looping é uma repetição automática de ocorrências, o velho e conhecido andar em círculos.23 de setembro de 2023.
- Tia, a senhora você conseguiu - escuto minha sobrinha Camille. - Venha, está passando na TV - Sigo a mulher de 35 anos de cabelos brancos, eu já sabia o que ela iria falar, não seria a primeira vez.
Todos estavam reunidos na grande sala, felizes pela minha vitória, escuto todos falando "parabéns" é apenas dou um sorriso apático e agradeço.
"Madeline Usher, a primeira mulher a criar um sistema artificial de funções autônomas."
A notícia da TV era a mesma, a foto da notícia era mesma, tudo a mesma coisa. Eu deveria estar feliz, e eu estaria se fosse a um tempo atrás, mas esse looping não acaba, é a mesma coisa, as mesmas pessoas, o mesmo tudo. Olho para janela e lá está o corvo, me esperando, já sei a cena dos próximos capítulos, para sempre e sempre.
Agradeço a todos por estarem felizes, a família que meu irmão construiu é realmente linda, e eu os amo, porém estava exausta daquela situação.
Senti meus olhos lacrimejando, apenas limpei eles e me retirei da sala, fui para o quintal e sentei em uma cadeira, acendi meu cigarro e peguei um pouco do conhaque que sempre deixava ali naquela mesinha ao lado das cadeiras.
Eu sempre construía tudo, e via sumir tudo do dia para noite, demorava anos, e sumia em segundos, isso era tão sufocante, estava cansada, eu queria ter falado não, mas como eu ia saber que aquela mulher era o Diabo em pessoa, mas se eu pudesse voltar atrás eu mudaria tudo, e lutaria sozinha pelos meus interesses.
- Chorando novamente pelo leite derramado, minha Cleópatra? - Lá estava ela, a mulher mais linda que meus olhos já viram, com o seu lindo sorriso, como o Diabo é tão lindo, bem que minha mãe falava que o Mal é atraente.
- Verna, o que te traz aqui uma hora dessa, ainda não fui dormir - Dei um sorriso amarelado.
- Você é a minha favorita de todas, fico todo momento ansiosa para poder te ver novamente naquele bar - Ela diz se sentando no meu lado e pegando um dos meus cigarros.
Ela era linda, sua beleza era surreal, cada detalhe era perfeito como se fosse desenhada pelo melhor pintor do mundo. Os cabelos pretos levemente cacheados caídos no seu ombro, se eu não soubesse quem ela é, eu com toda certeza estaria feliz ao estar ao lado de uma deusa daquela, mas sempre que ela vinha, tinha um motivo, e o motivo era reinicia a minha vida novamente para 1979.
- Se eu sou sua favorita, você deveria deixar ...
- Eu não quebro contratos Madeline - Ela fala me cortando - Eu fui bem clara naquele 31 de dezembro de 1979, e você aceitou, a imortalidade está aí, você não envelhece desde então, você tem todo o dinheiro do mundo, suas escolhas. - Ela para e da uma tragada no cigarro e me olha bem no fundo dos meus olhos - Toda escolha tem consequências Madeline.
- Eu tinha que tentar - Dei uma risada - Vai que seu amor por mim fizesse você ter um pouquinho de bondade nesse seu coração.
- Você sabe que isso de amor não existe para mim, eu só fico impressionada com você, e como você é. - Ela da uma leve risada - Quem você era antes de me encontrar me fascina, e quem você poderia ter sido, me deixa triste.
- Posso saber o motivo?
- Você sabe o teu destino, então não se envolve emocionalmente com ninguém, não tem nada humano mais aí dentro - Um soco poderia doer menos, porém apenas sorri sem mostrar os dentes e concordei - O que me deixa realmente intrigada, quem nem na sua primeira vida, se assim podemos dizer, você não se apaixonou, isso mostra o quão grande é a sua ambição - Xeque mate, ela podia ser o diabo, mas ela nunca entenderia o porque eu nunca amei outra pessoa.
- Ainda bem que você não lê mentes né - falei de forma irônica.
- Eu leio, eu sei de tudo, minha Deusa. - Ela nota a minha cara de confusa e da uma risada - A sua cabeça é tão nublada que nem você mesma sabe o que se passa aí dentro, não sou eu que irei te falar, ou explicar, você tem todo tempo do mundo para entender isso.
Ela dá um última tragada no cigarro e se levanta andando em minha direção.
- Estou ansiosa para ver você mais tarde Madeline - Ela se inclina e da um beijo em minha testa que faz com que eu sinta algo formigar em meu corpo - Até daqui a pouco, minha Cleópatra.
E some.
Penso as vezes se fosse em outra situação, se ela não fosse um diabo, talvez eu poderia....não, não poderia nada. Preciso parar de beber, isso sim.
Coloco o copo vazio no banquinho e me levanto, irei voltar para 1979, irei ver ela novamente.
Antes de ir para o quarto passo na sala, vejo toda q minha família, todos sorrindo e felizes.
- Boa noite. - Falei e não aguardei a resposta, apenas me retirei.
Arrumei a minha cama, e me deitei, nem pensei em trocar de roupa, pois sabia que não iria acordar ali, independente se eu dormisse ou não, eu iria acordar do nada entrando naquele bar com o meu irmão. Então apenas respeitei fundo e fechei meus olhos.
- Boa noite minha Cleópatra - Escuto a voz calma de Verna e logo em seguida o barulho do corvo saindo por minha janela.
31 de dezembro de 1979
- Vamos entrar nesse bar, e aí fazemos como você falou? - Roderick fala de forma desesperada e ofegante. - Madeline, tá me escutando?
De volta aquela noite, a aquele bar, a aquela vida. O que eu poderia fazer diferente dessa vez?
- Sim, entre ai, vamos fazer as pessoas lembrarem da gente.
Entramos no bar, e lá estava ela, com o cabelo curto, secando um copo de uísque, pronta para me servir, ando em sua direção, enquanto apenas vejo meu irmão avisando que iria ao banheiro lavar suas mãos.
- Olá minha querida, bom te ver novamente - Ela abre um belo sorriso.
E como todas as vezes eu caio nos encantos dela, e esqueço a minha raiva.
Maldito seja o diabo.
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Mors Daemonium
HorrorQuando o Diabo lhe fizesse uma proposta, você aceitaria? Escolhas bobas, ou escolhas horríveis, podem mudar o nosso destino. Madeline sempre soube disso, porém a sua ambição falava mais alto e todas as escolhas a levaram de volta para aquele bar, em...