Conversa

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POV REBECCA

Quando a porta bateu e ouvi seus passos, se afastando da porta do meu apartamento desabei no sofá enquanto procurava em meio a tremedeira, o contato de Nam. Ela não demorou a atender:

- Eu estou bem, Becky, ele foi embora. Como você está, o que aconteceu?

- Ele te machucou, Nam? Me fale a verdade! -  perguntei ao estranhar o fato de ela não parecer tão assustada naquele momento.

- Não, ele foi cordial, eu juro! Queria as chaves do seu apartamento, pensei que pudesse fazer algo quando me recusei a entregar, mas ele apenas me amarrou na cadeira, levou todas as chaves para alguém, provavelmente para Sam, e depois ficou sentado na minha frente com a arma na mão. Só me explicou que a Sam conversaria com você e pediu pra que eu colaborasse, depois me desamarrou e foi embora. O resto você já sabe!

Cogitei encontrar Nam mas ela realmente estava tranquila com tudo o que havia acontecido, aparentemente a intenção de Samanun foi apenas usa-la para entrar no meu apartamento e depois como escudo para que eu não fizesse nada contra ela. Mesmo assim, havia deixado uma marca gigante no rosto dela, resultado de um soco bem dado. 

Passei, então, a reviver o que acabara de acontecer. Após ter me feito sentar para ouvi-la, Samanun havia buscado gelo em minha geladeira, já aproveitando para retirar a garrafa de whisky. Ela já sabia onde encontrar os copos, obviamente havia revistado toda minha casa antes que eu chegasse. Caminhou um minha direção, depositando a dose nas minhas mãos e sentou ao meu lado. O cheiro do seu perfume tomando o ambiente, fico me perguntando quem é que passa perfume para conversar com uma inimiga?

A primeira coisa dita por ela foi que ia se entregar para mim. Vendo minha surpresa, ela completou que não seria naquele momento, que tinha "negócios" a finalizar. 

- Roubos, você diz? Furtos? Estelionatos? Negócios associados com tráfico de gente? - Questionei alterada.

Em um acesso de fúria, Samanun jogou o copo de whisky contra minha parede, despedaçando o vidro que se espalhou por toda a sala.

- NUNCA, JAMAIS ME ASSOCIE A ISSO, REBECCA! VOCÊ ESTÁ ME ENTENDENDO?! ESTÁ?! - Ela disse, arrumando os cabelos para trás da orelha e passando a andar impacientemente, numa tentativa de retomar a calma. Decidi que a partir daí eu somente a ouviria.

- Eu vou me entregar a você. Mas você não pode falar sobre este nosso encontro à polícia. E você também não pode mais fazer a loucura de seguir Yolanda, está entendendo? Se o seu objetivo era me encontrar, eu estou aqui. Deixe de ser estúpida e inconsequente antes que matem você. Fazem dois anos que eu não te vejo, mas sei o que faz, e sei o quanto me prender te interessa, então é a você que irei me entregar quando finalizar o que tenho a fazer. Eu lhe dou minha palavra.

Ela estendeu a mão deixando um endereço anotado em um pedaço de papel sobre a mesinha em minha frente, eu a encarava com desconfiança, seus olhos exibiam pupilas dilatadas, evidenciando a seriedade do tom. 

- ...Como uma forma de demonstrar minha colaboração a você, vou deixar um endereço de interesse aqui. Não vá sozinha, vá com a polícia. E diga que este endereço foi encontrado em sua caixa de correios.

Foi depois disso que ela levantou, ajustou suas roupas, suspirou e simplesmente saiu, pedindo pra que eu não a seguisse pelo corredor e anunciando que assim que estivesse longe o suficiente, Nam seria solta. 

Havia algo de muito intrigante na reação de Samanun quando citei a organização de tráfico humano investigada por Nop, ela havia tido uma explosão, havia perdido o controle ali, na minha frente. Eu havia a desestabilizado, havia encontrado o seu "calcanhar de Aquiles", seu ponto fraco. Eu estava cansada, com raiva e agitada, não conseguia mais pensar direito. Pesquisando o endereço deixado por ela, se tratava de uma fábrica de cosméticos num bairro no subúrbio da cidade. Eu não podia simplesmente chegar nesse lugar com a polícia assim, sem saber do que se tratava. Por isso, decidi que de manhã, antes mesmo de ir para a delegacia, verificaria o que acontece por lá.

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POV SAMANUN

Decidi, depois de meia hora, quebrar o silêncio absoluto que havia se instalado no carro enquanto dirigíamos de volta à fazenda. Heng ficava quieto sempre que discordava drasticamente de alguma decisão minha. E dessa vez meu amigo estava mais do que certo. O risco que eu havia assumido era muito maior do que qualquer ganho com aquele encontro com Rebecca. E o motivo.... o motivo estava óbvio, claro, transparente.

- Eu sei o que você quer dizer, Heng. E quero que saiba que estou consciente disso. - Falei buscando seus olhos. 

- Não, não está, Sam. - Disse ele, sem tirar os olhos da estrada. - Você levou anos da sua vida para planejar tudo isso. Se colocou em risco muitas vezes para manter o plano intacto. Nós cometemos muitos crimes porque conseguiríamos, com isso, alcançar o objetivo principal. Você me fez entender quão grande isso é. Mas agora... eu sinto que você está prestes a jogar tudo no lixo, por conta de uma obsessão, um jogo de ego entre você e uma policial que não vai pensar duas vezes antes de te prender ou matar! Ela poderia ter feito isso hoje, Sam! Hoje! - Enquanto falava, Heng gesticulava mesmo sem me olhar nos olhos. Eu entendia o que ele estava dizendo, havia saído dos trilhos algumas vezes por causa dela, havia perdido a razão.

- Eu não consigo evitar... - Respirei fundo. - Isso não é um jogo para mim, Heng. Eu sei dos riscos. Eu não compreendo minha afeição por Rebecca, mas eu... eu não consigo evitar. Só de pensar que ela pode estar em risco, eu enlouqueço. - Desabafei de forma honesta. - E agora, o plano vai ter que ser realinhado, eu não posso voltar atrás em relação à conversa que tive com ela hoje. E eu espero que você entenda, e que fique comigo, porque você sabe que nossa relação é maior do que o fato de você trabalhar para mim. Você é meu amigo. Apesar disso, você está livre pra partir se quiser...

- Eu não irei a lugar algum Sam, você sabe que não. - Respondeu ele, baixinho.

- Então encerremos essa conversa por aqui. As coisas são como são. - Finalizei.


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⏰ Última atualização: Nov 22, 2023 ⏰

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