua mão.

Para que assim, um dia, toda Aszria estivesse na palma de sua mão

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Oi, oi, oi. Bem-vindos a Cruel o pequeno conto da nossa tão odiada (talvez um pouco amada?), Eleanor. Fora esse prólogo os pontos de vista serão sempre dela, então vocês vão entender em primeira mão como ela pensa!

E sim, teremos cenas polêmicas de Vilã aqui, pelo ponto de vista de Eleanor. Me digam o que acharam do capítulo, estou ansiosa para saber!

Beijinhos, até o próximo ❤️

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